— Droga, Bruna! Mil vezes droga! — Mario está irritado como nunca.
—
Calma, Mario. Tenha calma! — Elizabeth tentava aplacar sua ira.
Era
final da tarde de domingo e a garota estava sentada diante dos pais.
—
Como eu vou ter calma? Como? — Ele andava de um lado para o outro pensando e
repensando. — O que você acha que está fazendo? Que obsessão é essa?
A
garota olhou para o pai, respondendo:
— Eu
não o aceito em nossa família.
Mario parou diante dela, extremamente irritado.
—
Como é que é?
—
Isso mesmo que o senhor ouviu. Não quero esse miserável no seio de nossa
família e nem perto de nós.
—
Bruna, por favor! De onde surgiu esse preconceito? Nós nunca fomos assim.
—
Ele é pobre, fedido, é um lixo! — Ela nem sabia ao certo o que falava.
—
Bruna! — O pai a agarrou pelos braços. — Você está ouvindo o que está falando?
Como é que você julga as pessoas assim? Quem é você pra fazer isso? De hoje pra
amanhã as coisas mudam. E a felicidade da sua irmã? Onde fica nessa história?
Hã?
Quando
ela pensou em responder, o barulho de um motor cessou bem na frente da
residência. Em segundos, Rainen e Renata entraram pela porta e se juntaram aos
três.
—
Que bom que estão todos reunidos, assim fica mais fácil o anúncio — começou
Rainen.
—
Anúncio? — Elizabeth pousou a mão sobre o peito.
—
Conversando com a Renata sobre os últimos acontecimentos, nós decidimos nos
casar, mas… — Ele fez uma pausa olhando para Bruna. — Nós vamos embora da
cidade.
A
notícia caiu como uma bomba sobre a família.
—
Filha! Você concordou com isso? — Elizabeth a abraçou chorando.
—
Não penso mais em mim, minha mãe. Há muito tempo somos eu e ele.
—
Espere, Rainen. Reconsidere, por favor!
—
Reconsiderar o que, Mario? Reconsiderar o quê? Vou esperar que um dia a polícia
encontre drogas no meu carro? Ou que eu seja acusado de praticar algum crime
contra a vida? Já pensou que pode acontecer algum acidente e que eu posso morrer?
Foram
palavras duras para os presentes.
—
Imbecil! — Bruna xingou.
Puto
da vida, Rainen não deixou barato.
—
Cala a sua boca, sua escrotinha mimada! — E, enfurecido, se aproximou dela. —
Cala a sua boca, porque você teve muita sorte por eu não te arrebentar um
processo nas costas por injúria e difamação, e com o testemunho da sua
coleguinha Valéria. Ah, minha cara! Você pegaria facilmente 5 anos de cadeia.
Então, para o seu bem, cala a boca! — urrou na cara de Bruna.
Todos
ficaram espantados com o que viram e ouviram, mas tiveram a certeza de que
Rainen estava consciente do que falava, por ser a vítima de um complô.
—
Lamento, meu rapaz. Lamento mesmo! — Mario tinha a voz pesarosa. — Sempre quis
minhas filhas perto de mim e essa casa cheia de netos aos finais de semana, mas
parece que isso agora era só um sonho…
—
Não fique assim, pai. Vocês serão bem recebidos onde estivermos.
— E
vocês já tem ideia de local?
—
Não, dona Elizabeth. Talvez uma cidade ao norte do vale.
—
Mas, daquele lado, a cidade mais próxima está a pelo menos 300 quilômetros de
distância.
— Não é nada concreto, Mario. Ainda tenho muitos compromissos por aqui e a Renata tem que terminar a faculdade. Então ainda é um esboço do que planejamos.
Mal acabou de falar e Bruna passou correndo, subiu a escada e se trancou no quarto. Chorou bastante, abraçada às coisas que guardava, e só depois teve um sono, mas não tranquilo.
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