A ligação seria rápida, mas importante.
—
Diga, Valéria, como estão as coisas? Avanços?
—
Olha, não pensei que seria tão fácil.
—
Ele desconfia de algo? — Bruna não queria riscos.
—
Acho difícil, ou então ele disfarça muito bem.
Bruna
se satisfazia com essas pequenas vitórias.
— E
marcaram… — Ela ficou sem graça em perguntar, mas manteve o foco. — … a
primeira noite?
—
Sim! Marcamos para amanhã, no motel Atécubanos[1].
Bruna quase se ensandecia.
—
Sabe o que eu queria? Queria, na hora em que vocês estivessem lá, entrar no
quarto com meu pai, minha mãe e a sonhadora da minha irmã, e acabar de vez com
a santidade desse inútil.
—
Credo, amiga! E como ficaria minha situação? Nós dois nus, fazendo amor, gruda…
—
Chega! — berrou Bruna, que não gostou de ouvir aquilo. — Me poupe desses
detalhes.
—
Mas o que é que você tem que ficou tão alterada?
E a
colega desconversou:
—
Que horas estará lá?
—
Marcamos para as 21 horas.
—
Vão na caminhonete, certo?
—
Certo.
—
Ótimo! Às 20h30 o fotógrafo se posicionará para fazer o flagrante.
—
Tudo bem, Bruna, mas quero complementar com algo.
— E
o que seria?
—
Sinto que nosso alvo parece um pouco
diferente do que você me falou.
Valéria
queria detalhar isso, mas Bruna respondeu rápido, interrompendo-a:
— Está
vendo como ele é escorregadio? É
assim mesmo que ele age. Já está conseguindo te fragilizar, assim como fez com
minha irmã. — Isso sufocou outros pensamentos de sua cumplice. — Preciso
desligar. Amanhã acertaremos qualquer último detalhe.
—
Tudo bem. Até amanhã. — Do outro lado da linha, apenas o bipe do sinal perdido.
Valéria
desligou o aparelho, pensando nas palavras da amiga.
“Não
me importo. A mim, ao menos um punhado de prazer.”
Terminou
de se arrumar dentro do seu closet,
pegou o carro e saiu. Entre 10h e 12h, fez compras dentro de um dos shoppings
da cidade. Comprou lingeries, perfumes, sapatilhas, vestidos, acessórios e uma
infinidade de coisas. Mas aconteceu algo que chamou sua atenção. A atendente de
uma das lojas a chamou pelo nome. Ali se deu conta de que era a quinta vez que
fazia o mesmo ritual de compras.
“O
que está acontecendo comigo?”
Por
instantes, se sentiu insegura, com vontade de conversar com alguém, e não
pensou em outra pessoa.
—
Podemos almoçar juntos?
— Só
não estou muito produzido. Se você não se importar…
Ela
sentiu um alívio com o aceite.
—
Não! Claro que não.
O
problema não foi ele estar usando suas roupas de serviço, foi a beleza de
Valéria, que irradiava como um diamante refletindo a luz do sol. Foi mais ou
menos assim que os demais funcionários a viram.
— É
muita areia para o seu caminhão — brincou um rapaz, enquanto ela encostava o
carro.
— O jeito é fazer em duas viagens, mas não desisto da carga. — Riu assim que embarcou.
O beijo foi rápido, e o casal saiu para o almoço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário