— Oi!
—
Oi!
Foi
assim que Astor e Margareth se cumprimentaram na estação do Veículo Leve sobre Trilho.
Marcaram o encontro ali, para ela não ter que dirigir e pegar um engarrafamento
até o local do evento. Ambos tinham sorrisos radiante em seus lábios.
—
Que coisa.
— O
que foi?
—
Agora sei que você é bonita o tempo todo.
—
Ah, obrigada. Você também não é de se
jogar fora.
Gargalharam.
Mas
Astor mentiu. Margareth estava muito mais bela que nos outros dias e, próximos
um do outro, a diferença de estatura ficou bem evidente. Assim ele pôde
observá-la: a moça trajava jeans com uma blusinha e poucos acessórios, mas o
que roubou a cena foi o batom azul.
Ela
também fez uma boa avaliação sobre o rapaz de 26 anos, que trajava calça jeans
com uma camisa branca e botas. O que chamava a atenção era um cinto com fivela
estilo cowboy.
A
estação estava lotada, pois várias pessoas tiveram a mesma ideia, excedendo a
capacidade operacional dos vagões. Tanto que, antes de entrarem no veículo, foi
difícil para o casal ficar próximo.
—
Vou segurar a sua mão, senão vamos nos separar.
Quando
acabou de falar, Margareth segurou firme.
Assim
que o veículo estacionou e abriu as portas, um turbilhão de pessoas entrou,
consumindo todos os espaços do transporte em segundos. Astor puxou-a para si e
ficaram frente a frente, mas o excesso de pessoas os pressionou um contra o
outro e se colaram.
—
Desculpe!
Ela
abaixou um pouco e cochichou no ouvido do rapaz:
—
Sei não, acho que você está se aproveitando da situação, até porque o VLT não
está tão cheio.
Ele
riu, um pouco sem graça, mas, em instantes, se viu hipnotizado por Margareth:
os cabelos presos, o perfume agradável, a suavidade dos brincos, a boca. Ela
também se agradou bastante das observações que fez acerca de Astor e teve a
mente inundada por vários pensamentos.
Num
dado momento, ela avisou:
—
Estou sem posição, então vou colocar os braços sobre seus ombros, tudo bem?
—
Tudo bem.
E se
já pareciam um casal de namorados, agora demonstravam que a relação era antiga.
Para eles, havia certa satisfação em toda aquela situação.
Após
quinze minutos, o veículo abriu as portas na estação diante do estádio. Levou
algum tempo para perceberem que estavam sozinhos e se largarem do abraço, mas o
fizeram. Se ali havia grande movimento, diante dos portões do estádio a coisa
estava caótica: cambistas de última hora, quiosques de lanche, policiamento,
banheiros químicos.
—
Nossa! Não pensei que tanta gente curtisse Biga
Liga.
—
Também estou impressionado — complementou o rapaz.
Após
a revista para entrarem, viram que, mesmo cheio, o lugar estava organizado.
Havia muita segurança particular e pessoal de apoio. Lá dentro, quiosques
autorizados comercializavam várias coisas, e só era permitida a venda de
bebidas em copos descartáveis.
—
Vou pegar uma cerveja, você quer alguma coisa? — Astor ofereceu.
—
Vamos lá.
Entraram
na fila e ele pediu:
—
Uma cerveja.
—
Duas — Margareth complementou.
Olharam-se
e ele sorriu ao pagar.
O
show foi bastante animado, pois diversas músicas eram conhecidas do público,
que cantava junto os refrões.
Uma
hora e meia depois, faltavam duas ou três músicas para encerrarem o evento,
quando Margareth falou:
—
Melhor sairmos um pouco mais cedo para não pegarmos tanto tumulto. O que acha?
—
Por mim tudo bem.
—
Vou ao toalete — ela informou.
—
Vamos, te espero na porta e de lá nós saímos.
—
Segura meu copo?
Margareth
entrou e Astor a aguardou. Ali perto, um grupo de três moças fazia o mesmo e
uma delas, um pouco mais solta que as demais, olhou para o rapaz. Caminhou em
sua direção e o puxou para beijá-lo. Quando os lábios se tocariam, a mão
bloqueou o beijo.
—
Nem pense em fazer isso, sua vagabunda! — E Margareth a empurrou para trás. —
Se afasta dele!
—
Sua vadia! Quem pensa que…
O
soco seco atingiu o nariz da garota que, sangrando, caiu para trás. A colega,
vendo o que aconteceu, correu para chutar Margareth que, rápida, empurrou Astor
e foram um para cada lado, com a garota passando ao meio. Assim que o fez,
Margareth puxou-a pelo cabelo e a mesma caiu de costas no chão. Margareth
abaixou-se e socou seu nariz. A terceira havia saído do banheiro químico e
vinha traiçoeira para socar a agressora, que ainda estava agachada. Astor
gritou:
—
Atrás! — E lançou a cerveja no rosto da moça que ameaçava sua acompanhante.
Abaixada,
Margareth se levantou e, à meia-altura, socou em gancho, atingindo o queixo da
moça, que caiu desmaiada.
Astor
olhou para os lados, vendo os seguranças se aproximarem, e a puxou pela mão:
—
Vamos!
Correram
rumo à saída e de lá para a estação do VLT.
Quando
chegavam, um veículo estacionava e eles entraram com centenas de pessoas.
Estavam ofegantes quando, novamente, foram pressionados um contra o outro.
—
Meu Deus! Da onde você tirou tudo aquilo?
Ela
inspirou fundo tentando controlar a respiração.
—
Bom, eu pratico boxe três vezes por semana.
—
Por um instante pensei que era mais uma viciada na franquia Rocky.
— De
onde acha que me veio a vontade de praticar?
Riram
e se silenciaram por alguns instantes. Então Margareth sentiu o pulsar do
coração de Astor. Quase abraçados como namorados, vinham sentindo a respiração
um do outro, e quando desembarcaram na estação inicial, certa tristeza se
apossou deles.
—
Margareth, lamento ter te colocado nessa situação e nessa confusão toda…
—
Sem problema.
—
Então eu vou nessa. Obrigado por tu…
— Eu
posso te dar uma carona se você quiser — ela tentou encompridar a conversa.
—
Ah, não precisa. Moro aqui perto.
Ela
fixou o olhar nele, pedindo:
—
Deixa eu te levar em casa, por favor.
Diante
do pedido, ele cedeu.
—
Então tá.
Dali
foram para o estacionamento e, em minutos, o grande e luxuoso sedan parava na
zona oeste da cidade. A rua estava em paz, vez ou outra, passava outro veículo.
Ele
desprendeu o cinto e abriu a porta.
—
Bem Margareth, obriga…
—
Você é casado? — ela fez a pergunta à queima-roupa.
—
Casado, eu? De forma alguma.
—
Tem qualquer tipo de relacionamento? — Ela o olhou séria.
—
Relacionamento? Não, nenhum.
—
Então eu fui uma companhia tão ruim assim? Sou feia? Desagradável?
E os
olhos de Margareth marejaram.
—
Pelo amor de Deus, não! Havia anos que eu não tinha um encontro tão bom. E você
é linda e muito agradável.
Ela
segurava o pranto quando perguntou:
— Se foi tão bom, se sou tudo isso, por que você não me beijou?
A pergunta desestabilizou Astor.
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