Quem
nem se deu conta daquele momento familiar foi Onofre. Passou o dia todo no bar
do Macaio, bebendo e jogando com o seu companheiro de copo.
—
Não te incomoda? — perguntou Badé, após uma bebericada.
—
Que eles tenham saído? — Onofre desviou o pensamento que estava na garrafa,
pela metade.
—
Não só isso, mas o fato de fazerem as coisas sem o incluírem.
—
Não muito. Também estou me divertindo.
—
Mas família… — Badé parecia ter algum conhecimento naquela área, contudo não se
aprofundou e concluiu o pensamento: — …Família é família.
—
Concordo! Só faço o possível para não me incomodarem.
— E
o trabalho? Você não volta mesmo?
— Pra lá? Nem se me chamarem. — Ele encheu os copos até a marca.
— E
como vai fazer para continuar na bebedeira?
—
Ah, vez ou outra faço serviços esporádicos.
Onofre
não iria mesmo revelar, e, caso realmente fosse preciso, trabalharia.
—
Entendo.
— E
você, Badé? Não trabalha? — O rumo da conversa atiçou o companheiro.
—
Não mais. Sou aposentado. Mas não recebo muito.
—
Aposentou novo assim? — espantou-se o amigo. — Além do mais, desde quando
bebedeira é motivo pra aposentar?
Ambos
riram.
— Eu
era bancário. Trabalhava no atendimento de caixa. Minha bebedeira foi
estimulada justamente pelo regime de trabalho quase escravo, com metas
inalcançáveis e assédio moral — Badé disse com pesar. — O tempo foi passando e
eu não conseguia mais me entregar àquilo. O pico foi uma crise nervosa que me
travou em pleno expediente, logo num dia de pagamento.
—
Nossa! E aí?
—
Fui afastado para tratamento, mas, nas avaliações, eles viram que eu não voltava para o eixo. Me encostaram e,
depois de 3 meses, fui aposentado. — Badé não gostava de falar daquela forma
com o amigo, mas achou necessário.
— Lamento, meu amigo! Mas vamos deixar esse assunto de lado. Estamos aqui para nos divertir. — E chamou o atendente — Macaio, nos sirva dois caldos de quiabo, por favor.
Às 17h30 daquela tarde de sábado, Onofre voltava para casa. Não queria encrencas para o seu lado.
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