Onofre
acordou animado, mas não deixou transparecer. No banheiro, fez a sua higiene
habitual, na copa, bebeu o café forte e amargo e caminhou até a porta. Dali,
olhou para Letícia e avisou:
—
Estou indo para o bar.
Ela
também o olhou:
—
Tão cedo?
Teve
vários pensamentos naquele instante, mas não quis se irritar:
—
Deu vontade.
—
Coma alguma coisa, eu comprei pão de sal, está torrado, como você gosta.
—
Não quero!
— É
para que não se sinta mal.
Ele
a ignorou e saiu. Sentiu-se mal com sua própria atitude, mas não voltaria
atrás.
Enquanto
no interior da casa Letícia chorava, Onofre caminhava para o ponto de ônibus;
ele embarcou no transporte que o deixou quase na porta da empresa. Lá chegando,
viu conhecidos, mas não quis perder tempo e foi direto ao departamento pessoal,
onde assinou a rescisão e pegou o cheque. Agora tinha pressa em sair dali.
Dobrou o documento e o guardou na carteira. Já saía pela porta do departamento,
quando foi interpelado:
—
Onofre! Poderia ter me procurado. Como está a recuperação? — Era Toledo.
—
Bem — respondeu com pouca vontade.
—
Não se chateie comigo. São ordens, estou aqui para cumpri-las, você sabe…
Onofre
nem parecia estar ali, fingia ouvir o funcionário, mas desejava apenas esquecer
aquele dia. Lembrou da bebida forte em contato com suas glândulas gustativas,
descendo saborosa e quente pela garganta, gerando prazer e alívio. Quando
voltou a si, Toledo ainda falava:
— …
foram dispensados. A quebra de outras empresas e o aumento da concorrência com
os chineses têm trazido sérios problemas. Mesmo assim, existe uma lis…
— Chega!
— berrou Onofre. — Não quero saber de mais nada!
E
saiu quase correndo, sem dar tempo para que o amigo explicasse sobre uma lista
de espera para recontratação. Toledo entendia a situação do amigo.
“São
dias difíceis.”
Dali,
Onofre pegou o ônibus e foi para o seu esconderijo, o seu lugar de lazer: o
bar. Contou o troco das passagens e não tinha o quanto queria, mas conseguiria
tomar uns tragos.
—
Macaio, me vê um conhaque duplo.
O
atendente sacou a garrafa marrom e cumprida, puxou o pequeno copo estilo
americano e o encheu quase até o tampo. Ver aquilo atiçou o paladar de Onofre e
o fez salivar. Não bebeu de imediato. Girou a bebida próximo ao nariz, inalando
as essências que dela exalavam, seus olhos quase reviraram de satisfação. Tocou
os lábios na borda do copo e bebeu o líquido em pequenos goles. Cada porção,
uma fração de satisfação. Nem colocou o copo vazio sobre o balcão e pediu:
—
Mais uma.
A
verdade é que, em menos de quinze minutos, ele tomou cinco doses duplas de
conhaque, o que o deixou apenas alegre. Quando estava bêbado, Onofre ficava
melhor, mais feliz, mais otimista. Sentia menos as pressões do dia a dia. Foram
poucas as vezes em que, nesse estado, ele se irritou ou causou confusão.
Lembrando-se da última briga, bebeu rápido e foi embora.
—
Obrigado, Macaio.
Agradeceu
colocando as notas e algumas moedas perto do copo. Ajeitou o cabelo e saiu pela
porta, lembrando-se da esposa:
“Hora de encarar a realidade.”
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