O ano virou, mas não para todos. No bar do Macaio a vida continuava no mesmo ritmo. Naqueles dias, Onofre ganhou uma grana boa no carteado, quase ¼ do valor que recebera como indenização trabalhista. A vida continuava só bebedeira e galhofa.
Mas
aconteceu algo diferente, uma briga dentro do bar, e a família do Zé das
Garrafas apareceu para saber do ocorrido. Foi quando uma das irmãs dele viu
Badé e se agradou.
—
Acho que rolou um clima aí — Onofre riu ao dizer isso.
—
Sai fora! Não quero saber de enrolamentos.
Badé não gostava sequer de lembrar da vida de casado. Terminou de forma conturbada, o que o deixou traumatizado.
—
Mas ela até que é bonita. Olha bem.
Ele
ouvia Onofre, mas ignorava a ideia. Um dia ele se irritou e resolveu explicar
de uma vez por todas:
—
Quanto tempo até que ela peça para que eu pare de beber? Acha mesmo que eu
trocaria a bebida por um par de pernas? Não mesmo! Seria frustrante para os
dois.
Contudo,
Onofre desconfiava que havia mais alguma coisa, mesmo que o amigo nada lhe
falasse, mas também não o importunava. Não precisou, pois naquele dia, Darlene,
a irmã de Zé das Garrafas, foi conversar com Badé.
—
Sou do interior — lhe disse —, queria apenas uma companhia.
—
Não sou eu, Darlene — pontuou, ríspido, Badé.
—
Meu último marido batia em mim, era muito ciumento, mas eu gostava dele.
— E
por que não estão juntos?
—
Ele se engraçou com uma mulher casada. O marido traído descobriu e o matou.
Badé
ficou sem graça ouvindo a história.
—
Você é uma moça simpática, Darlene. Por que não vai atrás da sua felicidade?
—
Mas é o que estou tentando fazer conversando contigo.
—
Lamento mesmo. Se insistirmos, só lhe darei agonia e pranto.
—
Como pode saber se nem tentou?
— É
por que eu sei o que estou falando. — Badé se levantou da cadeira. — Não me
procure mais, eu te peço.
Ela
nunca mais foi vista por ali. Onofre também não o importunou mais com aquele
assunto. Dias depois, Onofre teve outra sorte. Fez uma aposta num jogo de azar
e ganhou uma pequena bolada. Isso ele contou ao amigo.
—
Uau! Que sorte — Badé o felicitou.
—
Estou com tudo! — Onofre gargalhou.
— Está? Dizem que sorte no jogo, azar no amor — murmurou Badé, bebericando sua pinga.
Aquilo deixou uma sombra no pensamento de Onofre.
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