— Mario, por favor, amor, me traz um copo com água.
—
Está tudo bem?
—
Não! Não está! — Ela olhou para o esposo. — Onde estão as meninas?
— A
Renata disse que precisava tratar de um assunto e que chegaria um pouco mais
tarde. A Bruna é provável que esteja na universidade.
—
Sinto um aperto no coração. Liga para o Rainen e peça para que a localize e a
traga para casa. Vá atrás da Bruna e traga-a para mim. Não estou bem.
Mario correu ao telefone e ligou para a oficina, ele sabia que naquele horário o rapaz estaria trabalhando. O telefone chamou até cair, nas duas tentativas. Ele voltou ao quarto.
— E
então? — perguntou Elizabeth.
—
Ninguém atende.
—
Liga para a universidade e peça para que a mandem de volta para casa. Vá e
encontre a Renata.
Mario
ligou para o serviço de táxi e pediu que um motorista aguardasse na entrada da
universidade. Em seguida, ligou para a direção e comunicou a necessidade. Foi
atendido prontamente e, em minutos, Bruna voltava para casa.
“Merda!
O que foi dessa vez? Será que vai comunicar o fim do noivado?”
O
pai das moças, assim que viu o táxi chegando com a filha, saiu e a recomendou:
—
Faça companhia para sua mãe.
— O
que está acontecendo? Para onde você vai?
—
Atrás da sua irmã.
Ele
virou e saiu. Em 15 minutos estacionava ao lado da Andarete Representações. Ali
reconheceu a caminhonete de Rainen, mas também o carro de Sandro.
—
Meu Deus!
E
correu escada acima. Chegando na sala, encontrou o médico medindo a pressão da
garota no colo de Rainen. Os olhos do rapaz marejavam e ele se controlava para
manter a calma.
— O
que aconteceu?
—
Foi uma crise nervosa — Sandro informou —, mas ela está bem. Eu a mediquei.
—
Mas como? — E olhou para Rainen.
—
Olha! Depois vocês conversam sobre isso. O importante agora é que ela repouse.
Leve-a pra casa e dê-lhe um banho. Qualquer alteração, me liguem.
—
Não, Sandro! Preciso de você agora. Elizabeth meio que pressentiu sobre Renata — explicou Mario. — Bruna está com ela.
—
Então vamos, eu os acompanho.
O
rapaz meneou a cabeça e se levantou segurando Renata em seu colo, como se fosse
uma criança, e foi para o carro. Em uma de suas mãos, o envelope.
— Eu
tranco tudo — lá fora, Mario avisou. — Nós vamos na frente, Rainen.
O
rapaz nunca andou tão lentamente com aquela caminhonete.
— Eu
estou aqui, amor! — sussurrava para Renata, que repousava a cabeça em seu colo.
Chegou
à casa de Mario, que os aguardava na porta:
— Vá
direto para o andar de cima, que já te encontraremos.
Com
Renata no colo, ele foi para as escadas, ali perto, viu Bruna de relance, mas a
ignorou e subiu.
—
Onde está minha filha? O que aconteceu com ela?
—
Rainen a está colocando na cama — Mario explicava à esposa.
—
Quero vê-la! Preciso vê-la!
—
Tenha calma, Elizabeth. Tenha calma! — pediu o médico, medindo a sua pressão. —
Todos iremos vê-la.
Bruna
acompanhava tudo isso à espreita.
Quando
chegaram ao andar de cima, viram a luz do banheiro acesa e que vozes vinham
dali. O grupo se aproximou e, como a porta estava com uma fresta aberta,
acompanharam o diálogo:
—
Calma, amor, eu vou cuidar de você, não precisa se preocupar.
Despida
e sentada em uma cadeira sob o chuveiro, Rainen banhava Renata.
—
Não vou deixar nada de ruim te acontecer. — E com uma delicadeza incomum, ele
limpava-lhe o rosto. — Eu te amo!
—
Rainen… — ela balbuciou.
Do
lado de fora, Elizabeth abraçou o esposo e começou a chorar em seu peito,
cochichando:
—
Mario, é ele! Renata o encontrou!
—
Ele quem? Encontrou o quê? — O marido não a entendia.
Bruna
acompanhava, distante, a conversa dos dois, e ouviu claramente:
—
Renata encontrou a sua alma gêmea. — E se calou.
Dentro
do banheiro, Rainen terminava de enxugá-la, cobriu-a com a tolha e a pegou no
colo. Saíram pela porta, dando de frente com os familiares e o médico. Os
ignorou pedindo:
—
Preciso de roupas para ela.
Mario
comandou:
—
Bruna!
Em
obediência, ela os acompanhou, mesmo temendo o que poderia ver. No
guarda-roupas, pegou o conjunto de pijama, peças íntimas e entregou ao rapaz.
Como se estivessem sozinhos em casa, Rainen vestiu Renata por completo.
—
Está tudo bem. Tudo bem. Estou aqui.
E a
deitou na cama, sentando-se ao seu lado. Ele a embrulhou com um cobertor e, por
alguns instantes, afagou-lhe o rosto.
Acompanhar
aquela cena foi bastante incômodo para Bruna, que viu tudo pela fresta da
porta. Ela saiu dali e foi para a cozinha.
—
Perfeito! Ela não encontraria melhor cuidador — pontuou o médico ao entrar.
Rainen
apenas sorriu, sem deixar de olhar para a garota.
—
Sandro, muito obrigado mais uma vez.
—
Por nada! Esse é o meu trabalho.
— Eu
também vou…
Mas
quando Rainen ia se levantando, a mão de Renata segurou a sua.
—
Não vá!
—
Preciso ir.
A
outra mão, débil, o segurou pela calça.
Olharam
para Mario, mas ele não sabia o que falar. Então Elizabeth tomou a frente:
— O
Mario vai te emprestar algumas roupas. Temos toalhas extras e você pode se
banhar. Ligue para seus pais avisando. — E se retirou convicta do que fizera.
Ao
deixarem o quarto, o esposo perguntou:
—
Por que fez isso?
Serena
e confiante ela o olhou.
—
Renata não é mais nossa, Mario. Não mais.
Ele
ficou sem palavras ao pensar um pouco e também chegar a essa conclusão.
Elizabeth foi até a sala acompanhar a saída de Sandro. Mario foi ao quarto e,
em instantes, retornou com os itens entregando ao rapaz.
—
Tem comida na geladeira, pode aquecê-la no forno. Se preferir, temos bolos e
pães. — E bateu em seu ombro. — Boa noite!
—
Boa noite!
Assim
que chegou ao quarto, a esposa perguntou:
—
Por que você deu logo aquela toalha rosa-choque para o rapaz?
Rindo,
respondeu:
—
Não resisti.
Rainen
deu um rápido beijo em Renata e desceu para fazer as ligações. Uma para mãe,
avisando onde dormiria. A outra para Edwin, explicando, em parte, o que
acontecera e que talvez não pudesse trabalhar no dia seguinte. Não sentia fome,
então voltou para o quarto, pegou as roupas e a toalha rosa, e foi se banhar. O
banho foi demorado e reflexivo:
“Como
conseguiram aquelas fotos? Quem teria enviado as imagens?”
Eram
dúvidas que não seria sanadas naquele momento.
Em
minutos ele, retornou para o quarto, se preparando para se deitar. Por si, achou
melhor deixar a porta entreaberta. E, em pé ao lado da cama, não deixava de ter
bons pensamentos olhando para Renata. Naquele instante ela despertou, mas nada
falou, apenas o observava. Rainen se sentiu atraído e se deitou ao lado dela,
que, não satisfeita, se encaixou ao
rapaz e só aí disse algo, com os olhos fechados:
— A
primeira vez que dormiremos juntos.
— A
primeira de muitas.
E
adormeceram.
A
madrugada foi fria e o seu sono perturbado. Mesmo dormindo, Rainen tinha a
impressão de que, por vezes, havia mais alguém no quarto, mas exausto, não
abria os olhos. A noite toda o casal dormiu abraçado, na maioria do tempo, com
ela de costas para ele, que a puxava para si. Foi só por volta de 5h da
madrugada que seu sono ficou tranquilo e descansou mais.
Às 6h30
da manhã, a voz lhe chamava:
—
Rainen! Rainen!
Era
o pai de Renata, tentado acordá-lo.
—
Mario?! Bom dia!
—
Bom dia! Estou saindo para o trabalho e a Bruna vem comigo. Elizabeth ainda
está dormindo. Tem café da manhã na cozinha. Não precisa acordar a Renata,
deixe-a dormir até mais tarde. Eu e a mãe dela cobriremos o dia de trabalho.
Peço apenas que cuide dela.
—
Nem precisa pedir, Mario.
—
Coisa de pai, né!? Até mais!
— Até!
Antes de apagar de novo, Rainen ainda ouviu o barulho do carro saindo. Aquela foi uma madrugada atípica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário