Ardes - Capítulo 154

 


Faltavam 5 minutos para as 20h, quando Bruna chegou. Cabelo impecável, unhas e maquiagem perfeitas, a roupa de grife chamava a atenção, assim como cordão e brincos.

“Talvez eu tenha exagerado um pouco”

Bruna calculava observando as vestimentas dos clientes do local. Mas, estranhamente, se sentiu acolhida quando viu o rapaz sentado à mesa e se levantando.

— Obrigada por ter vindo.

Tinha tempo que Rainen não a via e, por aqueles instantes, teve a impressão de estar diante de Renata, por isso se sentiu um pouco desarmado

“Como são parecidas. Meu Deus!”,

Diante dele, e naquele dia, ela viu algo diferente, talvez pela proximidade ou apenas por precisar de sua ajuda. Ela se recompôs, respondendo:

— Primeiro, quero dizer que sou sincera e, desse modo, gostaria de reiterar que realmente não é o meu desejo que você se case com minha irmã.

— Graças ao nosso bom Deus, a sua vontade não muda nada — ele a chicoteou com as palavras.

Ela engoliu em seco diante da assertiva. Ele sorriu.

Ali atrás, a porta da área de serviço se abriu, mas ninguém passou, e Bruna continuou:

— Segundo, não te pedirei desculpas por muitas coisas que falei ou fiz, pois agi motivada pelo que penso a seu respeito e, no mais, pedir desculpas não consertaria nada.

— Dentro de minutos, estarei distante daqui tocando minha vida, aí você pode fazer o que achar melhor com as suas desculpas.

A frieza das respostas a impactavam em sua capacidade de se manter firme nas situações.

— Querem fazer o pedido? — Aproximou-se a garçonete.

— O que tem de bom aqui? — Bruna perguntou ao rapaz.

— Aqui tem a melhor torta da cidade, pode pedir do sabor que preferir.

— A do dia é a de morango — complementou a garçonete.

— Então eu quero uma fatia e um refrigerante… — A garçonete anotou e ia saindo quando Bruna pediu: — Tudo em copos e pratos descartáveis.

Rainen se segurou para não gargalhar, e ela percebeu.

— Que foi?

— Nada. Nada… — E ele se conteve. — Mas me diga: o que a fez sair do seu aposento real e descer até a taberna dos camponeses?

— Tudo a seu tempo. Deixe-me ficar mais à vontade. — Bruna olhou para os lados, detalhando o ambiente. — Então é aqui, nesse espardie… digo, é nesse estabelecimento que você traz minha irmã?

A garçonete chegou com o pedido.

— Sabe, Bruna… — Ele cortou um pedaço da torta. — Tem coisas que são simples, mas podem surpreender…

Rainen espetou a torta com o garfo e o direcionou à boca da garota. Estática e inconsciente, ela aceitou a porção. Com os olhos fixos nos dele, lentamente Bruna mastigou, sentindo a calda açucarada se misturar ao fruto azedo, que era triturado pelos seus dentes. Então arregalou os olhos.

— Meu Deus… — disse, comendo outra garfada. — Que sabor supremo!

— Por isso você não deveria ser tão ávida em julgar — concluiu.

Ela entendia que aquele ambiente e a companhia lhe eram nocivos, e foi ao ponto:

— É certo que vocês passarão dificuldades sem ter um dinheiro para dar o pontapé inicial na vida a dois. Por isso eu tenho aqui comigo… — Puxou do bolso os dois cheques. — … 400 mil dólares.

— Está me emprestando esse dinheiro?

— Não! Ele é seu. E não sou eu que estou te dando. Leia o nome do titular.

— “Lemaw Incorporações”. E o que eu teria que fazer para ganhar esse dinheiro? — foi sarcástico.

— Nada muito difícil. Nós precisamos de alguém de dentro da Dezinea que nos passe informações privilegiadas sobre o negócio.

— Só isso?

— Só isso. Eu garanto!

Rainen segurou os cheques, ajustou-se melhor na cadeira e olhou para Bruna. Depois de um tempo, começou calmamente:

— Já te falaram que você é linda? Já elogiaram a vitalidade dos seus olhos ou o brilho do seu cabelo? Te falaram como a sua pele parece macia e da evidência dos seus lábios? Te disseram sobre a sensualidade das suas curvas, além do seu porte e elegância?

Bruna ficou estática, sem saber o que falar. Foi depois de breves instantes que respondeu, um pouco sem graça:

— Uma coisa ou outra.

— E não estão errados. Acredite no que te falam. — Ele dobrou os cheques. — Mas essa é a sua aparência externa, Bruna. E, lamentavelmente, eu conheço um pouco do seu interior. Você é fria, mesquinha, egoísta. Você se disfarça muito bem com toda essa forma exuberante, mas por dentro é podre. Você fede!

Rainen viu o efeito de suas palavras nas lágrimas que desceram pelo rosto da garota.

— Iss… Isso é o que… — a voz saía embargada — … você pen… pensa de mim?

— Não, Bruna, isso não é o que penso de você. Isso é o que as suas atitudes, como essa… — E jogou os cheques sobre a mesa. — … Me dizem sobre você.

Calado, ele a olhava enquanto mais lágrimas desciam. Quando Bruna conseguiu se acalmar um pouco, perguntou:

— O que você pens… pensa de mim?

— Olho para você, para tudo o que você tem, para tudo o que você é, e vejo tantas possibilidades de felicidade. Mas, em algum ponto da sua história, você se perdeu e continua lá, presa, sem se encontrar, sem avançar. Foca no dinheiro como se ele fosse a solução de tudo. — Ele olhou bem dentro dos olhos da moça. — E não é!

— As suas palavras são verdadeiras — ela disse quase cochichando.

— Mas não se preocupe, há tempo para mudar o seu rumo, encontrar uma pessoa que possa amar…

Em um instante, ela se inflamou em ira.

— Nunca! — disse pegando os cheques e se levantando. — Isso nunca!

Parou ao lado dele e, por um breve instante, o seu olhar de fúria cessou, mas voltou e ela lhe deu um tapa no rosto. Saiu correndo pela porta do estabelecimento. Pela janela, Rainen viu e ouviu o carro acelerando e sumindo.

— Tá! Eu sei que não foram as melhores palavras, mas eu tentei.

Renata se levantou da mesa logo atrás, retirando a jaqueta, o boné e os óculos e o abraçou.

— Acho que teremos problemas sérios no futuro.

Nenhum comentário:

BAALDIRES (História: Delas - Amor Proibido) [1]

Baaldires não era demônia de ofício, menos ainda uma súcubo. Ela era uma caída que ficou aprisionada em Wikário e, depois de longo tempo, te...