Ardes - Capítulo 035


Em nove dias muitas coisas aconteceram. Rainen e Renata, conversando, decidiram em qual curso ela deveria ingressar.
— Temos um potencial turístico grande, e acho que é pouco explorado — observou o rapaz.
— Agora que falou, só me lembro da agência de turismo da Sally.
— Ela não administra muito bem aquele negócio.
— O curso seria turismo? — questionou Renata.
— Me parece o mais acertado para você.
Foi o planejamento inicial de ambos. Com os papéis preenchidos, Renata respondeu à universidade e o rapaz a acompanhou até o campus.
Além disso, Rainen fez várias manutenções e aproveitou para treinar, mais ainda, o pessoal da oficina.

Elizabeth e Mario davam continuidade às operações da Andarate Representações. Havia certa preocupação com as oscilações do mercado, mas seguiam firmes. Naqueles dias, o telefone da empresa tocou poucas vezes, mas foram ligações importantes. Eram parceiros antigos, que propuseram novos negócios, o que deu mais visada para a Andarate.
Letícia levava a casa e o casamento adiante, da melhor forma possível, administrando as contas com o salário do esposo. Onofre se reestabelecia com o braço quebrado e evitava ocupar a esposa. Num retorno ao hospital, os pontos foram retirados pelos enfermeiros, mas o braço ainda inspirava cuidados. Ele sentia raiva de tudo aquilo, ainda mais diante da ordem do médico:
“Repouso por mais alguns dias.”
Bruna devorava livros e apostilas. Era motivada por ascender e sair o mais rápido possível daquele lugar, do contato com aquelas pessoas, de um padrão de vida limitado. No convívio com a irmã, via nos olhos de Renata uma claridade que só conseguia interpretar como ilusão, ou assim pensava:
“Como ela se deixou dominar assim?”
E mesmo diante de lampejos de felicidade, quando Renata deixava escapar algo sobre o rapaz, os ouvidos de Bruna lhe diziam outra coisa.
“Isso não pode ser real!”
E assim o aniversário das garotas chegou. Havia um clima de felicidade no ar, isso por todos os lados, fosse da família Mayer ou da família Andrade. Mario e Elizabeth estavam numa alegria radiante, pois, além do foro íntimo, muitas coisas lhes iam bem.
O buffet contratado chegou cedo organizando o que precisava. Os músicos, mais cedo ainda, para montar o lugar e afinar os instrumentos. A festa foi marcada para as 18h, um horário agradável, início de noite. A partir de 18h15, os familiares chegavam.
Renata navegava num mar de ansiedade. Pela primeira vez, apresentaria para o restante da família o namorado. Todos o observariam, todos notariam as alianças, veriam o casal formado. Um frio tomava conta de sua barriga, mas havia um sorriso no canto de sua boca.
— Filha, tudo bem? — Elizabeth permanecia atenta às reações da garota.
— Preocupada com Rainen. Como o verão? Como o tratarão?
A mãe sorriu e sentou-se ao lado da filha.
— Rainen é seguro de si e não me parece se preocupar com isso. — Ela olhou nos olhos da filha. — Ele tem você e isso lhe dá mais força.
Renata sentiu o peito esquentar ao ouvir aquilo.
— Também me fortaleço nele.
— É disso que estamos falando: do saber, do sentir… — Renata atentava às palavras da mãe. — … deixe Rainen assim, livre, leve. Tenho para mim que ele surpreenderá a todos nós.
— Como tem essa certeza?
— Simples: sou mulher. — Ambas riram e ela concluiu: — Eu sinto isso.
Naquele instante, o barulho da caminhonete foi aumentando e o coração de Renata palpitou.
— Mãe, por favor, peça que ele venha até o quarto. Quero descer ao lado dele.
— Tudo bem.
Em minutos, ela ouviu passos e a leve batida na porta.
— Posso entrar? — Rainen apareceu na entrada.
— Deve! — Renata respondeu com a maior amabilidade possível.
Os olhares, o abraço, a fragrância, o beijo. E, por instantes, se desgarraram do mundo e se viram naquele lugar especial, onde só eles se encontravam.
— Estava… com saudade — confessou o rapaz, logo após o beijo.
— Essa mesma me corroía por dentro. Pensei muito em você.
— Não foi diferente comigo.
Ao saírem do quarto, ele ofereceu-lhe o braço. Ela aceitou e foi conduzida, descendo a escada. Renata estava radiante e bela: o vestido e sapatos rosa contrastaram bem com a sua pele; usava finos e discretos brincos, cordão e pulseira. O que chamou a atenção dos convidados foi o acessório em seu dedo anelar direito. A grossa aliança reluzia prateada, lançando olhares e dúvidas sobre a sua detentora. Mas os questionamentos logo foram findados, ao verem que o rapaz ao seu lado portava um acessório similar.
— Renata e eu somos namorados — disse o rapaz.
Aplausos e cumprimentos, sorrisos e felicitações. Então, ali, sobre o penúltimo degrau, a família se reuniu: pai, mãe e o casal. Mas aqueles bons sentimentos não residiam em todos. Trancada em seu quarto, Bruna estava mais que irritada, e isso só piorou quando parentes perguntaram pela garota e se ela também tinha namorado.
— Tudo ao seu tempo. Tudo ao seu tempo. — Ela ouvia o pai respondendo.
“Quanta humilhação, meu Deus.”
Foi depois de um longo tempo, e por insistência de seus pais, que a garota desceu e participou da festa. Mas ela não queria que ele estivesse ali. Não queria que ele integrasse com sua família. Não queria que a felicidade lhe fosse tão grande. De longe, Bruna observava o casal, vez ou outra, conversando entre si ou com familiares, distribuindo sorrisos, se integrando cada vez mais.
“Me aguardem!”
No dia seguinte, ela iniciaria, de vez, a mudança de sua vida.

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