A terceira reunião de negociação com o dono da Cotezul Indústria Têxtil se prolongava bem mais que o normal. O senhor Lutierres, presidente e dono da Cotezul há mais de 30 anos, se mantinha resistente às propostas feitas por Gibbys, advogado e principal negociador da Lemaw. Sem conseguir finalizar a negociação, ele havia subido o valor da proposta duas vezes, ficando fora do que foi decidido entre o grupo da Lemaw. Os advogados representantes da Cotezul estavam satisfeitos com o valor, mas Lutierres não dava o aval para assinarem. Aquele não era o melhor dia de Gibbys. Da sua sala, Marcus acompanhava irritado a reunião que se estendia. Foi quando a voz feminina e jovial se fez ouvida:
—
Que tal uma pausa para um café?
O
clima era tão ruim que ninguém contestou. Gibbys foi o único que permaneceu na
sala e, do lado de fora, Bruna instruiu a secretária:
— Não o avise para onde fomos. E por favor, peça para dona Lígia preparar um café fresco.
Rápida
a garota chamou o advogado Wesley, pedindo:
—
Liga o gravador e vem comigo. — Assim que o fizeram, Bruna abordou os três
cavalheiros. — Venham, senhores, vou lhes oferecer o melhor café da cidade.
O
grupo pegou o elevador e desceu dois andares. A copa dali era menos usada e
Bruna teria condições de agir. Chegaram e a garota piscou para Wesley, que
abordou Jonatas e Ricardo, advogados da Cotezul:
— E
então senhores, onde estudaram?
E os
levou para uma mesa. Enquanto isso, Bruna conversava de Lutierres:
— O
que o preocupa?
Naquele
instante, a senhora Lígia, copeira daquele andar, entregou-lhe uma xícara de
café fumegante ao senhor:
—
Obrigado! — E quando olhou para a senhora, Lutierres a reconheceu. — Lígia?
Lígia Eldorado? É você?
—
Ora! Se não é Lutierres Silvino.
—
Quanto tempo! Então foi pra cá que você veio?
—
Estou aqui há 10 anos.
—
Uau! E não mudou nada desde que te conheci. Sempre muito bela.
Bruna
observava os dois, pouco acreditando naquela coincidência.
—
Obrigada! E como está a sua esposa, a Fernanda?
—
Faleceu há 5 anos.
—
Lamento sua perda, Lutierres. Vocês formavam um belo casal.
—
Obrigado!
O
telefone da copa tocou e Lígia o atendeu, anotando o pedido.
—
Lutierres, preciso ir, mas foi bom te rever.
Ele
puxou um cartão e o entregou.
— Me
liga, por favor!
—
Claro — Lígia respondeu um pouco tímida e saiu.
O
senhor suspirou, sob o olhar atento de Bruna. Ele ficou encarando a xícara de
café, até que a sorveu.
— O
que me preocupa? As consequências dos erros cometidos.
— E
há algum jeito para isso? — questionou Bruna.
Ele
deu outro gole no café.
—
Jeito? Quem sabe? Talvez uma segunda chance… — disse, um pouco inseguro. — Pode
acontecer.
—
Será?
—
Não é uma certeza, então não aposte suas fichas nisso. Se puder corrigir um
erro, o faça de imediato. A vida nos cobrará toda negligência e covardia. — E
lhe piscou. — Ou acha que passei por tudo isso totalmente isento?
A
garota ponderou um pouco, insegura com a resposta:
—
Não sei dizer, senhor.
— Te
garanto que não, senhorita Bruna. Atente-se a isso. — Ele deu um largo sorriso.
— E parabéns! Lhe venderei a minha empresa.
—
Obrigada, senhor Lutierres. Mas o que o fez mudar tão rapidamente de ideia?
—
Nada demais — Mas ele demonstrava animação —. Há um telefone direto para essa
copa?
—
Sim. Claro.
Ela
passou o número para ele, que anotou nas costas de um dos seus cartões e
guardou na carteira.
—
Obrigado pela conversa, senhorita Bruna.
— Eu
que agradeço.
—
Rapazes, assinem o acordo sob a tutela da senhorita Bruna, e pelo primeiro
valor que propusemos.
O desconto foi outra pequena vitória para
a garota. Ali foi tudo rápido, em minutos, os três senhores seguiam para a
saída.
—
Obrigado, Bruna!
—
Até!
Assim
que saíram, ela correu para o elevador de serviço e subiu para a sala de
reuniões. Ali encontrou Gibbys transtornado.
—
Onde vocês estavam?
Fria,
ela respondeu:
— Resolvendo!
E lhe jogou a pasta com os documentos assinados. Ninguém na empresa tocou nesse assunto durante um longo tempo.
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