Dor de cabeça, cansaço, olhos ardendo, dores no corpo. Pareciam sintomas de alguma doença, mas eram reflexos da noite que passou em branco.
“Droga!”
Mas
Bruna seguiu a viagem inteira em silêncio.
—
Bom trabalho!
Desejou
Mario quando ela desceu.
—
Obrigada, pai! Para o senhor também — respondeu, fechando a porta do carro.
Da calçada olhou para o edifício da Lemaw e sentiu que o dia seria duro. Entrou no edifício e, quando o elevador chegou, se deparou com Astor e Margareth. Ela hesitou, mas ambos sequer a perceberam. Havia sorrisos e olhares de cumplicidade entre os dois. Ele desceu em seu andar e as duas continuaram. Margareth mantinha a seriedade, mas era evidente que parecia não estar ali. Ela nem se deu conta quando Bruna desembarcou.
Caminhando
para a sua sala, a garota tinha a estranha sensação de que algo não ia bem.
Acomodou-se em sua mesa de trabalho e então se recordou da noite anterior. Detestou
ver a mãe e o pai naquelas condições, mas precisava agir para expurgar o comedor de graxa. Só que as coisas não
saíram como o planejado.
“Porcaria!
Aquele demônio dormiu na minha casa.”
E
lampejos em sua memória expuseram o que não queria lembrar: ele segurando Renata, ele cuidando de Renata, ele abraçando Renata, ele beijando Renata. Isso ecoava em sua
mente:
“Ele…
ele… ele… ele… ELE!”
O
ramal tocou, interrompendo seus pensamentos.
—
Bruna, o senhor Marcus deseja vê-la.
Isso
a trouxe de volta à realidade. Respirou fundo e foi ao banheiro checar a
maquiagem. De lá foi para o elevador. Sentiu-se estranha ao entrar na sala.
—
Bom dia, Bruna.
Marcus
a cumprimentou, dando-lhe um beijo em sua bochecha.
—
Bom dia!
E
sentaram-se. Durante alguns instantes, permaneceram em silêncio, com o jovem
senhor observando a garota. Bruna não fez questão de iniciar a conversa, nem de
olhá-lo.
—
Você parece diferente. Está tudo bem?
—
Ah! Nada de mais, uma noite maldormida.
— O
sono é algo do qual não podemos abrir mão. Influencia diretamente o desempenho
das atividades.
Ela
estranhou o fato de ele não tocar no assunto de forma mais íntima, afinal, eles
eram namorados. Mas Bruna não questionou, se limitando a concordar:
— É
verdade.
—
Bem, eu a chamei aqui para questioná-la. — A garota sentiu a mudança no tom de
voz. — O que pensou que fazia naquela negociação? Deixar Gibbys plantado na
sala de reuniões?
Um
fogo interno queimou Bruna. Era algo ligado ao desempenho, ao conhecimento. E
ela voltou a ser quem era.
— Aquela
era a terceira reunião. Pelo plano que desenvolvemos, seriam duas, e da forma
como Gibbys conduzia as coisas, nós teríamos uma quarta, e quem sabe uma
quinta. No meu entendimento, ele não fecharia o negócio.
— E
você resolveu agir por conta própria?
Ela
também alterou o seu tom de voz:
— A
ideia não é fechar o negócio? Não é esse o nosso objetivo? E ele foi alcançado.
—
Mas você tirou para escanteio o jogador principal.
—
Ora! Isso é um time. Se a peça não vai bem, que seja substituída. No próximo jogo
ele entra de novo. O que não pode escapar é o resultado.
Internamente,
Marcus vibrava com o que ouvia da garota, pois mensurava as habilidades e
qualidades de sua funcionária: comando, atitude, determinação.
—
Gibbys veio falar comigo e ficou chateado com a situação.
—
Tenho certeza de que um ou dois elogios seus, somados ao entendimento da
estratégia, e ele ficará bem. — Ela sorriu.
Essa
era outra qualidade que ele admirava na garota: praticidade.
—
Tudo bem! — Marcus não aguentou e riu. — O outro assunto que quero tratar é
este…
E
lhe entregou um fino envelope. Bruna o rasgou nas bordas e abriu, lendo o
conteúdo:
BRUNA ANDRADE
SALÁRIO: U$ 20,000.00
BÔNUS: U$ 100,000.00
Sorrindo,
ela dobrou o documento e o colocou no bolso.
—
Obrigada!
—
Bem discreta a sua comemoração. Pensei que seria diferente.
—
Não estou em um bom dia hoje.
—
Não por isso. Vá pra casa e descanse.
Pensar
no que encontraria lá lhe deu uma leve tontura.
—
Ainda tenho algumas coisas para fazer, mas, assim que terminar, eu saio.
— Tudo
bem. E como está a graduação?
—
Está bem. Dentro do previsto.
—
Ótimo!
Ela
se levantou, forçando a saída.
—
Certo. Então… depois nos falamos.
— Até mais.
Deu um beijo no rosto de Marcus e saiu. A mente estava aturdida, o coração em colapso.
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