O cheiro, levemente
adocicado, entrou por suas narinas. Lhe transmitia uma calma e serenidade
experimentadas apenas em sua infância, quando era cuidado por sua mãe. A
temperatura ali era morna e agradável, como numa manhã de primavera. Mas algo
não estava certo. Sentiu uma pontada sobre o estômago e, em seguida, um
borbulhar. Sua boca se tornou amarga, e a saliva ficou salgada. Despertou com
algo voltando pelo seu tubo digestivo e, abrindo os olhos, viu a garota. Ela o
segurou delicadamente pela nuca, e direcionou sua boca para o recipiente. Marcos
vomitou.
— Obrigado! Obrigado! — Respondeu
ofegante e, olhando para os lados, perguntou: — Onde estou?
— Procurei no carro e nas
suas roupas, mas não encontrei as chaves da sua casa, então te trouxe para a
minha.
— Você… Você me arrastou até aqui?
— Foi o jeito.
— Obrigado mais uma vez. — Agora
estava mais desperto. — Acho que misturei muitas bebidas ontem e deu no que
deu.
— Sei como é.
— Sabe?
Mas ela não quis aprofundar
o assunto.
O rapaz olhou para os lados,
vendo a simplicidade da residência: poucos móveis, telhado sem forro, paredes
pintadas no cimento cru.
— Você quer comer algo?
Enquanto dormia eu fiz o almoç…
— Espere! Quantas horas são?
— a interrompeu com a pergunta.
— 13 horas e 15 minutos.
Num repente ele pulou da
cama e se viu só de calças.
— Cadê minhas roupas?
Tampando o rosto com as
mãos, por causa da vergonha, Amália respondeu:
— Estavam muito sujas, então
lavei as meias e a camisa, que estão secando no varal. Também limpei os seus
sapatos e os coloquei na sombra embaixo do tanque.
— Obrigado!
E Marcos correu para o
carro, onde abriu um compartimento oculto, sacando a chave de casa. Do barraco,
Amália ouviu o barulho do chuveiro, depois de um secador, e das portas do
armário sendo abertas. Por fim, viu o rapaz retornando em sua direção:
— Não posso almoçar contigo,
pois estou atrasado para um compromisso. Mas muito obrigado por tudo e até mais
ver.
— Até!
Marco acelerou rumo ao seu
destino. No caminho o pensamento:
“Como ela fez tudo aquilo?”
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