Ardes - Capítulo 081



— Ára, sô! Ceis me deixa muito feliz com essa visita.

Rainen conseguiu convencer sua família e a de Renata a passarem o sábado na chácara de Jimmy.

— Também, o Rainen não parava de falar desse lugar. Eu já estava curioso — falou Mario.

— E eu? — perguntou Letícia, explicando: — Pensei até que ele quisesse vir morar aqui.

— Ah, eu sempre gostei de lugares assim. Me lembra a casa de minha avó e dos bons momentos da minha infância. — Elizabeth foi mais saudosa.

— Obrigada por nos convidar — Renata cochichou no ouvido do namorado.

— Não faria sentido estar aqui sem você.

E se abraçaram rindo.

— Mai isso faiz muito bem. I aqui é só tranquilidade — disse Geoconda, esposa de Jimmy. — Ocêis pódi ficá à vontade. Já tomaram café?

— Já sim, mas, como levantamos cedo, acho que precisaremos de um reforço.

— Intão vamo lá na cozinha — Jimmy e a esposa foram na frente.

Antes de chegarem, o cheiro do café se mostrou forte, além de outras coisas.

— O bôlo tá quase pronto, i os biscoitos vou descê pru óio agora.

Não teve um deles que não salivou, tanto pela informação quanto pelo cheiro.

— Vão si sirvindo.

Jimmy colocou sobre a mesa meia barra de requeijão. Ela devia ter mais de um quilo. Ao lado, a garrafa de café. Enquanto isso, Geoconda colocou oito biscoitos dentro do tacho com óleo quente. O frigir fazia um barulho gostoso para os presentes.

Elizabeth e Mario sentaram bem aconchegados um ao outro, compartilhando as pequenas sensações daquele lugar.

— Aqui é tão gostoso. — E a abraçou.

— Pena que Bruna não pôde vir. Não devia perder uma oportunidade dessas.

— Terá outras chances.

E não se aprofundaram no assunto.

Ao lado, o jovem casal não usava palavras, mas se entendia pelo olhar. Foi um instante em que se desgarraram do lugar e só enxergaram um ao outro. O sorriso leve, a temperatura morna dos corpos, o cheiro um do outro. Aquilo lhes aprofundava a cumplicidade, a devoção. Mas perceberam que Elizabeth tirou fotos daquele instante.

— Mãe…

— Ah, filha. Queria registrar esse momento. — Elizabeth olhava o visor da câmera. — Estão ótimas.

Rainen riu e comeu um pedaço de queijo.

— Jimmy, tudo certo para o churrasco?

— Churrasco? — Mario se animou.

— Churrasco! — Letícia respondeu. — Trouxemos a carne temperada.

— I a churrasquêra tá liberada. Comprei carvão antes di vim pra casa.

— Trouxemos algumas bebidas também. — E pediu: — Jimmy, tem uma geladeira onde possamos colocar.

— Mai é claru. Vô ti ajudá a discarregá.

Foram para fora, Renata junto.

— É um lugar lindo que você tem aqui — elogiou a garota.

— E ocê nem viu tudo. Tem uns pomares aqui perto. Jazin o Rainen ti leva lá.

— Legal! — a garota sorriu.

E após condicionarem tudo e deixarem a churrasqueira montada, o grupo foi para o pomar. A caminhada foi breve e rica em aspectos visuais.

— Aquilo ali é alho? — questionou Letícia.

— É sim. Ao lado, temos cebolinha e coentro — respondeu Elizabeth, que observava a horta. — Preciso de uma dessa em casa. Não sei como não pensei nisso antes.

— Agora que pensou, vamos fazer uma — ofereceu Mario.

Ao lado havia uma plantação com arvoredos bem parecidos.

— Mandioca?

— Como você sabe, Mario? Sempre foi criado na cidade.

— Lembrei agora de umas fotos que vi quando ainda estudava.

— Que memória excelente, hein?! — Elizabeth fez todos rirem.

— Tá me chamando de velho? — Ele riu junto.

— Claro que não, amor… mas não somos mais jovenzinhos.

Maduros, acho que se encaixa melhor.

E com esse esclarecimento, chegaram ao pomar.

— Não pensei que fosse tão grande — Renata se admirou. — Que fruta é essa?

— A amarelada? Pitomba.

— É gostosa?

Letícia pegou uma e retirou a casca. Dentro, um caroço revestido em uma espécie de creme. A mulher mordeu e sorveu.

— Essa está doce, levemente azeda.

O grupo se serviu de algumas.

— E ali? É caju?

— É sim! E vermelho assim… — Elizabeth mordeu e o caldo espirrou. — … está bem saboroso.

Letícia também pegou um.

— Vou querer uma manga! — Rainen correu escalando a árvore.

— Tire algumas, acho que podemos levar.

Mas a primeira ele comeu ainda lá em cima.

— Está deliciosa!

Em seguida, retirava-as e lançava-as para Mario, que as entregava a Renata.

— Tá bom, senão vamos ter que pagar para o Jimmy.

Riram novamente.

Caminharam por ali, encontrando uma mina de água, animais e muita vegetação, até que Jimmy se aproximou, chamando:

— Vamô, pessoar, já coloquei fogo no carvão, mais vô precisá de ajuda pra assar.

— Vamos sim!

E iniciaram o retorno.

— Vocês criam o que mais por aqui, Jimmy?

— Óia, dona Letícia, tenho umas cabeça di gado, uns porco, dois cavalo, as galinha…

— Essas eu vi — interrompeu Elizabeth, atenta à conversa.

— I umas cabra.

Ao final da fila, vinham Renata e Rainen.

— É uma boa criação…

Foi a última coisa que o casal ouviu Mario dizer, pois a garota segurou a mão do rapaz e o puxou para dentro do milharal. Este estava alto e os encobriu. Pararam próximo a uma cerca e, no silêncio da cumplicidade, se beijaram apaixonadamente.

— Minha vontade era tirar a sua calcinha e te amar aqui mesmo.

— Esse trabalho eu não te darei.

E puxou a mão dele para baixo de seu vestido, sentindo o imediato toque em sua parte íntima.

— Desde quando está sem calcinha?

Ela desabotoou e baixou o zíper do jeans de Rainen, deixando o membro aparecer.

— Vim lá de casa sem.

Abaixou-se e o colocou na boca, sorvendo com ímpeto.

O rapaz já não questionava as atitudes de Renata. Agora observava a voracidade dos movimentos e permanecia atento à aproximação de alguém. Foi obrigado a fazer ela parar, após quinze minutos.

— Precisamos ir — ele avisou.

— Não quero. — E ela dava continuidade.

— Não dá pra ficar mais. — E a suspendeu.

— Preciso de mais.

— Eu também!

E a levou pelo braço para próximo de uma árvore. Apoiando as costas da garota no tronco, ele se abaixou e puxou uma de suas pernas sobre seu ombro, deixando a parte íntima da garota exposta. Rainen deu uma boa lambida, sentindo o gosto azedo em sua língua. Em seguida, chupou, dando especial atenção ao clitóris. Em segundos, Renata gozou farta.

Ele se ergueu e a beijou.

— Quem sabe mais tarde conseguimos nos encontrar. — Ele se recompunha. — Agora me ajude com isso aqui.

Renata não o questionou, pois se sentia parcialmente satisfeita, e vinte minutos depois o casal chegava à residência, um pouco esbaforidos.

— Que boa ideia — disse Mario sorrindo. — Eu mesmo tinha me esquecido de apanhar milho.

— Ideia da Renata.

Jimmy teve um breve pensamento:

“Esse tempo todo pra catá doze espiguinha?”

E a tarde seguiu num ritmo fraterno e animado. Então o anfitrião contou alguns causos estranhos, engraçados e misteriosos:

— Aí eu tava nu meu fusca, subindo a serra pras banda di Assombradinho, i ali é uns 4 quilômetro de subida puxada mermo. I vi a carreta parada no acostamento. Ela tava carregada com 30 tonelada de vergaião de aço ZZ50.

Os ouvintes mantinham total atenção na narrativa.

— Pensei cumigo “Vô judá”. I falei cum o motorista: “Quê qui aconticeu?”.

Ele expricô: “O motô quebrô i ieu não tenho como subi essa ladeira.”. Eu matutei um pôco i falei: “Careci di si preocupa, não. Vô amarrá uma corda no pára-choque do meu fusca e rebocá o seu caminhão inté lá inriba”

Ele si ispantô na hora:

“Mais u carro do senhô, vai guentá?”

“Mais é craro qui vai, é só arrumá uma corda forte apoi, geralmenti, a corda arrebenta do lado mai fraco, nessi caso, o lado do caminhão.”

Depois di marrá bem marrado, ele entro cumigo nu fusca i eu arranquei. Passô uns minuto i ele falô:

“Senhô, qui chêro é esse?”. I eli tinha razão. Tava um chêro di fumaça, chêro di queimado. I continuô: “Será qui u motô vai guentá?”.

“Vai sim. Discurpa ieu, sô!”, ieu já tinha visto o probrema, “É qui nóis tava subindo cum o freio-di-mão puxado”.

Os homens na mesa se entreolharam e desataram a rir, menos Jimmy.

— Cêis num tão querditando, não?

Depois de um tempo, até ele mesmo riu.

E o dia seguiu assim, descontraído, animado e revelador. Sim, bastante revelador. Foi impressionante para os presentes observar como Rainen e Renata se davam tão bem. Eles se completavam na exata medida das situações, como na hora de cortar a carne, quando ele segurava o pesado espeto. Ou na arrumação dos talheres para ele. Os olhares. O silêncio. Uma pequena experiência onde puderam se conhecer melhor.

— Já está na hora — Mario disse com certo pesar na voz.

Eram 17h quando ele olhou para o horizonte, com o sol ainda quente.

— Tá cedo, pessoar — Geoconda gostou da visita.

— Quando ocêis quisé vortá, é só avisá.

— É que ainda temos coisas para organizar em casa, sem contar nossa filha que não pôde vir — justificou Elizabeth.

— Também não é bom dirigir à noite, ainda mais em rodovia.

— Isso aí é verdadi. Tem muita carreta nessas pista — confirmou Jimmy.

— Vamos com cuidado — avisou Mario.

— Vão cum Deus, pessoar! — se despediu o dono da chácara.

O grupo se organizou e pegou a estrada. Em menos de uma hora, entravam no condomínio.

— Obrigado pelo convite, Rainen. Fazia tempo que não me divertia tanto.

— Olha, matei a saudade do meu tempo de infância. — Elizabeth estava supercontente. — Ainda mais com esse saco de polvilho que a Geoconda me deu.

— Foi maravilhoso, meu amor.

— De nada, pessoal. Fico feliz que tenham gostado. Agora é voltar pra casa e descansar.

Renata não gostou do que ouviu.

— Mas já?

— Está cedo, mas estamos exaustos. — E olhou para Letícia que lhe acenou.

— Nos vemos amanhã?

Ela estava abraçada a Rainen.

— Claro que sim. Eu te ligo.

O beijo selou o fim de um dia satisfatório para eles.



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