— Alô!
Pedro…
—
Olá.
Querendo
ou não, do outro lado da linha estava a garota com quem ele imaginou se casar,
o que não era pouca coisa.
— …Você
está bem?
—
Estou sim. E você?
— Já
estive melhor. — Ela deixou escapar. Mas buscou outra abordagem. — E o seu
trabalho?
—
Ah! Sei não! A gerente nova é muito exigente. Eu acho que o pessoal de lá não vai
aguentar ela por muito tempo.
Ela
sentiu que até o tom de voz do rapaz mudara.
— Cobra tanto assim?
— Se
apenas cobrasse era bom. Vez ou outra demite um e quando contrata é só estagiário
ou técnico “meia-boca”.
—
Nossa! Então vocês estão sobrecarregados.
—
Sobrecarregados? Sobrecarregados? — Ele riu nervosamente. — Já perdi a conta de
quantas vezes, nesses últimos dias, pensei em abandonar aquilo lá. Tá
asfixiante.
E
ela sabia o quanto Pedro era dedicado e gostava do trabalho e, para ele estar falando
daquele jeito, é porque as coisas não iam bem. Contudo ela não se deixou tomar
pela empolgação.
—
Avalie com calma essa possibilidade. Você é um profissional muito
especializado. Tenho certeza de que não encontraria dificuldades em conseguir
vaga em outra empresa.
—
Verdade…
— Ou
então você tenta outra coisa. — Firela achou que agora deveria arriscar mais.
— Outra
coisa? — Aquilo o deixou curioso. — Que outra coisa?
—
Você pode tentar o cargo de gerente de operações.
—
Olha… até poderia. Mas não me agrada a ideia de ter a Mirtis na minha sombra.
Sem contar que aumentaria a minha cota de responsabilidade e desgaste. Boa
tentativa, Firela.
—
Desculpe! Eu só queria…
—
Vai ser sempre assim. Você me empurrando e eu empacando. Isso vai te frustrar.
Acredita em mim.
—
Como você quiser, Pedro. Tudo bem pra mim.
— Eu
preciso ir. Vou dormir. Boa noite!
—
Boa noit…
Ele
desligou antes que ela o respondesse. Foi à cozinha, se sentindo aborrecido com
a conversa, colocou água para esquentar no bule e sentou-se à mesa. A exaustão
foi tanta que apagou ali mesmo, antes de preparar o chá.
A sensação era de um prazer tamanho, que
não sabia se era sonho ou se estava vivo. Ele abriu os olhos e viu que já não
estava no mesmo lugar de outrora e que, à sua frente, havia algo muito grande,
que tapava quase que completamente a sua visão do céu dos céus. Ficou admirado
pois, quem olhasse de fora, tinha a impressão de ver uma cidade que flutuava em
algum lugar do espaço-tempo. Mas sentia que não era apenas aquilo. Havia muito
tubos, canhões, antenas e, talvez, propulsores.
“Será uma na…”
Seu movimento de subida estancou e, logo
em seguida, iniciou o de descida. Era algo que ele não controlava.
Distante dali, a criatura caminhava em
retorno para o ponto de origem para tentar sair, e também porque temia retaliações.
Por isso, agora, ao invés de caminhar, corria. E, com pouco tempo, chegou às
praias do mar. Entrou na água, mas nada aconteceu. Foi à montanha e às docas,
nada. Olhou tudo por ali, mas não havia saída, estava presa naquele lugar. Sem
ter mais o que fazer, esgueirou o seu corpo acinzentado por sobre uma moita e
se deitou. Foi depois de algum tempo que viu a forma humana descendo pelo céu.
Era o rapaz. E os olhos dela brilharam numa chama fria de desejo, afinal era
uma alma o que ela via. Então o seguiu, se ocultando na vegetação litorânea,
até a beira da praia, onde ondas espumadas lambiam a areia e, quando já estava
bem baixo, com a cauda, aquilo o prendeu pelo pescoço, e o arrastou para além
das docas. Um lugar há muito esquecido, e que talvez um ou outro além dela
soubessem onde era.
Após a longa corrida, e se sentindo
asfixiado, Pedro acordou.
[Godship]
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