Ehso - Capítulo 033

 

“É hora de parar. Não aguento mais” — Amália olhava o relógio — “Foi mais de 1 hora quarenta minutos de caminhad…”

Seu pensamento é interrompido por um carro, buzinando e parando poucos metros à sua frente. Algumas pessoas olhavam a cena. Quando ela reconheceu o veículo, se aproximou cautelosa e, a 1 metro da janela ela olhou para o interior do automóvel.

— Marcos?

— Você é bem inteligente. — E sorri. — Vem! Entra aí. Te dou uma carona.

Amália olhou para os lados e não se sentia confortável em entrar no veículo de um homem.

— Ainda vou terminar a caminhada.

— Pela sua cara e pelo estado da sua roupa, acho que você já caminhou até mais do que devia.

Em seu íntimo ela concordou. Amália forçou demais naquele dia.

— Eu…

— Eu preciso falar com você. — o rapaz interrompeu o que ela diria.

A curiosidade a venceu.

— Certo! Vou aceitar a carona.

Ainda um pouco receosa, ela abriu a porta do carro e entrou. Ao sentar, a costura do seu short cedeu em toda a sua perna esquerda, expondo a coxa grossa e branca.

— Uau!

Por instantes Marcos não conseguiu deixar de olhar, até que ela cobriu com as mãos ordenando:

— Vamos!

Novamente ele a olhou nos olhos e sorriu:

— Claro.

Dali ele se calou e, como se ponderasse, guiou o carro lentamente rumo à casa. Amália viu que ele tinha o rosto pouco avermelhado e sua aparência era bagunçada, mas permaneceu calada, tentando pensar onde ele estivera e no que fizera.

“Boêmi…”

— Sabe… — Ela teve o raciocínio interrompido. — É… Me desculpe se alguma coisa que falei te incomodou. Apenas queria muito te dar essa carona. — Ele parou o carro e ofereceu: — Se quiser descer, tudo bem, eu entendo.

Com o olhar grave, compenetrado, ela perguntou:

— Você quer falar comigo, não é?

— Sim. Preciso.

— Não precisa se preocupar com nada, Marcos. Não me incomodou.

Ele engatou a marcha e saiu com o carro, voltando para casa.

— Mesmo assim, vai desculpando qualquer coisa.

— Sem problema.

No seu íntimo, Amália achava graça da situação. Mas não sorriu.

O carro estacionou e ela desembarcou. Quando passava pelo portão lateral, veio a pergunta:

— Sobrou alguma coisa do almoço?

— Sobrou sim. Você quer?

— Quero. Estou sem uma refeição descente faz tempo.

— Certo. Vou tomar banho e te aviso.

— Ok!

Após 20 minutos, Amália abria a porta da cozinha e, logo, Marcos chegou:

— Se importa? — Mostrou a garrafa de cerveja.

— Não. Fique à vontade. — Ela respondeu voltando ao fogão.

Ao vê-la assim, algo lhe chamou a atenção:

— Uau! O que é isso nas suas costas?

Ela parou de imediato o que fazia e correu ao quarto. Voltou de lá vestindo uma blusinha de gola, que lhe ocultou a parte. Só então respondeu:

— Não é nada.

Mas Marcos percebeu que, após a pergunta, Amália se fechou mais. Mesmo assim, durante a refeição, ele observou a simplicidade da casa e a organização das coisas, então quebrou o silêncio:

— Amália, você pode me ajudar?

— Em quê exatamente?

— Preciso de uma diarista para organizar minha casa, e é difícil encontrar uma pessoa de confiança hoje em dia. Será que você teria alguém para indicar? — Ele pegou o prato, se serviu e voltou ao seu lugar. Deu mais um gole na cerveja enquanto aguardava a resposta a garota.

Pensativa, ela apoiou os braços na mesa.

— Olha, não conheço quase ninguém na cidade, mas posso perguntar lá no templo.

— Tudo bem, mas, olha só: estou vendo que a sua casa é bem organizada e limpa. Você não poderia fazer esse serviço para mim? — ele juntou um bocado de arroz e feijão e levou à boca. — Meu Deus do céu!

— O que foi? O que aconteceu. — ela ficou aflita.

Por uns instantes Marcos ficou olhando para ela enquanto engolia e se servia de outra porção.

— Essa comida esta, simplesmente, divina.

Ela corou na hora.

— Na hora do almoço estava melhor.

— Só acredito se almoçar contigo um dia. — Amália riu. — Vou encarar isso como um sim.

— Sobre a proposta de serviço, não sei se posso aceitar.

— Pensa com calma, é para limpar e organizar, não precisa cozinhar. Lavar e passar eu já pago por fora. Você faz o seu horário. — Marcos bebericou a cerveja.

— Isso é precisão ou realmente você confia em mim?

— Um pouco de cada coisa. Até porque eu sei onde você mora, logo, se precisar quebrar suas pernas, bem, é só vir até aqui.

Ambos riram desatinadamente, até que ela parou séria, perguntando:

— Isso foi mais uma das suas piadas, né?!

— Talvez.

Riram mais um pouco, até que ela respondeu:

— Tudo bem! Aceito o desafio.

— Certo! Então está aqui.

Marcos já pegou a chave extra no bolso e entregou.

— Peraí… como você sabia que eu aceitaria?

— Não sabia. Mas o seu “não” eu já tinha. — ele se levantou: — Olha, se você for cozinhar o seu almoço, e quiser fazer um pouco mais, eu compro. A comida estava uma delícia.

O coração de Amália pulou dentro do peito com o elogio.

— Eu te aviso.

E ele saiu.

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