Ardes - Capítulo 122

 

A terceira reunião de negociação com o dono da Cotezul Indústria Têxtil se prolongava bem mais que o normal. O senhor Lutierres, presidente e dono da Cotezul há mais de 30 anos, se mantinha resistente às propostas feitas por Gibbys, advogado e principal negociador da Lemaw. Sem conseguir finalizar a negociação, ele havia subido o valor da proposta duas vezes, ficando fora do que foi decidido entre o grupo da Lemaw. Os advogados representantes da Cotezul estavam satisfeitos com o valor, mas Lutierres não dava o aval para assinarem. Aquele não era o melhor dia de Gibbys. Da sua sala, Marcus acompanhava irritado a reunião que se estendia. Foi quando a voz feminina e jovial se fez ouvida:

— Que tal uma pausa para um café?

O clima era tão ruim que ninguém contestou. Gibbys foi o único que permaneceu na sala e, do lado de fora, Bruna instruiu a secretária:

— Não o avise para onde fomos. E por favor, peça para dona Lígia preparar um café fresco.

Rápida a garota chamou o advogado Wesley, pedindo:

— Liga o gravador e vem comigo. — Assim que o fizeram, Bruna abordou os três cavalheiros. — Venham, senhores, vou lhes oferecer o melhor café da cidade.

O grupo pegou o elevador e desceu dois andares. A copa dali era menos usada e Bruna teria condições de agir. Chegaram e a garota piscou para Wesley, que abordou Jonatas e Ricardo, advogados da Cotezul:

— E então senhores, onde estudaram?

E os levou para uma mesa. Enquanto isso, Bruna conversava de Lutierres:

— O que o preocupa?

Naquele instante, a senhora Lígia, copeira daquele andar, entregou-lhe uma xícara de café fumegante ao senhor:

— Obrigado! — E quando olhou para a senhora, Lutierres a reconheceu. — Lígia? Lígia Eldorado? É você?

— Ora! Se não é Lutierres Silvino.

— Quanto tempo! Então foi pra cá que você veio?

— Estou aqui há 10 anos.

— Uau! E não mudou nada desde que te conheci. Sempre muito bela.

Bruna observava os dois, pouco acreditando naquela coincidência.

— Obrigada! E como está a sua esposa, a Fernanda?

— Faleceu há 5 anos.

— Lamento sua perda, Lutierres. Vocês formavam um belo casal.

— Obrigado!

O telefone da copa tocou e Lígia o atendeu, anotando o pedido.

— Lutierres, preciso ir, mas foi bom te rever.

Ele puxou um cartão e o entregou.

— Me liga, por favor!

— Claro — Lígia respondeu um pouco tímida e saiu.

O senhor suspirou, sob o olhar atento de Bruna. Ele ficou encarando a xícara de café, até que a sorveu.

— O que me preocupa? As consequências dos erros cometidos.

— E há algum jeito para isso? — questionou Bruna.

Ele deu outro gole no café.

— Jeito? Quem sabe? Talvez uma segunda chance… — disse, um pouco inseguro. — Pode acontecer.

— Será?

— Não é uma certeza, então não aposte suas fichas nisso. Se puder corrigir um erro, o faça de imediato. A vida nos cobrará toda negligência e covardia. — E lhe piscou. — Ou acha que passei por tudo isso totalmente isento?

A garota ponderou um pouco, insegura com a resposta:

— Não sei dizer, senhor.

— Te garanto que não, senhorita Bruna. Atente-se a isso. — Ele deu um largo sorriso. — E parabéns! Lhe venderei a minha empresa.

— Obrigada, senhor Lutierres. Mas o que o fez mudar tão rapidamente de ideia?

— Nada demais — Mas ele demonstrava animação —. Há um telefone direto para essa copa?

— Sim. Claro.

Ela passou o número para ele, que anotou nas costas de um dos seus cartões e guardou na carteira.

— Obrigado pela conversa, senhorita Bruna.

— Eu que agradeço.

— Rapazes, assinem o acordo sob a tutela da senhorita Bruna, e pelo primeiro valor que propusemos.

O desconto foi outra pequena vitória para a garota. Ali foi tudo rápido, em minutos, os três senhores seguiam para a saída.

— Obrigado, Bruna!

— Até!

Assim que saíram, ela correu para o elevador de serviço e subiu para a sala de reuniões. Ali encontrou Gibbys transtornado.

— Onde vocês estavam?

Fria, ela respondeu:

— Resolvendo!

E lhe jogou a pasta com os documentos assinados. Ninguém na empresa tocou nesse assunto durante um longo tempo.

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