Ardes - Capítulo 125

 

Dor de cabeça, cansaço, olhos ardendo, dores no corpo. Pareciam sintomas de alguma doença, mas eram reflexos da noite que passou em branco.

“Droga!”

Mas Bruna seguiu a viagem inteira em silêncio.

— Bom trabalho!

Desejou Mario quando ela desceu.

— Obrigada, pai! Para o senhor também — respondeu, fechando a porta do carro.

Da calçada olhou para o edifício da Lemaw e sentiu que o dia seria duro. Entrou no edifício e, quando o elevador chegou, se deparou com Astor e Margareth. Ela hesitou, mas ambos sequer a perceberam. Havia sorrisos e olhares de cumplicidade entre os dois. Ele desceu em seu andar e as duas continuaram. Margareth mantinha a seriedade, mas era evidente que parecia não estar ali. Ela nem se deu conta quando Bruna desembarcou.

Caminhando para a sua sala, a garota tinha a estranha sensação de que algo não ia bem. Acomodou-se em sua mesa de trabalho e então se recordou da noite anterior. Detestou ver a mãe e o pai naquelas condições, mas precisava agir para expurgar o comedor de graxa. Só que as coisas não saíram como o planejado.

“Porcaria! Aquele demônio dormiu na minha casa.”

E lampejos em sua memória expuseram o que não queria lembrar: ele segurando Renata, ele cuidando de Renata, ele abraçando Renata, ele beijando Renata. Isso ecoava em sua mente:

“Ele… ele… ele… ele… ELE!”

O ramal tocou, interrompendo seus pensamentos.

— Bruna, o senhor Marcus deseja vê-la.

Isso a trouxe de volta à realidade. Respirou fundo e foi ao banheiro checar a maquiagem. De lá foi para o elevador. Sentiu-se estranha ao entrar na sala.

— Bom dia, Bruna.

Marcus a cumprimentou, dando-lhe um beijo em sua bochecha.

— Bom dia!

E sentaram-se. Durante alguns instantes, permaneceram em silêncio, com o jovem senhor observando a garota. Bruna não fez questão de iniciar a conversa, nem de olhá-lo.

— Você parece diferente. Está tudo bem?

— Ah! Nada de mais, uma noite maldormida.

— O sono é algo do qual não podemos abrir mão. Influencia diretamente o desempenho das atividades.

Ela estranhou o fato de ele não tocar no assunto de forma mais íntima, afinal, eles eram namorados. Mas Bruna não questionou, se limitando a concordar:

— É verdade.

— Bem, eu a chamei aqui para questioná-la. — A garota sentiu a mudança no tom de voz. — O que pensou que fazia naquela negociação? Deixar Gibbys plantado na sala de reuniões?

Um fogo interno queimou Bruna. Era algo ligado ao desempenho, ao conhecimento. E ela voltou a ser quem era.

— Aquela era a terceira reunião. Pelo plano que desenvolvemos, seriam duas, e da forma como Gibbys conduzia as coisas, nós teríamos uma quarta, e quem sabe uma quinta. No meu entendimento, ele não fecharia o negócio.

— E você resolveu agir por conta própria?

Ela também alterou o seu tom de voz:

— A ideia não é fechar o negócio? Não é esse o nosso objetivo? E ele foi alcançado.

— Mas você tirou para escanteio o jogador principal.

— Ora! Isso é um time. Se a peça não vai bem, que seja substituída. No próximo jogo ele entra de novo. O que não pode escapar é o resultado.

Internamente, Marcus vibrava com o que ouvia da garota, pois mensurava as habilidades e qualidades de sua funcionária: comando, atitude, determinação.

— Gibbys veio falar comigo e ficou chateado com a situação.

— Tenho certeza de que um ou dois elogios seus, somados ao entendimento da estratégia, e ele ficará bem. — Ela sorriu.

Essa era outra qualidade que ele admirava na garota: praticidade.

— Tudo bem! — Marcus não aguentou e riu. — O outro assunto que quero tratar é este…

E lhe entregou um fino envelope. Bruna o rasgou nas bordas e abriu, lendo o conteúdo:

 

BRUNA ANDRADE

SALÁRIO: U$ 20,000.00

BÔNUS: U$ 100,000.00

 

Sorrindo, ela dobrou o documento e o colocou no bolso.

— Obrigada!

— Bem discreta a sua comemoração. Pensei que seria diferente.

— Não estou em um bom dia hoje.

— Não por isso. Vá pra casa e descanse.

Pensar no que encontraria lá lhe deu uma leve tontura.

— Ainda tenho algumas coisas para fazer, mas, assim que terminar, eu saio.

— Tudo bem. E como está a graduação?

— Está bem. Dentro do previsto.

— Ótimo!

Ela se levantou, forçando a saída.

— Certo. Então… depois nos falamos.

— Até mais.

Deu um beijo no rosto de Marcus e saiu. A mente estava aturdida, o coração em colapso.

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