Ardes - Capítulo 030


O sol estava mais quente quando ele retornava para casa. Rainen vinha de um bairro distante, pois faltavam medicações nas farmácias mais próximas. Porém, antes de ir, ele deixou os pais em casa. Seu pai precisava de repouso. O relógio da caminhonete marcava 8h30.
Chegava em casa, quando reconheceu a minivan parada na frente da residência. O contato visual fez o coração bater forte, mas não só o dele, o de Renata também, pois ela já reconhecia o barulho do motor de seu carro. Guiada pela emoção, abriu a porta da sala e correu para a frente da caminhonete, que estacionava.
— O que acontec…
Ela o interrompeu, abraçando-o com veemência, como se estivesse testando a consistência física do rapaz. E só depois respondeu:
— Nada.
Em seguida, apareceram os pais da garota:
— Bom dia, Rainen.
— Oi, pessoal — respondeu ainda com Renata, grudada nele.
— Soubemos do incidente com o seu pai — mencionou Elizabeth.
— Vamos entrar — pediu ao repassar um pacote para a mãe —, aqui está a medicação.

A mulher entrou rápido, e foi para o quarto onde o esposo descansava sobre a cama.
— Beba!
— Não quero — respondeu com o semblante fechado.
— Não se faça de difícil, já bebeu muita coisa com o sabor bem mais forte.
Ele não gostou do que ouviu, mas sabia que ela tinha razão. Abriu a boca e Letícia colocou a colher. Onofre estava inconformado.
Lá embaixo o grupo caminhava para a cozinha.
— Vou coar um café — Rainen ofereceu.
— Olha só… Além de ótimo mecânico, ainda sabe fazer café?!
— Só aviso que sou melhor como mecânico.
Todos riram.
— Não é trabalho para você? — Elizabeth não queria incomodar.
— Não se preocupem. — Letícia se aproximou. — Ele faz isso muito bem.
A água fervia enquanto o rapaz acrescentava açúcar ao líquido e calculava a quantidade de pó no coador. Nesse ínterim, ele começou o diálogo:
— Na verdade, o meu pai começou a beber faz pouco tempo. Uma das causas foi a instabilidade financeira que nos atingiu.
Ele falou com naturalidade sobre o assunto.
— Não sei bem o que lhe falar Rainen. É uma situação difícil para qualquer família.
Renata entendia aquilo como um problema que agora também era dela.
— Não se preocupe, senhor Mario, vamos superar mais esse problema —exprimiu-se Letícia.
— É claro que sim. E se tiver algo que esteja ao nosso alcance, por favor, não deixe de nos contatar.
Rainen escaldou o coador, posicionou a garrafa térmica e, durante a coagem do café, respondeu:
— Obrigado pelo apoio. É importante ter pessoas que nos transmitam essa positividade.
Dizendo isso, não conseguiu deixar de olhar para a garota, que meneou a cabeça em confirmação.
— O café está servido! — Letícia quebrou o clima um pouco lúgubre.
Depois do segundo gole, Mario não se conteve:
— E é ótimo. Parabéns!
Mais risadas, dessa vez, mais discretas.
— Esperem — interrompeu o rapaz —, temos algo aqui.
Abriu o armário e pegou uma bacia tampada. Ao retirar a proteção, a surpresa:
— Biscoitos caseiros! — Elizabeth foi a primeira a falar.
— Receita da minha mãe — completou Letícia.
— Estão deliciosos — comentou Renata após morder um.
Foram momentos agradáveis, mas Mario e sua esposa tinham compromissos no período da tarde.
— Está na hora! — disse, levantando-se. — Preciso ir para o escritório.
A garota não gostou.
— Agradecemos a visita, espero que voltem mais vezes — falou Letícia.
— Não só isso. Convido vocês a passarem a virada de ano lá em casa, e não aceito uma resposta negativa.
Mario olhou diretamente para Rainen, estendendo-lhe a mão. O rapaz o cumprimentou concordando:
— Tudo bem. Estaremos lá.
Renata sorriu ainda mais.
— Rainen, obrigada por tudo. — E se juntou ao marido que a aguardava à porta. — Vamos, filha?
— Vamos! — respondeu, olhando para Rainen, e foi mais ousada. — Você me liga?
— Amanhã mesmo.
Em poucas palavras se despediram, mas os corações de ambos estavam a mil.

Nenhum comentário:

Ichiria - A Demônia Cega [Sinopse]

  Para manter sua mãe viva, Francisco não mediria esforços. Aceitaria até se comprometer com Clara, a executora de assassinatos que integrav...