Ardes - Capítulo 121

A ligação seria rápida, mas importante.

— Diga, Valéria, como estão as coisas? Avanços?

— Olha, não pensei que seria tão fácil.

— Ele desconfia de algo? — Bruna não queria riscos.

— Acho difícil, ou então ele disfarça muito bem.

Bruna se satisfazia com essas pequenas vitórias.

— E marcaram… — Ela ficou sem graça em perguntar, mas manteve o foco. — … a primeira noite?

— Sim! Marcamos para amanhã, no motel Atécubanos[1].

Bruna quase se ensandecia.

— Sabe o que eu queria? Queria, na hora em que vocês estivessem lá, entrar no quarto com meu pai, minha mãe e a sonhadora da minha irmã, e acabar de vez com a santidade desse inútil.

— Credo, amiga! E como ficaria minha situação? Nós dois nus, fazendo amor, gruda…

— Chega! — berrou Bruna, que não gostou de ouvir aquilo. — Me poupe desses detalhes.

— Mas o que é que você tem que ficou tão alterada?

E a colega desconversou:

— Que horas estará lá?

— Marcamos para as 21 horas.

— Vão na caminhonete, certo?

— Certo.

— Ótimo! Às 20h30 o fotógrafo se posicionará para fazer o flagrante.

— Tudo bem, Bruna, mas quero complementar com algo.

— E o que seria?

— Sinto que nosso alvo parece um pouco diferente do que você me falou.

Valéria queria detalhar isso, mas Bruna respondeu rápido, interrompendo-a:

— Está vendo como ele é escorregadio? É assim mesmo que ele age. Já está conseguindo te fragilizar, assim como fez com minha irmã. — Isso sufocou outros pensamentos de sua cumplice. — Preciso desligar. Amanhã acertaremos qualquer último detalhe.

— Tudo bem. Até amanhã. — Do outro lado da linha, apenas o bipe do sinal perdido.

Valéria desligou o aparelho, pensando nas palavras da amiga.

“Não me importo. A mim, ao menos um punhado de prazer.”

Terminou de se arrumar dentro do seu closet, pegou o carro e saiu. Entre 10h e 12h, fez compras dentro de um dos shoppings da cidade. Comprou lingeries, perfumes, sapatilhas, vestidos, acessórios e uma infinidade de coisas. Mas aconteceu algo que chamou sua atenção. A atendente de uma das lojas a chamou pelo nome. Ali se deu conta de que era a quinta vez que fazia o mesmo ritual de compras.

“O que está acontecendo comigo?”

Por instantes, se sentiu insegura, com vontade de conversar com alguém, e não pensou em outra pessoa.

— Podemos almoçar juntos?

— Só não estou muito produzido. Se você não se importar…

Ela sentiu um alívio com o aceite.

— Não! Claro que não.

O problema não foi ele estar usando suas roupas de serviço, foi a beleza de Valéria, que irradiava como um diamante refletindo a luz do sol. Foi mais ou menos assim que os demais funcionários a viram.

— É muita areia para o seu caminhão — brincou um rapaz, enquanto ela encostava o carro.

— O jeito é fazer em duas viagens, mas não desisto da carga. — Riu assim que embarcou.

O beijo foi rápido, e o casal saiu para o almoço.



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