Ardes - Capítulo 072

 

— Oi!

— Oi!

Foi assim que Astor e Margareth se cumprimentaram na estação do Veículo Leve sobre Trilho. Marcaram o encontro ali, para ela não ter que dirigir e pegar um engarrafamento até o local do evento. Ambos tinham sorrisos radiante em seus lábios.

— Que coisa.

— O que foi?

— Agora sei que você é bonita o tempo todo.

— Ah, obrigada. Você também não é de se jogar fora.

Gargalharam.

Mas Astor mentiu. Margareth estava muito mais bela que nos outros dias e, próximos um do outro, a diferença de estatura ficou bem evidente. Assim ele pôde observá-la: a moça trajava jeans com uma blusinha e poucos acessórios, mas o que roubou a cena foi o batom azul.

Ela também fez uma boa avaliação sobre o rapaz de 26 anos, que trajava calça jeans com uma camisa branca e botas. O que chamava a atenção era um cinto com fivela estilo cowboy.

A estação estava lotada, pois várias pessoas tiveram a mesma ideia, excedendo a capacidade operacional dos vagões. Tanto que, antes de entrarem no veículo, foi difícil para o casal ficar próximo.

— Vou segurar a sua mão, senão vamos nos separar.

Quando acabou de falar, Margareth segurou firme.

Assim que o veículo estacionou e abriu as portas, um turbilhão de pessoas entrou, consumindo todos os espaços do transporte em segundos. Astor puxou-a para si e ficaram frente a frente, mas o excesso de pessoas os pressionou um contra o outro e se colaram.

— Desculpe!

Ela abaixou um pouco e cochichou no ouvido do rapaz:

— Sei não, acho que você está se aproveitando da situação, até porque o VLT não está tão cheio.

Ele riu, um pouco sem graça, mas, em instantes, se viu hipnotizado por Margareth: os cabelos presos, o perfume agradável, a suavidade dos brincos, a boca. Ela também se agradou bastante das observações que fez acerca de Astor e teve a mente inundada por vários pensamentos.

Num dado momento, ela avisou:

— Estou sem posição, então vou colocar os braços sobre seus ombros, tudo bem?

— Tudo bem.

E se já pareciam um casal de namorados, agora demonstravam que a relação era antiga. Para eles, havia certa satisfação em toda aquela situação.

Após quinze minutos, o veículo abriu as portas na estação diante do estádio. Levou algum tempo para perceberem que estavam sozinhos e se largarem do abraço, mas o fizeram. Se ali havia grande movimento, diante dos portões do estádio a coisa estava caótica: cambistas de última hora, quiosques de lanche, policiamento, banheiros químicos.

— Nossa! Não pensei que tanta gente curtisse Biga Liga.

— Também estou impressionado — complementou o rapaz.

Após a revista para entrarem, viram que, mesmo cheio, o lugar estava organizado. Havia muita segurança particular e pessoal de apoio. Lá dentro, quiosques autorizados comercializavam várias coisas, e só era permitida a venda de bebidas em copos descartáveis.

— Vou pegar uma cerveja, você quer alguma coisa? — Astor ofereceu.

— Vamos lá.

Entraram na fila e ele pediu:

— Uma cerveja.

— Duas — Margareth complementou.

Olharam-se e ele sorriu ao pagar.

O show foi bastante animado, pois diversas músicas eram conhecidas do público, que cantava junto os refrões.

Uma hora e meia depois, faltavam duas ou três músicas para encerrarem o evento, quando Margareth falou:

— Melhor sairmos um pouco mais cedo para não pegarmos tanto tumulto. O que acha?

— Por mim tudo bem.

— Vou ao toalete — ela informou.

— Vamos, te espero na porta e de lá nós saímos.

— Segura meu copo?

Margareth entrou e Astor a aguardou. Ali perto, um grupo de três moças fazia o mesmo e uma delas, um pouco mais solta que as demais, olhou para o rapaz. Caminhou em sua direção e o puxou para beijá-lo. Quando os lábios se tocariam, a mão bloqueou o beijo.

— Nem pense em fazer isso, sua vagabunda! — E Margareth a empurrou para trás. — Se afasta dele!

— Sua vadia! Quem pensa que…

O soco seco atingiu o nariz da garota que, sangrando, caiu para trás. A colega, vendo o que aconteceu, correu para chutar Margareth que, rápida, empurrou Astor e foram um para cada lado, com a garota passando ao meio. Assim que o fez, Margareth puxou-a pelo cabelo e a mesma caiu de costas no chão. Margareth abaixou-se e socou seu nariz. A terceira havia saído do banheiro químico e vinha traiçoeira para socar a agressora, que ainda estava agachada. Astor gritou:

— Atrás! — E lançou a cerveja no rosto da moça que ameaçava sua acompanhante.

Abaixada, Margareth se levantou e, à meia-altura, socou em gancho, atingindo o queixo da moça, que caiu desmaiada.

Astor olhou para os lados, vendo os seguranças se aproximarem, e a puxou pela mão:

— Vamos!

Correram rumo à saída e de lá para a estação do VLT.

Quando chegavam, um veículo estacionava e eles entraram com centenas de pessoas. Estavam ofegantes quando, novamente, foram pressionados um contra o outro.

— Meu Deus! Da onde você tirou tudo aquilo?

Ela inspirou fundo tentando controlar a respiração.

— Bom, eu pratico boxe três vezes por semana.

— Por um instante pensei que era mais uma viciada na franquia Rocky.

— De onde acha que me veio a vontade de praticar?

Riram e se silenciaram por alguns instantes. Então Margareth sentiu o pulsar do coração de Astor. Quase abraçados como namorados, vinham sentindo a respiração um do outro, e quando desembarcaram na estação inicial, certa tristeza se apossou deles.

— Margareth, lamento ter te colocado nessa situação e nessa confusão toda…

— Sem problema.

— Então eu vou nessa. Obrigado por tu…

— Eu posso te dar uma carona se você quiser — ela tentou encompridar a conversa.

— Ah, não precisa. Moro aqui perto.

Ela fixou o olhar nele, pedindo:

— Deixa eu te levar em casa, por favor.

Diante do pedido, ele cedeu.

— Então tá.

Dali foram para o estacionamento e, em minutos, o grande e luxuoso sedan parava na zona oeste da cidade. A rua estava em paz, vez ou outra, passava outro veículo.

Ele desprendeu o cinto e abriu a porta.

— Bem Margareth, obriga…

— Você é casado? — ela fez a pergunta à queima-roupa.

— Casado, eu? De forma alguma.

— Tem qualquer tipo de relacionamento? — Ela o olhou séria.

— Relacionamento? Não, nenhum.

— Então eu fui uma companhia tão ruim assim? Sou feia? Desagradável?

E os olhos de Margareth marejaram.

— Pelo amor de Deus, não! Havia anos que eu não tinha um encontro tão bom. E você é linda e muito agradável.

Ela segurava o pranto quando perguntou:

— Se foi tão bom, se sou tudo isso, por que você não me beijou?

A pergunta desestabilizou Astor.



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