— Ára, sô! Ceis me deixa muito feliz com essa visita.
Rainen
conseguiu convencer sua família e a de Renata a passarem o sábado na chácara de
Jimmy.
—
Também, o Rainen não parava de falar desse lugar. Eu já estava curioso — falou
Mario.
— E
eu? — perguntou Letícia, explicando: — Pensei até que ele quisesse vir morar
aqui.
—
Ah, eu sempre gostei de lugares assim. Me lembra a casa de minha avó e dos bons
momentos da minha infância. — Elizabeth foi mais saudosa.
—
Obrigada por nos convidar — Renata cochichou no ouvido do namorado.
—
Não faria sentido estar aqui sem você.
E se abraçaram rindo.
—
Mai isso faiz muito bem. I aqui é só tranquilidade — disse Geoconda, esposa de
Jimmy. — Ocêis pódi ficá à vontade. Já tomaram café?
— Já
sim, mas, como levantamos cedo, acho que precisaremos de um reforço.
—
Intão vamo lá na cozinha — Jimmy e a esposa foram na frente.
Antes
de chegarem, o cheiro do café se mostrou forte, além de outras coisas.
— O
bôlo tá quase pronto, i os biscoitos vou descê pru óio agora.
Não
teve um deles que não salivou, tanto pela informação quanto pelo cheiro.
—
Vão si sirvindo.
Jimmy
colocou sobre a mesa meia barra de requeijão. Ela devia ter mais de um quilo.
Ao lado, a garrafa de café. Enquanto isso, Geoconda colocou oito biscoitos
dentro do tacho com óleo quente. O frigir fazia um barulho gostoso para os
presentes.
Elizabeth
e Mario sentaram bem aconchegados um ao outro, compartilhando as pequenas sensações
daquele lugar.
—
Aqui é tão gostoso. — E a abraçou.
—
Pena que Bruna não pôde vir. Não devia perder uma oportunidade dessas.
—
Terá outras chances.
E
não se aprofundaram no assunto.
Ao
lado, o jovem casal não usava palavras, mas se entendia pelo olhar. Foi um
instante em que se desgarraram do lugar e só enxergaram um ao outro. O sorriso
leve, a temperatura morna dos corpos, o cheiro um do outro. Aquilo lhes
aprofundava a cumplicidade, a devoção. Mas perceberam que Elizabeth tirou fotos
daquele instante.
—
Mãe…
—
Ah, filha. Queria registrar esse momento. — Elizabeth olhava o visor da câmera.
— Estão ótimas.
Rainen
riu e comeu um pedaço de queijo.
—
Jimmy, tudo certo para o churrasco?
—
Churrasco? — Mario se animou.
—
Churrasco! — Letícia respondeu. — Trouxemos a carne temperada.
— I
a churrasquêra tá liberada. Comprei carvão antes di vim pra casa.
—
Trouxemos algumas bebidas também. — E pediu: — Jimmy, tem uma geladeira onde
possamos colocar.
—
Mai é claru. Vô ti ajudá a discarregá.
Foram
para fora, Renata junto.
— É
um lugar lindo que você tem aqui — elogiou a garota.
— E
ocê nem viu tudo. Tem uns pomares aqui perto. Jazin o Rainen ti leva lá.
—
Legal! — a garota sorriu.
E
após condicionarem tudo e deixarem a churrasqueira montada, o grupo foi para o
pomar. A caminhada foi breve e rica em aspectos visuais.
—
Aquilo ali é alho? — questionou Letícia.
— É
sim. Ao lado, temos cebolinha e coentro — respondeu Elizabeth, que observava a
horta. — Preciso de uma dessa em casa. Não sei como não pensei nisso antes.
—
Agora que pensou, vamos fazer uma — ofereceu Mario.
Ao
lado havia uma plantação com arvoredos bem parecidos.
—
Mandioca?
—
Como você sabe, Mario? Sempre foi criado na cidade.
—
Lembrei agora de umas fotos que vi quando ainda estudava.
—
Que memória excelente, hein?! — Elizabeth fez todos rirem.
— Tá
me chamando de velho? — Ele riu junto.
—
Claro que não, amor… mas não somos mais jovenzinhos.
— Maduros, acho que se encaixa melhor.
E
com esse esclarecimento, chegaram ao pomar.
—
Não pensei que fosse tão grande — Renata se admirou. — Que fruta é essa?
— A
amarelada? Pitomba.
— É
gostosa?
Letícia
pegou uma e retirou a casca. Dentro, um caroço revestido em uma espécie de
creme. A mulher mordeu e sorveu.
—
Essa está doce, levemente azeda.
O
grupo se serviu de algumas.
— E
ali? É caju?
— É
sim! E vermelho assim… — Elizabeth mordeu e o caldo espirrou. — … está bem
saboroso.
Letícia
também pegou um.
—
Vou querer uma manga! — Rainen correu escalando a árvore.
—
Tire algumas, acho que podemos levar.
Mas
a primeira ele comeu ainda lá em cima.
—
Está deliciosa!
Em
seguida, retirava-as e lançava-as para Mario, que as entregava a Renata.
— Tá
bom, senão vamos ter que pagar para o Jimmy.
Riram
novamente.
Caminharam
por ali, encontrando uma mina de água, animais e muita vegetação, até que Jimmy
se aproximou, chamando:
—
Vamô, pessoar, já coloquei fogo no carvão, mais vô precisá de ajuda pra assar.
—
Vamos sim!
E
iniciaram o retorno.
—
Vocês criam o que mais por aqui, Jimmy?
—
Óia, dona Letícia, tenho umas cabeça di gado, uns porco, dois cavalo, as
galinha…
—
Essas eu vi — interrompeu Elizabeth, atenta à conversa.
— I
umas cabra.
Ao
final da fila, vinham Renata e Rainen.
— É
uma boa criação…
Foi
a última coisa que o casal ouviu Mario dizer, pois a garota segurou a mão do rapaz
e o puxou para dentro do milharal. Este estava alto e os encobriu. Pararam
próximo a uma cerca e, no silêncio da cumplicidade, se beijaram
apaixonadamente.
—
Minha vontade era tirar a sua calcinha e te amar aqui mesmo.
—
Esse trabalho eu não te darei.
E
puxou a mão dele para baixo de seu vestido, sentindo o imediato toque em sua
parte íntima.
—
Desde quando está sem calcinha?
Ela
desabotoou e baixou o zíper do jeans de Rainen, deixando o membro aparecer.
—
Vim lá de casa sem.
Abaixou-se
e o colocou na boca, sorvendo com ímpeto.
O
rapaz já não questionava as atitudes de Renata. Agora observava a voracidade
dos movimentos e permanecia atento à aproximação de alguém. Foi obrigado a
fazer ela parar, após quinze minutos.
—
Precisamos ir — ele avisou.
—
Não quero. — E ela dava continuidade.
—
Não dá pra ficar mais. — E a suspendeu.
—
Preciso de mais.
— Eu
também!
E a
levou pelo braço para próximo de uma árvore. Apoiando as costas da garota no
tronco, ele se abaixou e puxou uma de suas pernas sobre seu ombro, deixando a
parte íntima da garota exposta. Rainen deu uma boa lambida, sentindo o gosto
azedo em sua língua. Em seguida, chupou, dando especial atenção ao clitóris. Em
segundos, Renata gozou farta.
Ele
se ergueu e a beijou.
—
Quem sabe mais tarde conseguimos nos encontrar. — Ele se recompunha. — Agora me
ajude com isso aqui.
Renata
não o questionou, pois se sentia parcialmente satisfeita, e vinte minutos
depois o casal chegava à residência, um pouco esbaforidos.
—
Que boa ideia — disse Mario sorrindo. — Eu mesmo tinha me esquecido de apanhar
milho.
—
Ideia da Renata.
Jimmy
teve um breve pensamento:
“Esse
tempo todo pra catá doze espiguinha?”
E a
tarde seguiu num ritmo fraterno e animado. Então o anfitrião contou alguns
causos estranhos, engraçados e misteriosos:
— Aí
eu tava nu meu fusca, subindo a serra
pras banda di Assombradinho, i ali é uns 4 quilômetro de subida puxada mermo. I
vi a carreta parada no acostamento.
Ela tava carregada com 30 tonelada de
vergaião de aço ZZ50.
Os
ouvintes mantinham total atenção na narrativa.
—
Pensei cumigo “Vô judá”. I falei cum o motorista: “Quê qui aconticeu?”.
Ele
expricô: “O motô quebrô i ieu não tenho como subi essa ladeira.”. Eu matutei um
pôco i falei: “Careci di si preocupa, não. Vô amarrá uma corda no pára-choque
do meu fusca e rebocá o seu caminhão inté lá inriba”
Ele
si ispantô na hora:
“Mais
u carro do senhô, vai guentá?”
“Mais
é craro qui vai, é só arrumá uma corda forte apoi, geralmenti, a corda
arrebenta do lado mai fraco, nessi caso, o lado do caminhão.”
Depois
di marrá bem marrado, ele entro cumigo nu fusca i eu arranquei. Passô uns minuto i ele falô:
“Senhô,
qui chêro é esse?”. I eli tinha razão. Tava um chêro di fumaça, chêro di
queimado. I continuô: “Será qui u motô vai guentá?”.
“Vai
sim. Discurpa ieu, sô!”, ieu já tinha visto o probrema, “É qui nóis tava
subindo cum o freio-di-mão puxado”.
Os
homens na mesa se entreolharam e desataram a rir, menos Jimmy.
—
Cêis num tão querditando, não?
Depois
de um tempo, até ele mesmo riu.
E o
dia seguiu assim, descontraído, animado e revelador. Sim, bastante revelador.
Foi impressionante para os presentes observar como Rainen e Renata se davam tão
bem. Eles se completavam na exata medida das situações, como na hora de cortar
a carne, quando ele segurava o pesado espeto. Ou na arrumação dos talheres para
ele. Os olhares. O silêncio. Uma pequena experiência onde puderam se conhecer
melhor.
— Já
está na hora — Mario disse com certo pesar na voz.
Eram
17h quando ele olhou para o horizonte, com o sol ainda quente.
— Tá
cedo, pessoar — Geoconda gostou da visita.
—
Quando ocêis quisé vortá, é só avisá.
— É
que ainda temos coisas para organizar em casa, sem contar nossa filha que não
pôde vir — justificou Elizabeth.
—
Também não é bom dirigir à noite, ainda mais em rodovia.
—
Isso aí é verdadi. Tem muita carreta nessas pista — confirmou Jimmy.
—
Vamos com cuidado — avisou Mario.
—
Vão cum Deus, pessoar! — se despediu o dono da chácara.
O
grupo se organizou e pegou a estrada. Em menos de uma hora, entravam no condomínio.
—
Obrigado pelo convite, Rainen. Fazia tempo que não me divertia tanto.
—
Olha, matei a saudade do meu tempo de infância. — Elizabeth estava
supercontente. — Ainda mais com esse saco de polvilho que a Geoconda me deu.
—
Foi maravilhoso, meu amor.
— De
nada, pessoal. Fico feliz que tenham gostado. Agora é voltar pra casa e
descansar.
Renata
não gostou do que ouviu.
—
Mas já?
—
Está cedo, mas estamos exaustos. — E olhou para Letícia que lhe acenou.
—
Nos vemos amanhã?
Ela
estava abraçada a Rainen.
— Claro que sim. Eu te ligo.
O beijo selou o fim de um dia satisfatório para eles.
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