Ardes - Capítulo 175

 


A claridade lhe era bem satisfatória, até porque sentia um leve amornar ao seu redor. Havia alguma espécie de neblina ou vapor que emanava da água na qual ela se sentava. Via isso por todos os lados que olhasse.

“Aqui ninguém mais vai me incomodar. Ninguém mais vai bagunçar minha cabeça.”

Cada vez se sentia melhor naquele meio, tanto que se deitou. A luz pareceu mudar de posição, ficando à sua frente.

“É tão gostoso aqui. Gostaria que você pudesse ver isso…”

“Não há nada para ver.”

“Nada?”

“Vejo apenas você. Você voltará?”

“Não há para que voltar.”

“Há um para que, assim como para quem. Não se lembra?”

Sentiu o coração bater forte e se sentou com o olhar pouco perdido:

“Aqui é tão tranquilo… e está bem para mim.”

“Está cômodo, mas você não pode ficar.”

“Aqui não é como o mundo onde eu costumava viver. Eu… eu acho… acho que nunca quis realmente viver.”

Um leve tremor sacudiu as águas ao seu redor.

“Não diga isso, sabe que está mentindo para si.”

“Sim, eu sei… mas me é doce.”

“Não pode mais ficar… eu lamento.”

E a claridade se verteu em escuridão. Gritou:

“Não me obrigue!”

“Lamento, estão te chamando.”

Então uma terceira voz, muito distante:

— Bruna…

Os vapores, outrora quentes, agora eram gélidos.

“Eu não… eu…”

Sentada, ela sentiu algo em sua mão.

“Continuam te chamando…”

— Bruna…

Abraçou-se tentando se aquecer.

“Não… eu…”

E o cheiro se fez em seu nariz, e no seu ouvido vozes se fundiram:

“Te chamou, não ouviu?”

— Bruna…

Agora deitada, sentiu algo em seu rosto e tocando o cabelo.

— Bruna… — chamou-a.

A voz era firme, grossa, e a retirava de seu cômodo mundo. As lágrimas lhe desceram.

— Bruna…

Parecia mais real…

— Bruna…

Ela abriu os grandes olhos, se esquecendo de toda a conversa e encarando o rapaz diante dela.

— Bruna! — ele repetiu mais uma vez. — Seja bem-vinda!

— Minha irmã… — Renata a abraçou, soluçando, em pranto. — Eu te amo! Eu te amo!

Mas Bruna não conseguia para de olhar para Rainen e observou seu braço enfaixado. Ele se endireitou sentado na beira da cama e olhando para a noiva.

— Conseguimos… — Ele sorriu aliviado. — Conseguimos.

— Por favor, Rainen, chame o médico.

Como era noite, Ronie dormia em casa, mas deixou avisado que, na ocorrência de qualquer mudança, lhe telefonassem imediatamente. Foi assim que 20 minutos depois ele chegou ao hospital.

— Inacreditável! Inacreditável! — Ronie observava os aparelhos, além de fazer as medições básicas. — Não sei o que falar.

Os pais chegaram naquele exato momento.

— Como ela está? — perguntou Mario.

— Aparenta perfeitas condições, mas é cedo para atestar isso.

— Então ela ainda ficará em observação? — Elizabeth segurava a mão de Bruna.

— Não é necessário. Até entendo que em casa a recuperação dela se daria de forma mais rápida e eficiente, mas a grande questão é que ela não pode ficar sozinha de forma alguma.

— Estamos em três, acho que podemos nos revezar — pontuou Renata. — O que acham?

— Bem, isso ainda depende de outros fatores. — E Mario questionou Ronie: — Quanto tempo de recuperação?

O médico ponderou um pouco.

— Inicialmente 15 dias. Daí faremos uma reavaliação.

— Não é um longo período — observou Elizabeth. — Acredito que a Letícia esteja apta a nos cobrir durante esse período.

— Concordo — apoiou Renata.

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