A última semana antes do Natal foi bem resolutiva para algumas pessoas. As
ligações aconteciam e a dinâmica da vida acelerava cada vez mais, mudando os
resultados a cada palavra, a cada movimento.
—
Rainen, está pronto!
—
Poxa, obrigado! E como faremos quanto ao pagamento?
—
Como você sempre faz preços camaradas nas manutenções dos carros lá de casa, te
dou um bom desconto e ainda parcelo em três vezes.
—
Caramba, valeu mesmo. Passarei aí no fim da tarde.
—
Estamos esperando!
Outro
que via mudanças era Edwin.
—
Tem certeza que não há outra saída, senhor Persie?
Persie era o presidente da Dezinea.
—
Olha, Edwin, os analistas não conseguem encontrar uma solução.
— Se
fôssemos para outro país, isso não ajudaria?
—
Não. O que fizemos com vocês foi uma tentativa, um tiro no escuro, e
infelizmente não vingou.
—
Persie, vamos tentar mais um pouco. Sinto que vamos conseguir alguma coisa.
—
Não seja tão otimista, Edwin. Sua frustração pode ser grande. — O presidente
fez uma pausa e complementou: — Olha, vamos tentar manter as operações aí.
Conte dois anos a partir do Ano-Novo.
—
Obrigado!
—
Não agradeça. Precisaremos de um verdadeiro milagre para salvar a empresa.
Já a
situação de Bruna na empresa era bem cômoda, ainda mais ela sendo tão próxima
do dono. Então, agora a sua preocupação era outra.
—
Oi, Valter, tudo bem?
—
Nem acredito que está me ligando.
—
Ora, o mundo dá voltas, e não são poucas.
Mas
ele ignorou aquilo.
— O
que você quer?
—
Preciso da sua ajuda.
—
Com o quê?
—
Quero acabar com o namoro da minha irmã.
—
Ah, não… Ainda com essa ideia?
—
Fala assim porque não é na sua família que o comedor de graxa vai entrar.
Valter
riu horrores com aquele nome.
— É
assim que você chama ele?
— Me
ajuda, por favor.
—
Tudo bem. Não tenho outra coisa pra fazer mesmo. Que ao menos seja divertido.
—
Cairão algumas lágrimas, mas as risadas serão nossas.
Na
Andarate, Mario recebeu uma ligação do representante dos fabricantes.
— …
esse termo é incondicional.
—
Nossa, Carlos! Estou sem palavras.
— Eu
entendo, Mario. Também fiquei um pouco desnorteado na reunião, quando me
passaram a informação.
— Um
acréscimo de 50% nas empresas fornecedoras.
—
Sim! A sua ideia tem aumentado muito o lucro deles. Normal que venham a tentar
se fortalecer mais ainda no mercado.
—
Tudo bem. Vou conversar com Elizabeth e tentar fazer os ajustes. Avise que no
início do ano tudo estará operando.
E as
ligações continuavam…
—
Senhora Letícia?
— É
ela que está falando.
—
Sou Alison, dos cursos da prefeitura. Ligo para solicitar que a senhora traga
RG, CPF e comprovante de residência para efetuar a matrícula no curso de
operador de micro. Um aluno desistiu e a senhora assumiu a vaga. É um curso de
4 horas diárias, com duração de 5 dias, aplicado de 26 a 30 de dezembro. O
certificado ficará pronto no último dia de curso.
—
Levarei ainda hoje.
— A
prefeitura agradece. Tenha uma boa tarde.
—
Boa tarde!
Mas
havia também ligações escusas…
— E
então? Novidades?
—
Marcus, estou de olho, mas não há o que falar até agora.
— E
como avalia essa chegada em outro país, Bertiga?
Bertiga
era um agente de mercados que prestava consultorias informais para Marcus,
informando sobre empresas que não estavam tão bem, mas que tinham potencial. De
posse das informações, Marcus decidia se faria ou não uma oferta de compra.
—
Vejo com desconfiança.
—
Pensei que poderia ser uma expansão do empreendimento — Marcus disse isso
apenas para incitar a resposta do colega.
—
Não sei. O capital deles não está tão bom. Eles não têm conseguido se firmar
desde a demora na correção dos problemas dos primeiros motores. Isso não
alavanca as vendas, logo, a despesa está alta e as vendas em queda. Esse
desembarque em outro país pode significar uma medida desesperada.
As
palavras aguçaram os instintos empresariais de Marcus.
—
Bertiga, me envie uma planilha com esses dados.
—
São informações rasas. Não dá pra
alavancar uma tomada de decisões.
— Se
demorar, outros irão atrás da empresa.
—
Façamos assim: nos próximos seis meses, passarei um pente fino em todas as
operações da empresa e te mandarei um relatório. Aí, sim, você poderá armar sua
estratégia.
—
Não sei como te pagar, Bertiga. — Marcus riu.
—
Ah, sabe sim. Sabe muito bem. — Ele riu de volta.
Entre
ambos havia outros negócios ocultos.
—
Então marcaremos em breve.
—
Aguardo!
Em
outros lugares, trivialidades eram conversadas:
—
Oi, tudo bem?
—
Não. Estou ligando pra dizer que vou sair mais cedo.
Astor
olhou para o relógio e estranhou.
—
Mas ainda são 15 horas.
—
Não estou bem. É dor de cabeça.
Ele
estranhou, pois sabia que isso não era comum em Margareth, até porque ela
praticava exercícios com frequência.
—
Olha, vamos fazer o seguinte: eu te acompanho ao hospital.
—
Não precisa, acho que um analgésico resolve.
—
Você já tomou algum?
—
Acho que dois.
— Então não resolve. Vou repassar o serviço aqui e te ligo.
Mesmo com a dor de cabeça, Margareth se sentiu bem com Astor cuidando dela.
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