Ardes - Capítulo 058


Eram 17h42 daquela quinta-feira. As transações financeiras não davam indicativo de que diminuiriam nem em volume nem em valores. Em meio à rotina caótica, raciocinou:

“Isso não está certo.”

Então o telefone tocou.

— Andarate Representações, boa tarde — ela atendeu, mecanicamente.

— Boa tarde! A senhorita Renata.

— É ela quem está falando. Quem fala?

— Pensei que me reconheceria pela voz.

Uma breve pausa, até que ela respondeu:

— Rainen?!

— Sou eu, amor.

— Desculpe, é que o volume de trabalho aqui é altíssimo.

— Disso eu tenho certeza — comentou impressionado.

— Está tudo bem? Estou com saudades. — Ela tentava se reestabilizar após a forte emoção.

— Melhor agora que ouço a sua voz. Esses dois meses foram cruéis longe de você.

— Nem quero falar sobre isso, senão eu abandono tudo aqui e corro até você. — Riram e ela mudou de assunto: — E como vão as coisas?

— É sobre isso que quero falar. Fui liberado do período de internato, saio às 17 horas. De lá, vou para o Tony e fico das 18 horas às 22 horas. Só para avisar.

A notícia a deixou muda do outro lado da linha.

— Renata? Alô?!

— Oi… oi… ainda estou aqui.

— Ah, bem, talvez esteja ocupada. Não quero atrapalhar. Liguei só para avisar mesmo.

A garota teve certa dificuldade em responder, já que pensamentos inoportunos a incomodavam.

— Ok. Tudo bem. Obrigada!

— Você está estranha.

— Tem muito serviço aqui — justificou.

— Tudo bem, eu vo…

— Posso te ligar amanhã de manhã? — ela o interrompeu.

— Pode, claro. É o mesmo prefixo que te passei, só muda o final, que é 3434.

— Ok! Beijos e até mais. — E desligou.

Terminada a ligação, ele foi para a parada de ônibus e, de lá, para a oficina. Sua jornada estava longe de acabar.

Quando Renata colocou o telefone no gancho, o caos se instaurou em seu ser. A voz de Rainen a levou para um mundo de sonhos e desejos, algo emocional, sensível e, ao mesmo tempo, cruel. Mesmo com a realidade lhe chamando, através de ligações que se acumulavam, ela suspirou.

“Preciso de água.”

Mera estratégia para se acalmar. Levantou-se e foi ao bebedouro. De lá voltou mais estável, mais contida, e assim permaneceu até terminar o serviço e retornar para casa. Foi só ali, na mesa de jantar, diante da conversa animada de seus pais, que ela disse mais alguma coisa:

— Rainen me ligou. — Segurou o sorriso.

Seus pais olharam para ela, dando-lhe atenção:

— Que bom, filha. E o que ele contou? — perguntou Elizabeth.

— Que está liberado do período de internato — respondeu serena.

— Esse é um rapaz de fibra, de garra.

— Não sei se estou enganada, mas você parece muito empolgado quando fala dele.

— Eu não. — Ele sorriu e piscou para a esposa.

Renata percebeu.

— E o que intenta, filha?

— Quero sair com ele no sábado e vê-lo no domingo.

Mario servia a sobremesa para as duas.

— Me parece saudável. — Elizabeth olhou séria para ele. — E o que pretendem fazer?

A pergunta pegou a garota de surpresa.

— Ainda não sei, talvez um cinema. No domingo, eu gostaria de almoçar com ele, se me permitirem — disse Renata, calma e segura de si.

— Mas é claro, filha. Pode marcar.

A garota se levantou e abraçou o pai.

— Obrigada!

Ela correu pelas escadas, indo para o quarto. Ainda na mesa de jantar, os pais conversaram:

— Acha prudente, Mario?

— Pelo que passamos com ela, acho que sim, mas precisamos criar outros mecanismos de controle, entende?

— Concordo, mas me preocupo.

— Nós lhe demos uma boa criação, e educação, além de amor e carinho. Agora é corrigir os pequenos deslizes e torcer para que tudo saia bem.

— Você está bem confiante, hein?!

— Claro. — Mario abraçou a esposa. — A propósito, você tem o telefone do Sandro?

— Seu malandro… — Elizabeth riu e deu um tapa no ombro do marido.

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