O desânimo bateu forte naquela manhã, somado a um cansaço que Melissa não
entendia de onde vinha.
—
Merda! — Foi ao banheiro e viu o cabelo desgrenhado, o rosto inchado e a boca
babada. — Dupla!
Pegou
escova e pasta, e higienizou a boca. A água fria foi direto pro rosto, lavando
as remelas e dando um choque, o que a acordou de vez. Com água e um pouco de
creme, tentou dar um jeito nas madeixas, mas sem muito sucesso.
—
Porcaria!
Saiu do banheiro e voltou para o quarto. Sobre a penteadeira potes e potes de produtos estéticos. Antes de começar o seu ritual, ligou o rádio, ouvindo as notícias da manhã:
“— …A
verdade é que o Presidente tem se mostrado um libertino.”
“—
Em que se baseia essa sua análise?”
“—
Ora! Observe as leis que ele aprova. Observe que ele é o primeiro a dar
exemplo. Como não perceber isso? E vai além. Ele não é casado. Não tem filhos.
Vive de forma reclusa.”
“—
Realmente são observações pontuais. Acha que isso pode piorar?”
“—
Sinceramente? Acho que ainda não vimos nada. Poderia dizer, com 95% de certeza,
que ele ainda vai sancionar leis bem mais agressivas.”
Melissa
ajeitava novamente o cabelo quando teceu sua opinião:
—
Esse presidente é uma cadela no cio. Uma put… — Foi interrompida pelo ronco da
sua barriga. — Ah, não!
E
sentiu leve dor, o que a fez se levantar e ir à cozinha. Achou os dois últimos
biscoitos dentro de um vidro.
— Meu Deus! Quanto desleixo. Preciso fazer algumas compras.
Comeu os biscoitos, passou alguns cremes e prendeu os cabelos. Desceu as escadarias e atravessou as pistas, se dirigindo para a padaria. Em sua mente já calculava o salão de beleza e, por fim, o mercado. Uma coisa ela aprendeu cedo: tudo começava com o ânimo pela manhã.
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