Retornava para casa após o término de suas atividades escolares, e se acostumou a passar diante da Tony Auto Atendimento, uma oficina de pequeno porte que ficava próximo de sua escola. Parava por ali e observa, à meia distância, os veículos em manutenção. Para Rainen era prazeroso. Sonhava trabalhar com aquilo algum dia, e quando o fizesse, tinha certeza de que seria feliz.
Mas, naquele dia, viu mais que a costumeira manutenção veicular. Ao longe, o dono apontava o dedo para a cara de um dos mecânicos, que permanecia imóvel. Em seguida, Tony apontou para a rua aos berros. O rapaz entrou, trocou de roupa e saiu com uma pequena bolsa, quando foi barrado pelo proprietário e demais funcionários, que o revistaram e só depois o liberaram.
A cena ficou gravada
na mente de Rainen, que arrumou a mochila nas costas, e correu para casa; a
fome o incomodava. Quarenta minutos depois, chegou à residência, tendo acesso
pela porta da cozinha. Sem a intenção, ouviu seus pais conversando na sala:
— As coisas não vão
bem na empresa e, além de diminuição de pessoal, os que ficarem terão corte nos
salários.
— Meu Deus! Por que
isso? — Ela sentiu-se péssima com a notícia.
— Uma firma grande
quebrou e era o nosso principal cliente. — A voz de Onofre lhe era pesada.
— E sabem quem serão
os demitidos?
— Estamos aguardando
— respondeu, desviando o olhar. — A lista sairá a qualquer momento.
— E nós?
A pergunta era bem
compreensível, pois, mesmo que a casa estivesse quitada, precisavam se manter.
E como Letícia não trabalhava, era o esposo o responsável pelo sustento
familiar.
— Apertar o cinto,
até que as coisas melhorem.
— Quanto tempo?
Ele franziu a testa
demonstrando a tensão.
— Entre dois e três
anos.
— Mas e a faculdade
dele? — Para a esposa, esse era o ponto principal.
— Recebendo como um
segurança, eu não consigo pagar a mensalidade. A empresa tem bolsa educação
para os filhos dos trabalhadores, mas, com esse momento de crise, é quase certo
que suspenda.
— E como contaremos
isso a ele?
— Ainda não sei. — O homem
sentou-se no sofá. — Ainda não sei…
Na cozinha, o garoto
abriu e fechou a porta, dessa vez, fazendo barulho. Subiu correndo para o
quarto e se jogou na cama. O seu futuro corria risco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário