“— …Não
se sabe ao certo quando, onde ou como o Governo construiu grandes naves, e que
elas, nesse momento, estão em operação em algum ponto desconhecido.
O
jornalista, que entrevistava o convidado por telefone, o questiona:
— Marciolo,
você que é correspondente internacional a mais de 15 anos. Isso o que está nos
dizendo é fato?
—
Olha, Gabine, minha fonte me passou essas informações com 100% de certeza.
—
Sua fonte teria como nos repassar mais detalhes?
O
repórter de campo rebate imediatamente:
— Sim.
Teria. Mas estou tentando falar com ele faz dois dias, e não consigo. Por sorte
eu consegui gravar a nossa conversa e disponibilizarei o áudio em meu site
pesso…
A ligação caiu.
— Marciolo!
Alô! Marciolo!? — Mas não houve resposta. — Parece que tivemos um problema
técnico no contato com o nosso correspondente internacional, Marciolo Gadenha, mas
assim que conseguirmos reestabelecer a comunicação, atualizaremos tudo o que
foi dit…”
O
programa foi interrompido bruscamente e agora tocava músicas clássicas. Algo
que nunca acontecera antes. Algo que passou despercebido por Pedro, ele estava
bem cansado e deitou. O sono pesado o arrebatou.
Foi com certo incômodo que Pedro se
sentou. Logo tocou o pescoço como se procurasse por algo que o tivesse agarrado
ali. Mas não havia mais nada. Um vento frio o chicoteou, e o horizonte mostrava
nuvens escuras, prenunciando a tempestade que se aproximava. Nova rajada de
vendo que lançou areia e grama sobre ele que, ao se proteger, virou-se para o
lado e pode ver uma grande baia e, em seu meio, um navio. Ele estava sem velas
e aparentemente encalhado. O rapaz não teve boa impressão sobre aquilo.
“Mas é um sonho. No máximo terei um
susto ou coisa parecida.”
E avançou até umas das extremidades da
baia. Ali chegando, olhou para os lados, pensando nalguma forma de chegar ao navio,
que não estava tão distante, mas não encontrava um meio. Confiante e curioso,
Pedro se pôs a andar e, se precisasse nadaria, mas, após 300 metros, viu o
porque do encalhe (ele entendia assim), pois a profundidade não passava de 40
centímetros. Assim chegou à nau e, com alguma dificuldade, subiu à bordo. Desse
modo viu que a nave tinha muitas partes faltantes, não destruídas, apenas
faltantes, principalmente à bombordo. Percebeu também que era diferente das
outras que vira aportada nas docas. Essa era mais espartana, com os cantos mais
agudos, quinas angulares, com mastros mais grossos e mais altos e os
entre-mastros eram mais distantes. Também era de uma coloração mais escurecida,
em alguns pontos totalmente pretas. Havia tábuas no tombadilho que não estavam
acertadas, exigindo cuidado de quem ali caminhasse. Em vários pontos havia
mal-acabamento, como por exemplo na amurada externa, com farpas e ripas
expostas, um risco para quem ali encostasse. Mas Pedro o fez e, daquela
posição, olhou para a grande abertura na lateral da embarcação, onde parte da
madeira jazia apodrecida dentro da água, e areia havia invadido o último nível
do casco, mantendo a nave naquele estado. Sem ter o que fazer, foi com alguma
esperança que olhou para a popa, vendo a cabine do capitão, ao lado as escadas
e, logo acima, o timão. Com um sopro de liberdade em seu coração, correu para
lá e subiu pela escada da esquerda, se posicionou pouco atrás da grande roda, e
observou boa parte da estrutura do navio, que pendia para bombordo. Ver o mar à
frente, inflou o seu coração, e desejou navegar. Pedro deu dois passos para
frente, e se apoiou na amurada interna. Foi quando uma farpa feriu
profundamente a sua mão, mas ele não a recolheu. E o sangue escorreu sobre a
amurada, descendo pelas pequenas vigas, até desaparecer por um espaço entre as
ripas. Naquele momento um estrondo ribombou, seguido por um tremor que sacudiu
todo o navio. Pedro se equilibrou como pode e, quando conseguiu, correu,
descendo pela escada e chegando até o lugar próximo ao buraco no casco, mas
agora este inexistia, já que tábuas o fecharam. Estas novas ripas destoavam das
demais, já que eram de um tom avermelhado. Uma coisa que ele não viu foram
letras avulsas que surgiram na parte externa da popa. Elas formavam um nome
desconhecido por muitos:
“F A _ R _ _ _ A.”
Ainda desejoso olhou adiante, e o mar o
convidava. Então velas rubras e negras desceram se desenrolando, e logo foram
infladas com o vento forte que passou a soprar. Os mastros rangeram junto com
as cordas, e o navio tremeu. Pedro retornou para a parte superior da cabine e
tocou o timão, que girou ao seu toque. Novo golpe do vento e a quilha desgarrou
do banco de areia. Bombordo subiu alinhando com estibordo. A quilha também,
ficando rente ao horizonte. Mas o navio não navegou, se portando de forma
estranha. Ripas se moviam; parte da amurada, à estibordo, tremia; a quilha
parecia solta; e algumas das velas tinham costuras abertas. O rapaz sorriu.
Desceu caminhando para o tombadilho, recostou no mastro principal, fechou os
olhos e acordou.
[O FA_R_ _ _ A]
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