Foi logo após a saída de Rainen, ainda pela manhã, que ele falou:
—
Estou saindo — caminhando
em direção à porta.
Nem
tinha tomado café. Apenas fez a sua higiene, alinhou mais ou menos a roupa e
saiu. Nem aguardou a resposta da esposa.
O
bar era o lugar mais fácil onde encontrá-lo. Quando não, comprava duas garrafas
na distribuidora, uma calabresa no açougue e, junto com Badé, ficava embaixo de
alguma árvore o dia todo e parte da noite.
De
segunda à sexta-feira, entrava em casa por volta das 21h. Tomava um banho com
água gelada e caía na cama, exausto do dia. As conversas com a esposa estavam
cada vez mais raras. Quando ela perguntava onde esteve ou o que estava fazendo,
na maioria das vezes, ele nem respondia; quando sim, a resposta vinha
imprecisa:
— Por aí.
Onofre
sabia que, para a sua esposa, pior que a falta de comunicação era o tratamento
que agora recebia. Há alguns dias, desde o incidente com o filho, ele lavava a
própria roupa e também limpava o sapato. Ela ficou pasma ao vê-lo chegar em
casa com um saco de arroz, tomates e ovos e os preparou para a sua refeição.
Mesmo tendo sobre o fogão iguarias de que ele mais gostava: rabada com agrião,
farinha com pimenta e baião de dois. Ignorou, como se nada houvesse ali.
Tratava a mulher tal qual uma incapaz, o que a fazia se sentir humilhada.
O
domingo passou rápido e Onofre retornou para casa por volta de 16h. Ele não
conseguia destrancar a porta e Letícia veio ao seu socorro.
—
Por que não me chama para ajudar?
Entrou
trôpego e, sem responder, foi para o quarto. Tirou a roupa e se banhou. Quando
saiu, a esposa o aguardava. Ele a ignorou, como se a mesma não estivesse ali.
Calmamente caminhou até o criado-mudo, pegou a garrafa e deu um gole direto no
gargalo.
—
Não é melhor diminuir a bebida?
Porém
ele queria apagar aquela voz da sua mente e deu outro gole, esse mais demorado.
—
Amanhã você vai à empresa?
Ele
parou de beber e a encarou um pouco irritado.
—
Não preciso mais. Fui desligado daquela joça. — E bateu com a garrafa sobre o
criado-mudo. — Agora pode me deixar em paz?
Letícia
ficou desnorteada:
“E agora?”
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