Ardes - Capítulo 060


 Bruna, o senhor Marcus gostaria de vê-la. — A ligação foi breve e sucinta.

— Estou indo.

Bruna saiu de sua mesa e, enquanto caminhava, tecia pensamentos com o que ouvia e vivenciava dentro da organização. Ela sabia que, mesmo com um ar semi-liberal nas questões de etiqueta e diálogo, havia cerimônia em falar com o dono da empresa. Isso considerando a perspicácia do mesmo, pois ninguém sabia quando era analisado por ele.

Ela pegou o elevador e apertou o botão com o número desejado, subindo ao andar que era da presidência da Lemaw. Na recepção, o jovem secretário muito bem-vestido. Bruna observou:

“Talvez um terno de corte italiano.”

O lugar era amplo e completamente sob medida. Tudo organizado, em seu devido lugar. Nas paredes, imperava variações da cor vermelha, umas mais claras e outras mais escuras, contrastando com o grande logotipo da empresa, forjado numa chapa de cobre. O frio do condicionador de ar ali era intenso, mera funcionalidade para manter as pessoas despertas.

Sem dizer palavra, o secretário olhou para Bruna e se levantou indo para a porta. Ele a abriu, dando-lhe passagem. A fragrância do rapaz também era bem agradável.

“Inconfundível”!

— Olá, Bruna — ele a cumprimentou, apontando para a cadeira.

— Marcus. — E ela se sentou.

A cadeira era de uma maciez e conforto impressionantes, mas ela manteve a postura ereta, sem se recostar. Então Marcus foi direto:

— O que tem achado da Lemaw?

— Empresa muito interessante.

— Interessante? — ele se surpreendeu.

— Sim! Bastante interessante.

— Prossiga.

— A forma de atuação dela nesse mercado a torna uma das melhores do segmento. Age de forma atenta, observadora e, ao perceber a oportunidade, avança de forma voraz, avassaladora, cruel.

Ele prestou atenção nas palavras da jovem e gargalhou:

— Obrigado! E você sabe o porquê disso?

— É claro que sim.

— Então me diga.

— Você seleciona pessoas com as mesmas características da sua empresa, para que haja uma continuidade nessa cultura organizacional. O seu legado para essa empresa.

— Surpreendente!

— Obrigada — Bruna devolveu pontualmente.

Naquele instante de descontração e conhecimento, Bruna observou bem o seu chefe: cabelos ainda escuros, em sua maioria; olhos cinza, de uma vivacidade impressionante; a voz lhe era macia e calma, transparecendo a experiência; trajava um terno cinza, com ótimo caimento, sem gravata; o relógio, com pulseira de couro, dava uma quebra no visual, mas não roubava a atenção.

E Marcus também analisou a garota: trajava um terninho bege, com sapatos quase da mesma cor; o batom era de um marrom-escuro; o cordão e os brincos eram pequenos e discretos; o esmalte de renda valorizava as belas mãos; e o olhar era bem parecido com o dele.

Ambos tiveram certeza de quem estava diante de si e dúvidas quanto ao que poderiam falar.

— Acho que nos daremos muito bem — ele foi direto.

— Dentro do possível, espero que sim.

Até que o telefone tocou e ele o atendeu, desligando em seguida.

— Outros assuntos demandam de minha atenção — informou a ela —, conversaremos mais numa outra oportunidade. Até breve.

— Obrigada!

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