Era o meio da manhã e Romano já chegava ao gabinete com a cabeça atordoada de tantos pensamentos. O que o tirou daquela atmosfera densa, foi a felicidade de Lurdes.
—
Bom dia, Lurdes. Que belo sorriso.
—
Ah, Romano! Concluí minha pós-graduação em auditoria!
—
Nossa! Que notícia maravilhosa! Meus parabéns! E me desculpe. Confesso que
esqueci completamente.
Ela
o abraçou:
—
Não por isso, Romano. Você está muito atarefado nesses dias. E só eu sei o
quanto tem me ajudado.
Ele a
abraçou forte com os olhos marejando. Então pediu:
— Não marque nada para amanhã à noite.
—
Porque?
—
Sairemos para comemorar. Convide algumas pessoas que você gostaria que
estivesse conosco.
Lurdes
o abraçou mais forte:
—
Obrigada! Obrigada!
O
considerava um pai.
Se
despediram, e Romano entrou para o gabinete. Ali, dois assuntos demandavam de
sua atenção. O primeiro tomou quase uma hora de sua manhã, e não encontrou
solução. Então, fez o que lhe fora sugerido:
— Bom dia, Conde!
— Bom dia, Romano!
— Digitalizei tudo o que tinha sobre os
rapazes que foram apreendidos na fronteira e estou te enviando.
— Obrigado! Mas a maior parte desse
material eu já tenho.
— Tudo bem! Contudo tenho o áudio da
conversa que tive com eles dentro do quarto do hotel, ainda na cidade
fronteiriça.
— Também não precisa. Acredito que todos
chegamos a um ponto de satisfação comum.
— Que quer dizer com isso?
— Você não assiste muita televisão,
assiste?
— Não, mas o que isso tem a ver com o
assunto?
— Sintonize em um canal de notícias e
deixe baixinho. Também faço assim. Até.
— Até!
Ele
ligou a televisão e deixou ali, mas não prestou muita atenção. Em mente, o
segundo problema lhe corroía: Amália. E a situação que ela passava. Não apenas
isso, mas toda a sua representação naquele contexto e o que dela emanava.
“É
algo diferente. Nunca vi igual.” — Estava convicto.
E
por esse motivo, de modo voluntário, tentava preservá-la. Tanto que, naqueles
dias, o templo não aceitava visitantes vindos de outros lugares, e também não
participava dos grandes encontros. Mas Romano sabia que era uma medida
paliativa. Que, se queria ajuda-la de forma mais resolutiva, precisaria ter
atitudes mais contundentes.
“Mas
o que fazer?”
Longe
de obter a resposta, ele estava convicto que suas ações, nesse sentido, desagradariam
muitos interesses, mas arcaria com o sacrifício. Foi quando notícia apareceu:
— Voltamos diretamente do 25º
Departamento de Polícia que averigua o desaparecimento de três homens. Eles
seriam os mesmos que, dias atrás, foram apreendidos pela Delegacia da Polícia
Rodoviária Federal, na cidade de Corumbá em Mato Grosso do Sul, carregando
forte armamento…
—
Meu Deus! — Romano começava a entender.
— Delegado! Delegado! — com o microfone
em punho ela abordou o homem — Há alguma informação sobre o caso?
— Ainda nenhuma. — Respondeu sem
vontade.
— Parentes vieram ao Departamento
registrar ocorrência pelo desaparecimento?
— Apenas o primo de um dos sumidos.
— E a polícia trabalha com alguma
hipótese?
— Nada ainda, mas estamos investigando.
Dada por satisfeita, a moça o deixou ir.
— Obrigada, delegado!
Foi
o instante em que Romano desligou a televisão e retomou seus pensamentos:
“Como é que vou protege-la?”
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