A garota não parecia a mesma
mulher que iniciou a viagem a quase 24 horas. Não que de Goiânia à Brasília o
ônibus levasse mais que 3h30, mas ela precisou fazer outros caminhos, passando
em outras cidades, e por rotas e empresas pouco conhecidas. Mesmo assim, se
pudesse resumir todo esse tempo em uma única palavra, ela seria: satisfação.
Olhando pela janela, teve
visões belas e animadoras, que a acalantaram e animaram durante o trajeto:
nuvens chuvosas ao horizonte, matas e florestas que pareciam infinitas, as
plantações perfeitamente lineares, rebanhos de animais em grandes pastagens, o
enfadonho entardecer, o luar brilhante cercado por estrelas, o promissor
amanhecer. Eram coisas que a deslumbraram, tudo muito relaxante e prazeroso, e
que agora ficavam para trás. Com o livro em seu colo, suspirou ao rever o toque
da humanidade: lixo jogado ao lado da rodovia, favelas no entorno das cidades,
as primeiras casas e prédios, engarrafamentos nas pistas, o barulho. Estava
reintegrada novamente.
O ônibus manobrou suave e
lento, estacionando na baia da rodoviária de Taguatinga. Ela viajava sozinha
havia 20 horas, pois o senhor que vinha ao seu lado, desceu num vilarejo no
meio do caminho. Agora era a sua vez. Ela desembarcou, colocou a mochila nas
costas e pegou as malas junto ao despachante da empresa. Naqueles 1,80m de
altura, havia muita força, adquirida no trabalho braçal feito no interior. Ela
olhou para as imediações, mas não viu o seu contato. Estava pouco aturdida, mas
tinha ideia para onde deveria ir. Tudo fora combinado previamente. Caminhou
passando pelos vários guichês de companhias de viagem, buscando o ponto dos
taxistas. Chegou ali e passou o endereço para um deles:
— Não é tão perto. — Mentiu
o motorista já calculando o lucro da corrida.
— Então vam...
Mas foi interrompida pelas buzinadas
de um carro que estacionou ao lado do taxi. O homem desceu rápido se
aproximando dela:
— Cheguei! Cheguei! — Estava
até pouco suado.
— Romano? — Ela não o reconheceu de imediato.
Fazia uns quatro anos que
não se viam.
— Exato! Sou eu, Amália! — Respondeu
ele que a reconheceu das fotos — Desculpe o atraso.
— Tudo bem!
Ele foi pegando as malas da
garota. Bem, ao menos a menor, já que as outras duas eram pesadas para ele.
— Não ia me esperar? — Questionou
colocando as malas na traseira do carro.
— Ia para a igreja te
encontrar lá.
— Seria um desencontro dos
grandes.
— A viagem foi longa e
cansativa, estou exausta.
Ele se preocupou
momentaneamente e franziu a testa.
— Sobre isso tivemos um
problema.
— Qual foi?
— O lugar que desejávamos
para você, não conseguimos alugar. Tivemos que arrumar um segundo, mas é
temporário. — Falou pouco chateado.
— Por hoje, um chuveiro e
uma cama resolvem o meu problema, — Foi enfática — o restante vemos depois.
— Tudo bem. Então vamos lá!
Deu partida no carro, se
dirigindo para o novo endereço de Amália.
Nenhum comentário:
Postar um comentário