Na manhã seguinte, por volta de 9h, Letícia acordou. Após a
higiene, foi para a cozinha. Ali, olhou pela janela, vendo um dia claro, de céu
limpo e temperatura agradável. Ela tomou um rápido café com bolachas, ao som da
canção Jingle Bells e outras canções
natalinas, que tocavam no radinho sobre o armário. Em breve, iniciaria o
cozimento da ave. O prato era receita de sua avó, e a técnica requeria certo
tempo ao forno e algumas pausas, para atingir o ponto ideal.
Uma hora depois, Rainen acordou e se levantou, juntando-se à mãe
na cozinha. Um pedaço de pão doce e uma caneca de café aguado, como a mãe chamava, foi o seu desjejum. Comia admirando a
habilidade de sua mãe em retirar todos os ossos da ave. Ele também sabia qual
era o recheio: cebola, cenoura, damasco, provolone, farinha e…
— Ué… onde está o bacon? — questionou em tom de piada.
Sem tirar a atenção do que fazia, a mãe respondeu:
— Na geladeira.
— Ufa! Agora fiquei preocupado.
Riram.
— Você pode me ajudar com a salada e com o purê de batatas?
— Claro! — E ele riu sozinho, recitando o poema: — Batatinha
quando nasce espalha rama pelo chão…
— Menininha quando dorme põe a mão no coração…
— E tem mais?
— Tem. — Ela parou o que fazia e recitou: — Sou pequenininha do
tamanho de um botão; carrego papai no bolso e mamãe no coração; o bolso furou e
o papai caiu no chão; mamãe, que é mais querida, ficou no coração.
— Bem bonito o poema — disse, descascando as batatas.
— Não sabia que você se interessava por poemas.
— Eu não tenho esse interesse.
— Então?
— Aprendi uma coisa ou outra com a Renata.
— Hummmm… agora entendi. — Ela sorriu. — Essa moça mexe com você,
não é?
O timer do forno apitou,
informando que terminara um período do cozimento. Letícia cortava verduras
quando Rainen perguntou:
— Mãe, quer que eu retire a ave do forno?
Ela lhe entregou o pano de prato e a luva. Com firmeza, o rapaz
abriu o forno, puxou a bandeja e a depositou sobre a mesa. O cheiro do assado,
que exalava durante o procedimento, ficou mais perceptível.
— E o pai? — perguntou.
— Saiu — Letícia respondeu, um pouco temerosa.
— Em pleno feriado? — O rapaz começava a se intrigar. — E para
onde ele foi?
— Eu não sei.
Ela sabia, mas não queria tocar no assunto.
— Quer que eu…
— Quero que busque refrigerantes. Pode fazer isso?
Pediu interrompendo-o, antes que mais perguntas surgissem.
Percebendo, ele concordou. Letícia se sentiu mais aliviada ao ver o veículo se
distanciando da casa, mas sabia que a questão não se encerraria ali.
“O que direi a ele?”
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