— Bruna, o senhor Marcus gostaria de vê-la. — A ligação foi breve
e sucinta.
— Estou indo.
Bruna saiu de sua mesa e, enquanto caminhava, tecia pensamentos
com o que ouvia e vivenciava dentro da organização. Ela sabia que, mesmo com um
ar semi-liberal nas questões de etiqueta e diálogo, havia cerimônia em falar
com o dono da empresa. Isso considerando a perspicácia do mesmo, pois ninguém
sabia quando era analisado por ele.
Ela pegou o elevador e apertou o botão com o número desejado,
subindo ao andar que era da presidência da Lemaw. Na recepção, o jovem
secretário muito bem-vestido. Bruna observou:
“Talvez um terno de corte italiano.”
O lugar era amplo e completamente sob medida. Tudo organizado, em
seu devido lugar. Nas paredes, imperava variações da cor vermelha, umas mais
claras e outras mais escuras, contrastando com o grande logotipo da empresa,
forjado numa chapa de cobre. O frio do condicionador de ar ali era intenso,
mera funcionalidade para manter as pessoas despertas.
Sem dizer palavra, o secretário olhou para Bruna e se levantou
indo para a porta. Ele a abriu, dando-lhe passagem. A fragrância do rapaz
também era bem agradável.
“Inconfundível”!
— Olá, Bruna — ele a cumprimentou, apontando para a cadeira.
— Marcus. — E ela se sentou.
A cadeira era de uma maciez e conforto impressionantes, mas ela
manteve a postura ereta, sem se recostar. Então Marcus foi direto:
— O que tem achado da Lemaw?
— Empresa muito interessante.
— Interessante? — ele se surpreendeu.
— Sim! Bastante interessante.
— Prossiga.
— A forma de atuação dela nesse mercado a torna uma das melhores
do segmento. Age de forma atenta, observadora e, ao perceber a oportunidade,
avança de forma voraz, avassaladora, cruel.
Ele prestou atenção nas palavras da jovem e gargalhou:
—
Obrigado! E você sabe o porquê disso?
— É
claro que sim.
—
Então me diga.
—
Você seleciona pessoas com as mesmas características da sua empresa, para que
haja uma continuidade nessa cultura organizacional. O seu legado para essa
empresa.
—
Surpreendente!
—
Obrigada — Bruna devolveu pontualmente.
Naquele
instante de descontração e conhecimento, Bruna observou bem o seu chefe:
cabelos ainda escuros, em sua maioria; olhos cinza, de uma vivacidade
impressionante; a voz lhe era macia e calma, transparecendo a experiência;
trajava um terno cinza, com ótimo caimento, sem gravata; o relógio, com
pulseira de couro, dava uma quebra no visual, mas não roubava a atenção.
E
Marcus também analisou a garota: trajava um terninho bege, com sapatos quase da
mesma cor; o batom era de um marrom-escuro; o cordão e os brincos eram pequenos
e discretos; o esmalte de renda valorizava as belas mãos; e o olhar era bem
parecido com o dele.
Ambos
tiveram certeza de quem estava diante de si e dúvidas quanto ao que poderiam
falar.
—
Acho que nos daremos muito bem — ele foi direto.
—
Dentro do possível, espero que sim.
Até
que o telefone tocou e ele o atendeu, desligando em seguida.
— Outros assuntos demandam de minha atenção — informou a ela —, conversaremos mais numa outra oportunidade. Até breve.
— Obrigada!
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