Faltavam
5 minutos para as 20h, quando Bruna chegou. Cabelo impecável, unhas e maquiagem
perfeitas, a roupa de grife chamava a atenção, assim como cordão e brincos.
“Talvez
eu tenha exagerado um pouco”
Bruna
calculava observando as vestimentas dos clientes do local. Mas, estranhamente,
se sentiu acolhida quando viu o rapaz sentado à mesa e se levantando.
—
Obrigada por ter vindo.
Tinha
tempo que Rainen não a via e, por aqueles instantes, teve a impressão de estar
diante de Renata, por isso se sentiu um pouco desarmado
“Como são parecidas. Meu Deus!”,
Diante
dele, e naquele dia, ela viu algo diferente, talvez pela proximidade ou apenas
por precisar de sua ajuda. Ela se recompôs, respondendo:
—
Primeiro, quero dizer que sou sincera e, desse modo, gostaria de reiterar que
realmente não é o meu desejo que você se case com minha irmã.
—
Graças ao nosso bom Deus, a sua vontade não muda nada — ele a chicoteou com as
palavras.
Ela
engoliu em seco diante da assertiva. Ele sorriu.
Ali
atrás, a porta da área de serviço se abriu, mas ninguém passou, e Bruna
continuou:
—
Segundo, não te pedirei desculpas por muitas coisas que falei ou fiz, pois agi
motivada pelo que penso a seu respeito e, no mais, pedir desculpas não
consertaria nada.
—
Dentro de minutos, estarei distante daqui tocando minha vida, aí você pode
fazer o que achar melhor com as suas desculpas.
A
frieza das respostas a impactavam em sua capacidade de se manter firme nas
situações.
—
Querem fazer o pedido? — Aproximou-se a garçonete.
— O
que tem de bom aqui? — Bruna perguntou ao rapaz.
—
Aqui tem a melhor torta da cidade, pode pedir do sabor que preferir.
— A
do dia é a de morango — complementou a garçonete.
—
Então eu quero uma fatia e um refrigerante… — A garçonete anotou e ia saindo
quando Bruna pediu: — Tudo em copos e pratos descartáveis.
Rainen
se segurou para não gargalhar, e ela percebeu.
—
Que foi?
—
Nada. Nada… — E ele se conteve. — Mas me diga: o que a fez sair do seu aposento
real e descer até a taberna dos camponeses?
—
Tudo a seu tempo. Deixe-me ficar mais à vontade. — Bruna olhou para os lados,
detalhando o ambiente. — Então é aqui, nesse espardie… digo, é nesse
estabelecimento que você traz minha irmã?
A
garçonete chegou com o pedido.
—
Sabe, Bruna… — Ele cortou um pedaço da torta. — Tem coisas que são simples, mas
podem surpreender…
Rainen
espetou a torta com o garfo e o direcionou à boca da garota. Estática e
inconsciente, ela aceitou a porção. Com os olhos fixos nos dele, lentamente
Bruna mastigou, sentindo a calda açucarada se misturar ao fruto azedo, que era
triturado pelos seus dentes. Então arregalou os olhos.
—
Meu Deus… — disse, comendo outra garfada. — Que sabor supremo!
—
Por isso você não deveria ser tão ávida em julgar — concluiu.
Ela
entendia que aquele ambiente e a companhia lhe eram nocivos, e foi ao ponto:
— É
certo que vocês passarão dificuldades sem ter um dinheiro para dar o pontapé
inicial na vida a dois. Por isso eu tenho aqui comigo… — Puxou do bolso os dois
cheques. — … 400 mil dólares.
—
Está me emprestando esse dinheiro?
—
Não! Ele é seu. E não sou eu que estou te dando. Leia o nome do titular.
—
“Lemaw Incorporações”. E o que eu teria que fazer para ganhar esse dinheiro? — foi sarcástico.
—
Nada muito difícil. Nós precisamos de alguém de dentro da Dezinea que nos passe
informações privilegiadas sobre o negócio.
— Só
isso?
— Só
isso. Eu garanto!
Rainen
segurou os cheques, ajustou-se melhor na cadeira e olhou para Bruna. Depois de
um tempo, começou calmamente:
— Já
te falaram que você é linda? Já elogiaram a vitalidade dos seus olhos ou o
brilho do seu cabelo? Te falaram como a sua pele parece macia e da evidência
dos seus lábios? Te disseram sobre a sensualidade das suas curvas, além do seu
porte e elegância?
Bruna
ficou estática, sem saber o que falar. Foi depois de breves instantes que
respondeu, um pouco sem graça:
—
Uma coisa ou outra.
— E
não estão errados. Acredite no que te falam. — Ele dobrou os cheques. — Mas
essa é a sua aparência externa, Bruna. E, lamentavelmente, eu conheço um pouco
do seu interior. Você é fria, mesquinha, egoísta. Você se disfarça muito bem
com toda essa forma exuberante, mas por dentro é podre. Você fede!
Rainen
viu o efeito de suas palavras nas lágrimas que desceram pelo rosto da garota.
—
Iss… Isso é o que… — a voz saía embargada — … você pen… pensa de mim?
—
Não, Bruna, isso não é o que penso de você. Isso é o que as suas atitudes, como
essa… — E jogou os cheques sobre a mesa. — … Me dizem sobre você.
Calado,
ele a olhava enquanto mais lágrimas desciam. Quando Bruna conseguiu se acalmar
um pouco, perguntou:
— O
que você pens… pensa de mim?
—
Olho para você, para tudo o que você tem, para tudo o que você é, e vejo tantas
possibilidades de felicidade. Mas, em algum ponto da sua história, você se
perdeu e continua lá, presa, sem se encontrar, sem avançar. Foca no dinheiro
como se ele fosse a solução de tudo. — Ele olhou bem dentro dos olhos da moça.
— E não é!
— As
suas palavras são verdadeiras — ela disse quase cochichando.
—
Mas não se preocupe, há tempo para mudar o seu rumo, encontrar uma pessoa que
possa amar…
Em
um instante, ela se inflamou em ira.
—
Nunca! — disse pegando os cheques e se levantando. — Isso nunca!
Parou
ao lado dele e, por um breve instante, o seu olhar de fúria cessou, mas voltou
e ela lhe deu um tapa no rosto. Saiu correndo pela porta do estabelecimento.
Pela janela, Rainen viu e ouviu o carro acelerando e sumindo.
—
Tá! Eu sei que não foram as melhores palavras, mas eu tentei.
Renata se levantou da mesa logo atrás, retirando a jaqueta, o boné e os óculos e o abraçou.
— Acho que teremos problemas sérios no futuro.
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