Exatamente às 16 horas o interfone tocou.
—
Entrega! — anunciou o rapaz.
Uma
das atendentes desceu, pegou o envelope e o passou a Renata, que pediu:
—
Deixe ali ao lado, por favor, Juliana. Obrigada!
As diversas tarefas do dia a impediram de desviar sua atenção para qualquer outra coisa. Só às 18h40 foi que conseguiu parar. Serviu-se de uma generosa xícara de café, pegou alguns biscoitos de polvilho e se sentou junto à correspondência. Comeu todos os biscoitos, quando resolveu abrir o grande envelope pardo, estranhou não ter remetente. Rasgou a lateral e despejou sobre a mesa o conteúdo. As fotos eram escuras, mas de cara reconheceu o veículo nas imagens. Elas mostravam a caminhonete chegando e adentrando o motel Atécubanos.
Renata
sentiu algo de um passado recente: a xícara em sua mão vibrava; uma pressão em
sua garganta dificultava a respiração; uma dor no peito cresceu, enquanto o
coração batia acelerado; o frio na barriga se alastrou; sentiu os olhos
marejarem, mas não se deixou chorar. Com dificuldade, foi retomando o controle
de si, até que colocou a xícara sobre o pires e pegou o telefone para fazer a
ligação.
—
Pai?! Devo chegar um pouco mais tarde hoje.
—
Está tudo bem? — Mario sentiu a voz da filha um pouco diferente.
— Só
estou deixando o senhor ciente — e desligou o telefone.
Respirou
fundo, como se buscasse forças e discou o outro número.
—
Alô?!
A
voz lhe causou um turbilhão de emoções, mas se conteve.
—
Rainen?
—
Oi, amor, como você est…
— Preciso
que venha ao escritório.
—
Poxa, amor, estou com tanto trabalho hoje, queria até remarcar o nosso encon…
—
Rainen! — Ela fez uma pausa prolongada. — Venha para cá agora.
—
Estou indo.
Naquele
meio tempo, os funcionários da Andarate começaram a sair, e assim que o último
passou pela porta, Renata desabou em lágrimas. Tentava se controlar, mas estava
difícil, só conseguiu ficar apresentável quando ouviu o interfone novamente.
Por ali destrancou o portão e foi para a porta aguardar o rapaz.
—
Oi, amor! O que está aconte… — Mas foi sufocado por um beijo e um abraço.
—
Rainen, não me deixa! Por favor, não me abandona! Eu não saberia o que fazer —
Renata não parava de falar.
—
Calma, Renata! Tenha calma! Me diga o que…
—
Não te dou provas do meu amor e da minha entrega? O que mais eu preciso fazer?
Me diga e eu faço! Eu faço tudo! Eu faço qualquer coisa! — E limpava as
lágrimas aguardando que ele dissesse algo.
Rainen
olhava para ela sentindo-se desnorteado com o que vivenciava. Mesmo assim,
caminhou até Renata e a tomou em seus braços.
—
Como eu abandonaria a pessoa que me mostrou o que é amar. — E segurou o rosto
da garota em suas mãos. — E também não aceito te perder.
O
abraço foi envolvente e morno, com o rapaz beijando a sua cabeça. Ele se sentou
e colocou-a em seu colo, sussurrando em seu ouvido:
— Eu
estou aqui e não vou deixar que nada, nem ninguém nos separe.
Renata
saiu de seu abraço e o fitou.
—
Nem mesmo ela?
—
Ela? Ela quem?
A
garota apontou para as imagens sobre a mesa próxima. Estendendo a mão, ela
pegou as fotos e entregou a ele:
—
Ela! — disse Renata, agora mais calma.
Quando viu as fotos, seus olhos se arregalaram e a cor de se rosto ficou avermelhada, com as veias do seu pescoço e da testa salientando.
Não teve palavras para o momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário