Ardes - Capítulo 076

Foi logo após a saída de Rainen, ainda pela manhã, que ele falou:

— Estou saindo — caminhando em direção à porta.

Nem tinha tomado café. Apenas fez a sua higiene, alinhou mais ou menos a roupa e saiu. Nem aguardou a resposta da esposa.

O bar era o lugar mais fácil onde encontrá-lo. Quando não, comprava duas garrafas na distribuidora, uma calabresa no açougue e, junto com Badé, ficava embaixo de alguma árvore o dia todo e parte da noite.

De segunda à sexta-feira, entrava em casa por volta das 21h. Tomava um banho com água gelada e caía na cama, exausto do dia. As conversas com a esposa estavam cada vez mais raras. Quando ela perguntava onde esteve ou o que estava fazendo, na maioria das vezes, ele nem respondia; quando sim, a resposta vinha imprecisa:

— Por aí.

Onofre sabia que, para a sua esposa, pior que a falta de comunicação era o tratamento que agora recebia. Há alguns dias, desde o incidente com o filho, ele lavava a própria roupa e também limpava o sapato. Ela ficou pasma ao vê-lo chegar em casa com um saco de arroz, tomates e ovos e os preparou para a sua refeição. Mesmo tendo sobre o fogão iguarias de que ele mais gostava: rabada com agrião, farinha com pimenta e baião de dois. Ignorou, como se nada houvesse ali. Tratava a mulher tal qual uma incapaz, o que a fazia se sentir humilhada.

O domingo passou rápido e Onofre retornou para casa por volta de 16h. Ele não conseguia destrancar a porta e Letícia veio ao seu socorro.

— Por que não me chama para ajudar?

Entrou trôpego e, sem responder, foi para o quarto. Tirou a roupa e se banhou. Quando saiu, a esposa o aguardava. Ele a ignorou, como se a mesma não estivesse ali. Calmamente caminhou até o criado-mudo, pegou a garrafa e deu um gole direto no gargalo.

— Não é melhor diminuir a bebida?

Porém ele queria apagar aquela voz da sua mente e deu outro gole, esse mais demorado.

— Amanhã você vai à empresa?

Ele parou de beber e a encarou um pouco irritado.

— Não preciso mais. Fui desligado daquela joça. — E bateu com a garrafa sobre o criado-mudo. — Agora pode me deixar em paz?

Letícia ficou desnorteada:

“E agora?”

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