Tudo o que sobe, desce, é
uma questão de tempo, mas acontece. Foi assim com impérios, é assim com
empresas, será assim com as pessoas. Não foi diferente com a família Andrade,
que, no auge de seu empreendimento, foi trapaceada por um funcionário de inteira
confiança. Com isso, a firma Phidelco, de médio porte no ramo de
telecomunicações, fechou as portas, deixando 320 desempregados e dívidas
milionárias com ex-trabalhadores e fornecedores. De tal modo, a justiça
determinou a venda dos bens pessoais do proprietário e a utilização do valor
para a quitação dessas obrigações. Até findar com suas responsabilidades o dono
estaria com o seu nome negativado no mundo dos negócios.
Para Mario Andrade foi muito dolorido, pois ele iniciou sua empresa ainda novo, com pouco mais de 20 anos de idade, e foi próspero em seu negócio. Na época, celebrou contratos importantes que lhe deram visada do mercado. Naquele momento de sua vida, ele namorava a Elizabeth e, após três anos, se casou com ela. Mulher de surpreendente vigor físico e ótima cabeça para os negócios, vez ou outra, ela o auxiliava, mas não ia à empresa; talvez, um erro.
Na sala, conversavam:
— Será trabalhoso, mas
podemos recomeçar — dizia, animado.
— É possível, mas não sei se
quero assim.
Foram longos anos ao lado do
esposo, mas agora havia um ponto de hesitação.
— Podemos voltar, ascender
novamente, pisar nas estrelas, retomar a posição de destaque. Não erraremos
mais. Sabemos nossos pontos fracos. — Seus olhos brilhavam enquanto discursava.
— É exatamente sobre isso.
Elizabeth relembrava as
responsabilidades do esposo para com a antiga empresa: jantares com acionistas
e investidores; viagens que surgiam de forma inesperada; reuniões noite
adentro; quando muito, as poucas horas de sono.
— Preciso disso. — Mario tinha
a voz enfática.
Ele, aos 48 anos, estava
mais que condicionado física e psicologicamente para o desempenho daquelas
atividades: estudava, malhava, planejava. Mario respirava o empresariado.
— Não tenho dúvidas quanto a
isso — ela respondeu.
E não era feitio dela
contrariá-lo, nem pressioná-lo. Nesses anos, ela o auxiliara quando possível,
mas agora desejava mais do marido e da vida. E com aquela brusca mudança, mesmo
que negativa, ela sentiu que a hora era chegada.
— Então? — Queria a
participação da esposa. — O que se passa pela sua cabeça?
— É claro que tenho
pensamentos a esse respeito. — Era séria a voz da esposa. — Mas não
conversaremos sobre isso agora.
— Por quê?
Lá fora, um veículo buzinou:
— Chegaram!
Eles evitavam comentar
alguns assuntos diante da família.
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