Ardes - Capítulo 083

A terça-feira foi infernal. O encontro entre o proprietário da DFG Transportadora e os representantes da Lemaw foi marcado para o período da manhã, mas, devido a contratempos, foi remarcado para o início da tarde. Havia entre os especialistas da Lemaw a estimativa de que levariam três encontros para arrematar a empresa, e não foi diferente.

Da DFG estavam presentes o proprietário, Sr. Domingues, e os advogados Evandro e Lucas. Os representantes da Lemaw eram: Margareth, gerente de negócios; Júlio e Paolo, advogados; Bruna, assistente.

Às 14 horas, teve início com a oferta feita pela Lemaw. Daí para frente, os advogados da DFG expuseram os pontos positivos da transportadora tentando elevar o valor, enquanto os representantes da Lemaw tentavam reduzi-lo.

— Os caminhões de vocês possuem motor DN-1 de frequente manutenção.

— A empresa iniciou a renovação da frota há 6 meses e isso está em fase de ajuste — expôs Lucas.

— Essa renovação, se não for bem elaborada, pode comprometer o capital a médio e a longo prazo — Margareth foi taxativa.

— Até entendo você, Margareth, mas isso não justifica vocês fazerem uma proposta 40% abaixo do preço de mercado — reconheceu Evandro, advogado da DFG. — Considere a nossa abrangência, considere a nossa história. Na nossa carteira, temos clientes importantes.

— Entendo e considero, Sr. Evandro. Contudo a empresa viverá de sua eficiência e da sua lucratividade. Abrangência e história são fatores que agregam, mas não regem — rebateu pontualmente.

O proprietário acompanhava a discussão entre os representantes, que teve uma pausa de 10 minutos para um café. Era quase um parada técnica, onde os grupos discutiam entre si parte do que foi abordado e se a estratégia estava funcionando ou não.

— São osso duro — pontuou Paolo.

— Mas ossos duros também se quebram — disse Margareth —, e eu até sei como.

Bruna a observava com curiosidade, pois sabia que, na maioria das negociações, participavam apenas os donos e os advogados, logo, Margareth não estava ali à toa.

No outro grupo, o proprietário parecia passar instruções contundentes aos advogados, que ouviam meneando a cabeça positivamente. Com o tempo encerrado, todos retornaram para sala.

— Senhores — retomou Paolo —, a Lemaw me autorizou a mudar a oferta.

E estendeu o envelope sobre a mesa. Os advogados o pegaram e leram as informações no pedaço de papel. Ele arregalou os olhos, puxando uma calculadora e fazendo as contas.

— Redução de 10% em uma proposta que já era considerada baixa? — Lucas estava estarrecido. — Isso é alguma brincadeira?

— Eu herdei um costume interessante do meu pai — iniciou Margareth. — Lá em casa, gostamos de ouvir rádio. Sendo assim, tanto no carro quanto aqui na empresa, deixo o aparelho ligado em estações com noticiários. Costume, não é?!

O Sr. Domingues permaneceu calado, mas se mexeu na cadeira, como se tivesse pouco confortável. A garota prosseguiu:

— Hoje pela manhã, uma notícia me chamou a atenção: o Governo Federal lançou um pacote de mobilidade que privilegiará os transportes aeroviário, hidroviário e ferroviário. Achei maravilhoso saber que o Governo trabalha de forma planejada, mas senti que faltava algo nessa informação. Chegando ao trabalho, solicitei que a secretária fizesse uma ligação para o Ministério dos Transportes, e lá me explicaram que todos esses modais de transporte receberiam incentivo do Governo… menos o rodoviário. Até onde sei, essa é a área de maior atuação da sua empresa.

— Confesso que…

— Não! Por favor — pediu Margareth —, não precisa falar nada. A oferta está em suas mãos, e, considerando o quadro da sua empresa, é uma oferta bem generosa. Agora a questão é pegar ou largar, e essa parte, definitivamente, não é comigo. Eu os deixo na companhia de Júlio, Paolo e Bruna.

Assim que se levantou, todos também o fizeram.

— Mas é claro, senhorita.

— Passar bem — ela se despediu.

Acompanhando a reunião através de câmeras, no conforto de sua sala, Marco vibrou:

— Pegamos eles!

Bruna continha sua euforia diante da atuação.

“Impressionante!”

Os advogados, mais acostumados com a situação, deram continuidade:

— E então? Aceitam?

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