Ardes - Capítulo 123

Exatamente às 16 horas o interfone tocou.

— Entrega! — anunciou o rapaz.

Uma das atendentes desceu, pegou o envelope e o passou a Renata, que pediu:

— Deixe ali ao lado, por favor, Juliana. Obrigada!

As diversas tarefas do dia a impediram de desviar sua atenção para qualquer outra coisa. Só às 18h40 foi que conseguiu parar. Serviu-se de uma generosa xícara de café, pegou alguns biscoitos de polvilho e se sentou junto à correspondência. Comeu todos os biscoitos, quando resolveu abrir o grande envelope pardo, estranhou não ter remetente. Rasgou a lateral e despejou sobre a mesa o conteúdo. As fotos eram escuras, mas de cara reconheceu o veículo nas imagens. Elas mostravam a caminhonete chegando e adentrando o motel Atécubanos.

Renata sentiu algo de um passado recente: a xícara em sua mão vibrava; uma pressão em sua garganta dificultava a respiração; uma dor no peito cresceu, enquanto o coração batia acelerado; o frio na barriga se alastrou; sentiu os olhos marejarem, mas não se deixou chorar. Com dificuldade, foi retomando o controle de si, até que colocou a xícara sobre o pires e pegou o telefone para fazer a ligação.

— Pai?! Devo chegar um pouco mais tarde hoje.

— Está tudo bem? — Mario sentiu a voz da filha um pouco diferente.

— Só estou deixando o senhor ciente — e desligou o telefone.

Respirou fundo, como se buscasse forças e discou o outro número.

— Alô?!

A voz lhe causou um turbilhão de emoções, mas se conteve.

— Rainen?

— Oi, amor, como você est…

— Preciso que venha ao escritório.

— Poxa, amor, estou com tanto trabalho hoje, queria até remarcar o nosso encon…

— Rainen! — Ela fez uma pausa prolongada. — Venha para cá agora.

— Estou indo.

Naquele meio tempo, os funcionários da Andarate começaram a sair, e assim que o último passou pela porta, Renata desabou em lágrimas. Tentava se controlar, mas estava difícil, só conseguiu ficar apresentável quando ouviu o interfone novamente. Por ali destrancou o portão e foi para a porta aguardar o rapaz.

— Oi, amor! O que está aconte… — Mas foi sufocado por um beijo e um abraço.

— Rainen, não me deixa! Por favor, não me abandona! Eu não saberia o que fazer — Renata não parava de falar.

— Calma, Renata! Tenha calma! Me diga o que…

— Não te dou provas do meu amor e da minha entrega? O que mais eu preciso fazer? Me diga e eu faço! Eu faço tudo! Eu faço qualquer coisa! — E limpava as lágrimas aguardando que ele dissesse algo.

Rainen olhava para ela sentindo-se desnorteado com o que vivenciava. Mesmo assim, caminhou até Renata e a tomou em seus braços.

— Como eu abandonaria a pessoa que me mostrou o que é amar. — E segurou o rosto da garota em suas mãos. — E também não aceito te perder.

O abraço foi envolvente e morno, com o rapaz beijando a sua cabeça. Ele se sentou e colocou-a em seu colo, sussurrando em seu ouvido:

— Eu estou aqui e não vou deixar que nada, nem ninguém nos separe.

Renata saiu de seu abraço e o fitou.

— Nem mesmo ela?

— Ela? Ela quem?

A garota apontou para as imagens sobre a mesa próxima. Estendendo a mão, ela pegou as fotos e entregou a ele:

— Ela! — disse Renata, agora mais calma.

Quando viu as fotos, seus olhos se arregalaram e a cor de se rosto ficou avermelhada, com as veias do seu pescoço e da testa salientando.

Não teve palavras para o momento.

Nenhum comentário:

BAALDIRES (História: Delas - Amor Proibido) [1]

Baaldires não era demônia de ofício, menos ainda uma súcubo. Ela era uma caída que ficou aprisionada em Wikário e, depois de longo tempo, te...