Em nove dias muitas coisas aconteceram. Rainen e Renata,
conversando, decidiram em qual curso ela deveria ingressar.
— Temos um potencial turístico grande, e acho que é pouco
explorado — observou o rapaz.
— Agora que falou, só me lembro da agência de turismo da Sally.
— Ela não administra muito bem aquele negócio.
— O curso seria turismo?
— questionou Renata.
— Me parece o mais acertado para você.
Foi o planejamento inicial de ambos. Com os papéis preenchidos,
Renata respondeu à universidade e o rapaz a acompanhou até o campus.
Além disso, Rainen fez várias manutenções e aproveitou para
treinar, mais ainda, o pessoal da oficina.
Elizabeth
e Mario davam continuidade às operações da Andarate Representações. Havia certa
preocupação com as oscilações do mercado, mas seguiam firmes. Naqueles dias, o
telefone da empresa tocou poucas vezes, mas foram ligações importantes. Eram
parceiros antigos, que propuseram novos negócios, o que deu mais visada para a Andarate.
Letícia levava a casa e o casamento adiante, da melhor forma
possível, administrando as contas com o salário do esposo. Onofre se
reestabelecia com o braço quebrado e evitava ocupar a esposa. Num retorno ao
hospital, os pontos foram retirados pelos enfermeiros, mas o braço ainda
inspirava cuidados. Ele sentia raiva de tudo aquilo, ainda mais diante da ordem
do médico:
“Repouso por mais alguns
dias.”
Bruna devorava livros e apostilas. Era motivada por ascender e
sair o mais rápido possível daquele lugar, do contato com aquelas pessoas, de
um padrão de vida limitado. No convívio com a irmã, via nos olhos de Renata uma
claridade que só conseguia interpretar como ilusão, ou assim pensava:
“Como ela se deixou dominar assim?”
E mesmo diante de lampejos de felicidade, quando Renata deixava
escapar algo sobre o rapaz, os ouvidos de Bruna lhe diziam outra coisa.
“Isso não pode ser real!”
E assim o aniversário das garotas chegou. Havia um clima de
felicidade no ar, isso por todos os lados, fosse da família Mayer ou da família
Andrade. Mario e Elizabeth estavam numa alegria radiante, pois, além do foro
íntimo, muitas coisas lhes iam bem.
O buffet contratado
chegou cedo organizando o que precisava. Os músicos, mais cedo ainda, para
montar o lugar e afinar os instrumentos. A festa foi marcada para as 18h, um
horário agradável, início de noite. A partir de 18h15, os familiares chegavam.
Renata navegava num mar de ansiedade. Pela primeira vez,
apresentaria para o restante da família o namorado. Todos o observariam, todos
notariam as alianças, veriam o casal formado. Um frio tomava conta de sua
barriga, mas havia um sorriso no canto de sua boca.
— Filha, tudo bem? — Elizabeth permanecia atenta às reações da
garota.
— Preocupada com Rainen. Como o verão? Como o tratarão?
A mãe sorriu e sentou-se ao lado da filha.
— Rainen é seguro de si e não me parece se preocupar com isso. —
Ela olhou nos olhos da filha. — Ele tem você e isso lhe dá mais força.
Renata sentiu o peito esquentar ao ouvir aquilo.
— Também me fortaleço nele.
— É disso que estamos falando: do saber, do sentir… — Renata
atentava às palavras da mãe. — … deixe Rainen assim, livre, leve.
Tenho para mim que ele surpreenderá a todos nós.
— Como tem essa certeza?
— Simples: sou mulher. — Ambas riram e ela concluiu: — Eu sinto
isso.
Naquele instante, o barulho da caminhonete foi aumentando e o
coração de Renata palpitou.
— Mãe, por favor, peça que ele venha até o quarto. Quero descer ao
lado dele.
— Tudo bem.
Em minutos, ela ouviu passos e a leve batida na porta.
— Posso entrar? — Rainen apareceu na entrada.
— Deve! — Renata respondeu com a maior amabilidade possível.
Os olhares, o abraço, a fragrância, o beijo. E, por instantes, se
desgarraram do mundo e se viram naquele lugar especial, onde só eles se
encontravam.
— Estava… com saudade — confessou o rapaz, logo após o beijo.
— Essa mesma me corroía por dentro. Pensei muito em você.
— Não foi diferente comigo.
Ao saírem do quarto, ele ofereceu-lhe o braço. Ela aceitou e foi
conduzida, descendo a escada. Renata estava radiante e bela: o vestido e
sapatos rosa contrastaram bem com a sua pele; usava finos e discretos brincos,
cordão e pulseira. O que chamou a atenção dos convidados foi o acessório em seu
dedo anelar direito. A grossa aliança reluzia prateada, lançando olhares e
dúvidas sobre a sua detentora. Mas os questionamentos logo foram findados, ao
verem que o rapaz ao seu lado portava um acessório similar.
— Renata e eu somos namorados — disse o rapaz.
Aplausos e cumprimentos, sorrisos e felicitações. Então, ali,
sobre o penúltimo degrau, a família se reuniu: pai, mãe e o casal. Mas aqueles
bons sentimentos não residiam em todos. Trancada em seu quarto, Bruna estava
mais que irritada, e isso só piorou quando parentes perguntaram pela garota e
se ela também tinha namorado.
— Tudo ao seu tempo. Tudo ao seu tempo. — Ela ouvia o pai
respondendo.
“Quanta humilhação, meu Deus.”
Foi depois de um longo tempo, e por insistência de seus pais, que
a garota desceu e participou da festa. Mas ela não queria que ele estivesse
ali. Não queria que ele integrasse com sua família. Não queria que a felicidade
lhe fosse tão grande. De longe, Bruna observava o casal, vez ou outra,
conversando entre si ou com familiares, distribuindo sorrisos, se integrando
cada vez mais.
“Me aguardem!”
No dia seguinte, ela iniciaria, de vez, a
mudança de sua vida.
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