Ardes - Capítulo 106

 

O ano virou, mas não para todos. No bar do Macaio a vida continuava no mesmo ritmo. Naqueles dias, Onofre ganhou uma grana boa no carteado, quase ¼ do valor que recebera como indenização trabalhista. A vida continuava só bebedeira e galhofa.

Mas aconteceu algo diferente, uma briga dentro do bar, e a família do Zé das Garrafas apareceu para saber do ocorrido. Foi quando uma das irmãs dele viu Badé e se agradou.

— Acho que rolou um clima aí — Onofre riu ao dizer isso.

— Sai fora! Não quero saber de enrolamentos.

Badé não gostava sequer de lembrar da vida de casado. Terminou de forma conturbada, o que o deixou traumatizado.

— Mas ela até que é bonita. Olha bem.

Ele ouvia Onofre, mas ignorava a ideia. Um dia ele se irritou e resolveu explicar de uma vez por todas:

— Quanto tempo até que ela peça para que eu pare de beber? Acha mesmo que eu trocaria a bebida por um par de pernas? Não mesmo! Seria frustrante para os dois.

Contudo, Onofre desconfiava que havia mais alguma coisa, mesmo que o amigo nada lhe falasse, mas também não o importunava. Não precisou, pois naquele dia, Darlene, a irmã de Zé das Garrafas, foi conversar com Badé.

— Sou do interior — lhe disse —, queria apenas uma companhia.

— Não sou eu, Darlene — pontuou, ríspido, Badé.

— Meu último marido batia em mim, era muito ciumento, mas eu gostava dele.

— E por que não estão juntos?

— Ele se engraçou com uma mulher casada. O marido traído descobriu e o matou.

Badé ficou sem graça ouvindo a história.

— Você é uma moça simpática, Darlene. Por que não vai atrás da sua felicidade?

— Mas é o que estou tentando fazer conversando contigo.

— Lamento mesmo. Se insistirmos, só lhe darei agonia e pranto.

— Como pode saber se nem tentou?

— É por que eu sei o que estou falando. — Badé se levantou da cadeira. — Não me procure mais, eu te peço.

Ela nunca mais foi vista por ali. Onofre também não o importunou mais com aquele assunto. Dias depois, Onofre teve outra sorte. Fez uma aposta num jogo de azar e ganhou uma pequena bolada. Isso ele contou ao amigo.

— Uau! Que sorte — Badé o felicitou.

— Estou com tudo! — Onofre gargalhou.

— Está? Dizem que sorte no jogo, azar no amor — murmurou Badé, bebericando sua pinga.

Aquilo deixou uma sombra no pensamento de Onofre.

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