Era
uma noite atípica. Rainen ponderou isso ao ver o papel amarrotado que listava
os serviços:
PLACA: GUY 1231 IV — MOTOR
DO LIMPADOR DE PARABRISA
PLACA: MEL 9851 AM —
ACENDEDOR DE CIGARRO
PLACA: LIL 6667 CA —
DEPÓSITO DE ÁGUA
PLACA: LEV 3354 LU — CAIXA DE
FUSÍVEIS
“Vai ser moleza.”
Resolveu,
então, começar pelo que considerava mais trabalhoso, a caixa de fusíveis. Ali
conjecturava, vasculhando e testando os fios.
“Talvez
seja a fiação da alimentação.”
Até
que achou um parafuso bem folgado, quase caindo. Era coisa de alguns veículos
antigos, os novos vinham com conectores. Rainen atarraxou o parafuso e o
prendeu com cola de silicone.
“Deve
segurar por um bom tempo.”
No
outro veículo, ele encontrou fácil o problema limpador do para-brisa. O
parafuso do motor corroeu o dentilhado do braço e por isso não girava. Rainen
pegou um jogo de braços novo e o trocou. Testou e funcionava.
O
problema do acendedor de cigarro era apenas um fusível. Ele o trocou e o
equipamento funcionou.
E,
por fim, o mais fácil: o depósito de água. O fato é que, estranhamente, esse
recipiente estava rachado.
“Como
isso aconteceu?”
Era
algo inusitado. Ele sabia que só um forte impacto danificaria a peça daquela
maneira, mas o carro não tinha marcas. Ou de forma proposital, mas a rachadura
estava próxima da rosca, e na parte de baixo. Na hora de tirá-la foi uma luta.
A presilha não soltava e também não dava espaço para entrar um alicate ou chave
de fenda.
—
Droga! — xingou nervoso com aquilo.
Tentou
destorcer, girando todo o recipiente, mas o pior aconteceu: quebrou toda a base
do depósito. Ele temia que algum pedaço caísse dentro da tubulação. Sem outra
opção, usou um pano para obstruir a entrada do tubo e daí talhava os pedaços de
plástico que sobraram e ainda permaneciam presos, travados pela presilha.
Estava
nervoso com o momento, quando o telefone tocou. Não quis parar o serviço, então
deixou o aparelho chamar até a ligação cair e continuou forçando o plástico,
conseguindo quebrar mais um pedaço.
“Acho
que só mais um pouco, só mais um pouquin…”
Novamente
o telefone tocou e ele não pôde ignorar. Deixou o serviço e o atendeu.
—
Alô!
—
Alô?
Ele conhecia aquela voz.
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