Ardes - Capítulo 002


Tudo o que sobe, desce, é uma questão de tempo, mas acontece. Foi assim com impérios, é assim com empresas, será assim com as pessoas. Não foi diferente com a família Andrade, que, no auge de seu empreendimento, foi trapaceada por um funcionário de inteira confiança. Com isso, a firma Phidelco, de médio porte no ramo de telecomunicações, fechou as portas, deixando 320 desempregados e dívidas milionárias com ex-trabalhadores e fornecedores. De tal modo, a justiça determinou a venda dos bens pessoais do proprietário e a utilização do valor para a quitação dessas obrigações. Até findar com suas responsabilidades o dono estaria com o seu nome negativado no mundo dos negócios.

Para Mario Andrade foi muito dolorido, pois ele iniciou sua empresa ainda novo, com pouco mais de 20 anos de idade, e foi próspero em seu negócio. Na época, celebrou contratos importantes que lhe deram visada do mercado. Naquele momento de sua vida, ele namorava a Elizabeth e, após três anos, se casou com ela. Mulher de surpreendente vigor físico e ótima cabeça para os negócios, vez ou outra, ela o auxiliava, mas não ia à empresa; talvez, um erro.

Na sala, conversavam:

— Será trabalhoso, mas podemos recomeçar — dizia, animado.

— É possível, mas não sei se quero assim.

Foram longos anos ao lado do esposo, mas agora havia um ponto de hesitação.

— Podemos voltar, ascender novamente, pisar nas estrelas, retomar a posição de destaque. Não erraremos mais. Sabemos nossos pontos fracos. — Seus olhos brilhavam enquanto discursava.

— É exatamente sobre isso.

Elizabeth relembrava as responsabilidades do esposo para com a antiga empresa: jantares com acionistas e investidores; viagens que surgiam de forma inesperada; reuniões noite adentro; quando muito, as poucas horas de sono.

— Preciso disso. — Mario tinha a voz enfática.

Ele, aos 48 anos, estava mais que condicionado física e psicologicamente para o desempenho daquelas atividades: estudava, malhava, planejava. Mario respirava o empresariado.

— Não tenho dúvidas quanto a isso — ela respondeu.

E não era feitio dela contrariá-lo, nem pressioná-lo. Nesses anos, ela o auxiliara quando possível, mas agora desejava mais do marido e da vida. E com aquela brusca mudança, mesmo que negativa, ela sentiu que a hora era chegada.

— Então? — Queria a participação da esposa. — O que se passa pela sua cabeça?

— É claro que tenho pensamentos a esse respeito. — Era séria a voz da esposa. — Mas não conversaremos sobre isso agora.

— Por quê?

Lá fora, um veículo buzinou:

— Chegaram!

Eles evitavam comentar alguns assuntos diante da família.


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