A única diferença, naquele dia, foi que ele amanheceu chuvoso e mais frio que os
demais. A vantagem desses dias era que as pessoas se vestiam com mais
elegância. As desvantagens eram a molhação e a correria que causava. Por conta
disso, uma parte dos funcionários da Lemaw entrava na empresa pela garagem.
Também porque a entrada ficava mais próximo da parada de ônibus. Por isso,
Bruna e outros trabalhadores caminharam até o elevador e o aguardaram. Dali ela
viu que Margareth estava dentro de seu veículo e, vez ou outra, olhava para os
lados. Ela só saiu do carro quando outro veículo, um mais simples, estacionou.
O
elevador chegou e Bruna deixou que o grupo subisse, permanecendo só. Após
alguns instantes, chegaram Margareth e Astor, que não conversavam, mas sorriam.
—
Bom dia! — cumprimentou Margareth.
—
Bom dia! — respondeu Bruna.
Astor permaneceu calado.
Então
o elevador chegou e os três embarcaram, com Bruna no meio dos dois, mas olhando
para o rapaz. Incomodado, ele cruzou os braços e baixou a cabeça. E assim que
as portas se abriram no seu andar, ele saiu, sua voz, quase não.
— Tchau…
E
ambas se despediram dele.
—
Que estranho!
—
Realmente — concordou Bruna —, esse não é o rapaz da comunicação?
—
Ele mesmo. Astor.
—
Sempre o achei muito soturno.
Margareth
não gostou do comentário e se calou, assistindo à garota descer em seu andar.
Bruna caminhou, rápida, para a sua sala, e, antes de colocar suas coisas na
mesa, o telefone tocou.
—
Bruna, o senhor Marcus gostaria de vê-la — informou o recepcionista.
Ela
voltou para o elevador e foi até o último andar. Cordial, o rapaz a recebeu:
— Bom
dia! Pode entrar, ele a aguarda.
—
Bom dia. Obrigada!
Ela
sentiu que o rapaz a olhou diferente, mas ignorou. Assim que entrou, foi
recebida por Marcus:
—
Bom dia! Como tem passado?
—
Estou bem! Bom dia.
—
Sente-se — ele solicitou.
E
ela obedeceu.
— Obrigada.
—
Bruna, você debutou para o mundo dos negócios numa atuação brilhante na
aquisição da DFG. E vejo que tem se habilitado para todas as análises e
observações de empresas que podem ser negociadas. Atitude de muita determinação
a sua, devo reconhecer. Mas há coisas que não posso permitir.
— É
um problema? — questionou a garota.
—
Não sei dizer, mas talvez você possa causá-lo. — Ele sorriu. — Quando fundei a
Lemaw, eu defini que trabalharia apenas com os melhores, para que pudéssemos
alcançar os melhores resultados, assim como você tem observado nesse tempo em
que está aqui. Então aprendi rápido que os melhores precisam ser bem-cuidados e
estimulados, pois isso faz com que deem o máximo de si no cumprimento de suas
atribuições, o que gera bons resultados para a Organização. Você concorda?
—
Faz todo o sentido.
—
Ótimo! Também o faz pra mim. — Ele digitou alguns comandos e, na tela diante de
Bruna, apareceram gráficos. — A Lemaw oferece bônus, premiações, participação
nos lucros, cursos internos, milhagens para viagens, distribuição de entradas,
confraternizações, banco de horas e uma biblioteca. Está ciente disso?
—
Sim, senhor!
—
Mas na sua ficha só consta o uso da biblioteca, e exclusivamente para o
empréstimo de livros técnicos. Curioso, não?
Ela
sorriu um pouco sem graça e tentou explicar:
—
Prefiro me estabelecer e depois pensar nessas coisas. Não trabalho na sua
empresa para fazer amizades nem para me divertir. Apenas permaneço focada.
— Se
privando desses momentos, faz um mal a você e outro à empresa — a repreendeu.
—
Confesso, também, que fico bem deslocada nesses ambientes.
—
Não me diga que terei que ensiná-la a se divertir. — Bruna permaneceu calada. —
Tudo bem, qualquer dia em que eu tiver uma oportunidade de entretenimento, eu a
convidarei.
—
Não sei o que dizer.
— Se
disser sim, já estará de bom tamanho.
—
Sim! Antecipadamente.
E riram.
Quem foi o mais esperto era difícil dizer: se Bruna, dando uma de desentendida, ou se Marcus, avançando em prol de seus interesses. Mas o tempo responderia essa pergunta.
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