A terça-feira foi infernal. O encontro entre o proprietário da DFG Transportadora
e os representantes da Lemaw foi marcado para o período da manhã, mas, devido a
contratempos, foi remarcado para o início da tarde. Havia entre os
especialistas da Lemaw a estimativa de que levariam três encontros para
arrematar a empresa, e não foi diferente.
Da
DFG estavam presentes o proprietário, Sr. Domingues, e os advogados Evandro e
Lucas. Os representantes da Lemaw eram: Margareth, gerente de negócios; Júlio e
Paolo, advogados; Bruna, assistente.
Às
14 horas, teve início com a oferta feita pela Lemaw. Daí para frente, os
advogados da DFG expuseram os pontos positivos da transportadora tentando
elevar o valor, enquanto os representantes da Lemaw tentavam reduzi-lo.
— Os
caminhões de vocês possuem motor DN-1 de frequente manutenção.
— A
empresa iniciou a renovação da frota há 6 meses e isso está em fase de ajuste —
expôs Lucas.
— Essa renovação, se não for bem elaborada, pode comprometer o capital a médio e a longo prazo — Margareth foi taxativa.
—
Até entendo você, Margareth, mas isso não justifica vocês fazerem uma proposta
40% abaixo do preço de mercado — reconheceu Evandro, advogado da DFG. —
Considere a nossa abrangência, considere a nossa história. Na nossa carteira,
temos clientes importantes.
—
Entendo e considero, Sr. Evandro. Contudo a empresa viverá de sua eficiência e
da sua lucratividade. Abrangência e história são fatores que agregam, mas não
regem — rebateu pontualmente.
O
proprietário acompanhava a discussão entre os representantes, que teve uma
pausa de 10 minutos para um café. Era quase um parada técnica, onde os grupos discutiam entre si parte do que foi
abordado e se a estratégia estava funcionando ou não.
—
São osso duro — pontuou Paolo.
—
Mas ossos duros também se quebram — disse Margareth —, e eu até sei como.
Bruna
a observava com curiosidade, pois sabia que, na maioria das negociações,
participavam apenas os donos e os advogados, logo, Margareth não estava ali à
toa.
No
outro grupo, o proprietário parecia passar instruções contundentes aos
advogados, que ouviam meneando a cabeça positivamente. Com o tempo encerrado,
todos retornaram para sala.
—
Senhores — retomou Paolo —, a Lemaw me autorizou a mudar a oferta.
E
estendeu o envelope sobre a mesa. Os advogados o pegaram e leram as informações
no pedaço de papel. Ele arregalou os olhos, puxando uma calculadora e fazendo
as contas.
—
Redução de 10% em uma proposta que já era considerada baixa? — Lucas estava
estarrecido. — Isso é alguma brincadeira?
— Eu
herdei um costume interessante do meu pai — iniciou Margareth. — Lá em casa,
gostamos de ouvir rádio. Sendo assim, tanto no carro quanto aqui na empresa,
deixo o aparelho ligado em estações com noticiários. Costume, não é?!
O
Sr. Domingues permaneceu calado, mas se mexeu na cadeira, como se tivesse pouco
confortável. A garota prosseguiu:
—
Hoje pela manhã, uma notícia me chamou a atenção: o Governo Federal lançou um
pacote de mobilidade que privilegiará os transportes aeroviário, hidroviário e
ferroviário. Achei maravilhoso saber que o Governo trabalha de forma planejada,
mas senti que faltava algo nessa informação. Chegando ao trabalho, solicitei
que a secretária fizesse uma ligação para o Ministério dos Transportes, e lá me
explicaram que todos esses modais de transporte receberiam incentivo do
Governo… menos o rodoviário. Até onde sei, essa é a área de maior atuação da
sua empresa.
—
Confesso que…
—
Não! Por favor — pediu Margareth —, não precisa falar nada. A oferta está em
suas mãos, e, considerando o quadro da sua empresa, é uma oferta bem generosa.
Agora a questão é pegar ou largar, e
essa parte, definitivamente, não é comigo. Eu os deixo na companhia de Júlio,
Paolo e Bruna.
Assim
que se levantou, todos também o fizeram.
—
Mas é claro, senhorita.
— Passar
bem — ela se despediu.
Acompanhando
a reunião através de câmeras, no conforto de sua sala, Marco vibrou:
—
Pegamos eles!
Bruna
continha sua euforia diante da atuação.
“Impressionante!”
Os advogados, mais acostumados com a situação, deram continuidade:
— E então? Aceitam?
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