Mesmo com o toque da
alvorada soando em alto e bom tom, pontualmente às 6h, foi difícil para ele
despertar, mas o fez. Em vinte minutos estava higienizado e descendo para o rancho, para tomar o café. Como recruta,
era um direito.
Após a alimentação, foi para a formatura
início de expediente, onde ouviu o hino nacional e jurou à bandeira. As atividades físicas começavam às 7h20 e
se estendiam até as 9h. Desde os primeiros dias, ele evitava pegar pesos,
preferindo os exercícios aeróbicos, só para manter a forma.
Depois de outra higiene, esteve nas instruções militares das 9h45 às 12h15. Ali eram treinadas
exaustivamente as formações, a posição de segurar o fuzil, o ritmo da marcha,
as respostas aos comandos. Ele sentia tédio com tudo aquilo.
Na hora do almoço, estava no meio da aglomeração. Fila enorme,
muita conversa, o barulho das bandejas de alumínio, mesas e mesas entupetadas
de soldados. Naquele dia, o cardápio era macaquinho
no cipó acompanhado por água colorida,
assim eram conhecidos o macarrão com carne moída e o suco, respectivamente. Ao
término da refeição, só quis saber do seu cochilo até as 13h50.
Às 14 horas, já estava sentado para o início das instruções teóricas, que serviam para a
adaptação do recruta à vida militar. Eram vastos os conteúdos: normas de vida
interna; técnica individual de combate; armamento e tiro; patrulhas; legislação
militar; saúde, higiene e primeiros socorros. Eram temas de que ele não gostava
de forma alguma.
Por volta de 17h15 foi para o pátio, onde acontecia a formatura final de expediente, em seguida,
um tempo para se higienizar, e o pessoal que que cumpria expediente com horário
fixo era liberado para deixar o quartel. Para quem permanecesse, às 18h seria
servida a janta.
Ele estava exausto. Na fila para se servir, encontrou um amigo e o
questionou.
— Rainen, faz um mês que estamos aqui. Como você consegue às 18
horas, após um dia de cão, estar tão bem? — Lendoval se sentia arrasado.
— O dia foi tão ruim assim?
— Daqueles pra ser esquecido.
Eles pegaram a comida e foram para uma das mesas do refeitório.
— Olha, Lendoval, pense primeiro que isso aqui é passageiro.
Depois considere que as pessoas que se importam com você, nesse instante, estão
torcendo pelo seu sucesso — concluiu Rainen.
— Talvez você tenha razão, mas tenho pra mim que essa aliança no
seu dedo tem alguma coisa a ver com essa força
interna que você carrega.
Então Rainen se lembrou de Renata e da conversa pouco antes de se
despedirem.
— Em parte, você está certo, Lendoval, mas eu sempre tive a
determinação.
— Vou me esforçar.
— E estamos juntos nessa. Se precisar de alguma coisa, é só falar.
Riram enquanto olhavam para a comida.
— Ah, não! Esse macaquinho foi feito com carne de dragão?
— Nem está tão dura assim, mas posso pedir uma sopa pra você —
Rainen disse em tom de galhofa.
As gargalhadas de ambos se misturaram com tantos
outros sons daquele ambiente. Ali perto, dois oficiais observam a atitude dos
soldados.
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