Ardes - Capítulo 124

 

— Mario, por favor, amor, me traz um copo com água.

— Está tudo bem?

— Não! Não está! — Ela olhou para o esposo. — Onde estão as meninas?

— A Renata disse que precisava tratar de um assunto e que chegaria um pouco mais tarde. A Bruna é provável que esteja na universidade.

— Sinto um aperto no coração. Liga para o Rainen e peça para que a localize e a traga para casa. Vá atrás da Bruna e traga-a para mim. Não estou bem.

Mario correu ao telefone e ligou para a oficina, ele sabia que naquele horário o rapaz estaria trabalhando. O telefone chamou até cair, nas duas tentativas. Ele voltou ao quarto.

— E então? — perguntou Elizabeth.

— Ninguém atende.

— Liga para a universidade e peça para que a mandem de volta para casa. Vá e encontre a Renata.

Mario ligou para o serviço de táxi e pediu que um motorista aguardasse na entrada da universidade. Em seguida, ligou para a direção e comunicou a necessidade. Foi atendido prontamente e, em minutos, Bruna voltava para casa.

“Merda! O que foi dessa vez? Será que vai comunicar o fim do noivado?”

O pai das moças, assim que viu o táxi chegando com a filha, saiu e a recomendou:

— Faça companhia para sua mãe.

— O que está acontecendo? Para onde você vai?

— Atrás da sua irmã.

Ele virou e saiu. Em 15 minutos estacionava ao lado da Andarete Representações. Ali reconheceu a caminhonete de Rainen, mas também o carro de Sandro.

— Meu Deus!

E correu escada acima. Chegando na sala, encontrou o médico medindo a pressão da garota no colo de Rainen. Os olhos do rapaz marejavam e ele se controlava para manter a calma.

— O que aconteceu?

— Foi uma crise nervosa — Sandro informou —, mas ela está bem. Eu a mediquei.

— Mas como? — E olhou para Rainen.

— Olha! Depois vocês conversam sobre isso. O importante agora é que ela repouse. Leve-a pra casa e dê-lhe um banho. Qualquer alteração, me liguem.

— Não, Sandro! Preciso de você agora. Elizabeth meio que pressentiu sobre Renata — explicou Mario. — Bruna está com ela.

— Então vamos, eu os acompanho.

O rapaz meneou a cabeça e se levantou segurando Renata em seu colo, como se fosse uma criança, e foi para o carro. Em uma de suas mãos, o envelope.

— Eu tranco tudo — lá fora, Mario avisou. — Nós vamos na frente, Rainen.

O rapaz nunca andou tão lentamente com aquela caminhonete.

— Eu estou aqui, amor! — sussurrava para Renata, que repousava a cabeça em seu colo.

Chegou à casa de Mario, que os aguardava na porta:

— Vá direto para o andar de cima, que já te encontraremos.

Com Renata no colo, ele foi para as escadas, ali perto, viu Bruna de relance, mas a ignorou e subiu.

— Onde está minha filha? O que aconteceu com ela?

— Rainen a está colocando na cama — Mario explicava à esposa.

— Quero vê-la! Preciso vê-la!

— Tenha calma, Elizabeth. Tenha calma! — pediu o médico, medindo a sua pressão. — Todos iremos vê-la.

Bruna acompanhava tudo isso à espreita.

Quando chegaram ao andar de cima, viram a luz do banheiro acesa e que vozes vinham dali. O grupo se aproximou e, como a porta estava com uma fresta aberta, acompanharam o diálogo:

— Calma, amor, eu vou cuidar de você, não precisa se preocupar.

Despida e sentada em uma cadeira sob o chuveiro, Rainen banhava Renata.

— Não vou deixar nada de ruim te acontecer. — E com uma delicadeza incomum, ele limpava-lhe o rosto. — Eu te amo!

— Rainen… — ela balbuciou.

Do lado de fora, Elizabeth abraçou o esposo e começou a chorar em seu peito, cochichando:

— Mario, é ele! Renata o encontrou!

— Ele quem? Encontrou o quê? — O marido não a entendia.

Bruna acompanhava, distante, a conversa dos dois, e ouviu claramente:

— Renata encontrou a sua alma gêmea. — E se calou.

Dentro do banheiro, Rainen terminava de enxugá-la, cobriu-a com a tolha e a pegou no colo. Saíram pela porta, dando de frente com os familiares e o médico. Os ignorou pedindo:

— Preciso de roupas para ela.

Mario comandou:

— Bruna!

Em obediência, ela os acompanhou, mesmo temendo o que poderia ver. No guarda-roupas, pegou o conjunto de pijama, peças íntimas e entregou ao rapaz. Como se estivessem sozinhos em casa, Rainen vestiu Renata por completo.

— Está tudo bem. Tudo bem. Estou aqui.

E a deitou na cama, sentando-se ao seu lado. Ele a embrulhou com um cobertor e, por alguns instantes, afagou-lhe o rosto.

Acompanhar aquela cena foi bastante incômodo para Bruna, que viu tudo pela fresta da porta. Ela saiu dali e foi para a cozinha.

— Perfeito! Ela não encontraria melhor cuidador — pontuou o médico ao entrar.

Rainen apenas sorriu, sem deixar de olhar para a garota.

— Sandro, muito obrigado mais uma vez.

— Por nada! Esse é o meu trabalho.

— Eu também vou…

Mas quando Rainen ia se levantando, a mão de Renata segurou a sua.

— Não vá!

— Preciso ir.

A outra mão, débil, o segurou pela calça.

Olharam para Mario, mas ele não sabia o que falar. Então Elizabeth tomou a frente:

— O Mario vai te emprestar algumas roupas. Temos toalhas extras e você pode se banhar. Ligue para seus pais avisando. — E se retirou convicta do que fizera.

Ao deixarem o quarto, o esposo perguntou:

— Por que fez isso?

Serena e confiante ela o olhou.

— Renata não é mais nossa, Mario. Não mais.

Ele ficou sem palavras ao pensar um pouco e também chegar a essa conclusão. Elizabeth foi até a sala acompanhar a saída de Sandro. Mario foi ao quarto e, em instantes, retornou com os itens entregando ao rapaz.

— Tem comida na geladeira, pode aquecê-la no forno. Se preferir, temos bolos e pães. — E bateu em seu ombro. — Boa noite!

— Boa noite!

Assim que chegou ao quarto, a esposa perguntou:

— Por que você deu logo aquela toalha rosa-choque para o rapaz?

Rindo, respondeu:

— Não resisti.

Rainen deu um rápido beijo em Renata e desceu para fazer as ligações. Uma para mãe, avisando onde dormiria. A outra para Edwin, explicando, em parte, o que acontecera e que talvez não pudesse trabalhar no dia seguinte. Não sentia fome, então voltou para o quarto, pegou as roupas e a toalha rosa, e foi se banhar. O banho foi demorado e reflexivo:

“Como conseguiram aquelas fotos? Quem teria enviado as imagens?”

Eram dúvidas que não seria sanadas naquele momento.

Em minutos ele, retornou para o quarto, se preparando para se deitar. Por si, achou melhor deixar a porta entreaberta. E, em pé ao lado da cama, não deixava de ter bons pensamentos olhando para Renata. Naquele instante ela despertou, mas nada falou, apenas o observava. Rainen se sentiu atraído e se deitou ao lado dela, que, não satisfeita, se encaixou ao rapaz e só aí disse algo, com os olhos fechados:

— A primeira vez que dormiremos juntos.

— A primeira de muitas.

E adormeceram.

A madrugada foi fria e o seu sono perturbado. Mesmo dormindo, Rainen tinha a impressão de que, por vezes, havia mais alguém no quarto, mas exausto, não abria os olhos. A noite toda o casal dormiu abraçado, na maioria do tempo, com ela de costas para ele, que a puxava para si. Foi só por volta de 5h da madrugada que seu sono ficou tranquilo e descansou mais.

Às 6h30 da manhã, a voz lhe chamava:

— Rainen! Rainen!

Era o pai de Renata, tentado acordá-lo.

— Mario?! Bom dia!

— Bom dia! Estou saindo para o trabalho e a Bruna vem comigo. Elizabeth ainda está dormindo. Tem café da manhã na cozinha. Não precisa acordar a Renata, deixe-a dormir até mais tarde. Eu e a mãe dela cobriremos o dia de trabalho. Peço apenas que cuide dela.

— Nem precisa pedir, Mario.

— Coisa de pai, né!? Até mais!

— Até!

Antes de apagar de novo, Rainen ainda ouviu o barulho do carro saindo. Aquela foi uma madrugada atípica.

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