Ardes - Capítulo 142

 

Naqueles 8 meses Bruna não só fez mais uma aquisição, como também participou ativamente de duas vendas. Em se tratando de comissões, faturou mais de 400 mil dólares, desconsiderando bônus e participações nos lucros. Somado ao valor que guardava, o seu saldo bancário passava de 1 milhão de dólares. Mas, de algum modo, ela não sentia satisfação plena, coisa que também não teve quando comprou o seu carro zero quilômetro, nem quando adquiriu roupas de grife e joias de ouro. Esse comportamento fazia com que estranhasse a si mesma, então, buscando reverter isso, resolveu sair e expor o que conseguiu.

— Você teve muito bom gosto com as roupas e as joias — elogiou Marcus.

Mas, para Bruna, as palavras traziam amargor.

— Obrigada! — mentiu com um sorriso nos lábios.

Aquele restaurante era um dos mais refinados da cidade, com refeições internacionalmente reconhecidas. A carta de bebidas era a terceira melhor do país. Mas não adiantava. Para Bruna, a comida tinha sabor de serragem, e o vinho, gosto de vinagre. Mesmo com a lotação do restaurante em 80%, ela se sentia só, recostada no muro de um cemitério. Para combater isso, puxou conversa:

— E a Dezinea? — perguntou.

— O que tem ela? — Marcus ficou atento.

— Novidades?

O assunto interessava a Marcus e Bruna era a líder daquela negociação. Então ele pensava em deixa-la a par do assunto:

— Há rumores de que o presidente da empresa virá da Holanda, no mais tardar no primeiro trimestre do próximo ano.

— Está bem em cima.

— Sim. Ele sabe que é observado, então fará essa viagem esperando ser abordado. — Ele ponderou um pouco para depois prosseguir: — Queria mesmo era informações privilegiadas sobre a empresa.

— E por que não a compra.

Marcus sorriu.

— Bruna, já tentou subornar um holandês?

— Não — ela respondeu um pouco ingênua.

— Pois é… eles são muito compromissados, e os dessa empresa, em particular, são mergulhados na cultura da organização.

— Se fala com tanta propriedade, é porque…

Marcus deu um bom gole no vinho.

— Aquele cheque de 200 mil dólares foi o mesmo que chamar a mãe dele de prostituta. E olha que ele era o supervisor da limpeza. — E deu uma garfada em um tomate cereja.

Bruna quis rir da situação, mas não teve ânimo.

— E não tentou novamente?

— Mais duas vezes, de forma discreta para não levantar alarde, mas também sem sucesso. — Ele cortou um pedaço da carne de coelho. — Por sorte o mundo dá voltas e agora uma nova oportunidade aparece.

— O que quer dizer? — Intrigou-se a garota.

— O noivo da sua irmã…

Se os últimos meses de Bruna foram ruins, e aquela noite uma droga, ouvir a menção sobre o rapaz a aturdiu de tal modo que ela colocou os talheres sobre o prato para ocultar o tremor.

— Ele é funcionário da Dezinea. Na verdade, o único funcionário deles que não é holandês. Raça maldita! — praguejou Marcus.

— E como pretende fazer? — ela perguntou calculando a resposta.

Marcus deu uma gaitada tão alta que chamou a atenção de todo o restaurante.

— Como eu pretendo fazer? Como eu pretendo fazer? — Ele ria sem conseguir se conter, até que cessou repentinamente. — Quem é a responsável pela negociação? Quem me apresentou dados e mais dados sobre a Dezinea? Quem quer me fazer um pedido assim que a empresa for comprada?

Para todas as perguntas, apenas uma resposta: Bruna.

— Mas, Marcus, você sabe da…

— Sei — falou mais alto, interrompendo-a — que pago o seu salário! Sei que quero aquela empresa! Sei que você é a responsável direta pela aquisição.

— Mas nunca fiz nada disso antes.

— Não se preocupe. Você aprende. Tem um orçamento de 200 mil dólares para isso e, se precisar, pode até dobrar esse valor.

Os pensamentos de Bruna deram voltas considerando a mísera possibilidade de conversar com Rainen, que dirá convencê-lo a se corromper. Tinha um péssimo pressentimento sobre a situação futura.

Marcus terminou a refeição e a chamou para irem embora.

— Está na hora.

Precisando de atenção e carinho, Bruna pediu:

— Bem que poderíamos esticar essa noite.

— Estou muito cansado hoje. E amanhã é domingo, quero dormir até mais tarde.

— Tudo bem — concordou frustrada.

A negativa a lançou num mundo acinzentado, triste, enfadonho e, durante todo o trajeto para casa, se manteve assim, deslocada.

Chegou em casa e estava tudo escuro. Foi ao banheiro se higienizar. Enquanto o fazia, lembrou-se de algo em seu quarto e sentiu o coração pulsar forte. Ao terminar, foi para o cômodo, entrou e trancou a porta. Ligou o abajur e a fraca luz amarelada clareou o ambiente. Rápida e desajeitada, tirou a roupa, ficando nua. Caminhou até o armário e pegou a peça de tecido, enrolando-a em volta de seu corpo. Ao fazer isso, se arrepiou. Seus mamilos enrijeceram e o cheiro característico tomou conta de seu olfato. As pernas tremeram quando recriou mentalmente a cena, então caminhou até a cama e desabou sobre ela. Seu coração acelerou e sua respiração ficou mais forte. Num movimento involuntário, puxou a peça aveludada que pressionou sua parte íntima. O prazer gerado, obrigou-a a puxar mais uma vez, e mais uma, e a próxima, e outra vez, cada vez mais rápido, mais forte, até que travou num ponto, se oferecendo à força, às lágrimas… o orgasmo.

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