A semelhança não era apenas física, as irmãs partilhavam de outras
características, como inteligência e esforço, senso de justiça e objetividade.
Mas havia diferenças, tanto no pensar quanto no agir. Bruna entendia que, de
justa maneira, as pessoas colhiam o que plantavam e que, quanto mais cedo e
mais rápido semeassem, mais cedo e rápido colheriam os frutos. Por isso ela
amou os números, a matemática e tudo o que se interligava a ela, empregando
tempo e devoção. Renata também possuía parte dessa percepção, porém sem pressa.
Então se apaixonou pelas letras, os textos, as artes, e sentia prazer neles.
Aprofundou-se nas criações, nas tramas, nas entrelinhas, e detalhava-os
calmamente.
Bruna era ansiosa e cobrava muito de si, e também dos que cruzavam
o seu caminho. Isso foi aumentando à medida que o dinheiro foi diminuído de sua
vida. Buscava controlar o nervosismo e a cobrança, contudo, nem sempre
conseguia.
Renata era de atitude, mas paciente. Gostava de conversar e, por
vezes, se colocava no lugar das outras pessoas. Então atraía para si, de uma
forma diferente, a atenção dos outros.
O estopim para essas revelações foi a queda de padrão social, que
as retirou de uma vida regalada e próspera e as inseriu numa situação com mais
privações, algo com uma provação. A realidade de outrora lhes conferia uma casa
em que só quartos eram oito, casa de praia e fazenda, quatro carros do ano na
garagem e vários funcionários para servi-las. Agora era tudo diferente. Mesmo
numa área de condomínios, a casa de dois andares possuía sete cômodos, além de
um sótão e um subsolo. Também possuíam um carro, mas era usado.
Houve severas perdas, tanto financeiras quanto de status, e quem mais sofreu com isso foi
Bruna, pois via assim a corrosão de seu futuro, e isso aumentava a sua instabilidade.
Foi por isso que, naquele início de ano, ela fez o anúncio:
— Começarei a estagiar no dia 17 de fevereiro. — Serviu-se de mais
purê.
— Tem certeza disso, minha filha? — A pergunta paterna era apenas
para se certificar.
— Absoluta! — Para Bruna não havia outra possibilidade.
Os pais se animaram, pois viam na garota características da
família: persistência, ambição, atitude. Mais tarde, no quarto, se preparando
para dormir, sua irmã expos a preocupação:
— Bruna, não está muito cedo para você entrar no mercado de
trabalho?
— Eu teria que começar em algum momento.
— Você está certa — convergiu Renata.
— Assim que surgir uma vaga, eu te indicarei, tudo bem?
Dessa forma, cresciam se diferenciando cada vez
mais.
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