A claridade lhe era bem satisfatória, até porque sentia um leve amornar ao seu
redor. Havia alguma espécie de neblina ou vapor que emanava da água na qual ela
se sentava. Via isso por todos os lados que olhasse.
“Aqui
ninguém mais vai me incomodar. Ninguém mais vai bagunçar minha cabeça.”
Cada
vez se sentia melhor naquele meio, tanto que se deitou. A luz pareceu mudar de
posição, ficando à sua frente.
“É
tão gostoso aqui. Gostaria que você pudesse ver isso…”
“Não há nada para ver.”
“Nada?”
“Vejo apenas você. Você voltará?”
“Não
há para que voltar.”
“Há um para que, assim como para quem.
Não se lembra?”
Sentiu
o coração bater forte e se sentou com o olhar pouco perdido:
“Aqui
é tão tranquilo… e está bem para mim.”
“Está cômodo, mas você não pode ficar.”
“Aqui
não é como o mundo onde eu costumava viver. Eu… eu acho… acho que nunca quis
realmente viver.”
Um
leve tremor sacudiu as águas ao seu redor.
“Não diga isso, sabe que está mentindo
para si.”
“Sim,
eu sei… mas me é doce.”
“Não pode mais ficar… eu lamento.”
E a
claridade se verteu em escuridão. Gritou:
“Não
me obrigue!”
“Lamento, estão te chamando.”
Então
uma terceira voz, muito distante:
— Bruna…
Os
vapores, outrora quentes, agora eram gélidos.
“Eu
não… eu…”
Sentada,
ela sentiu algo em sua mão.
“Continuam te chamando…”
—
Bruna…
Abraçou-se
tentando se aquecer.
“Não…
eu…”
E o
cheiro se fez em seu nariz, e no seu ouvido vozes se fundiram:
“Te chamou, não ouviu?”
—
Bruna…
Agora
deitada, sentiu algo em seu rosto e tocando o cabelo.
—
Bruna… — chamou-a.
A
voz era firme, grossa, e a retirava de seu cômodo mundo. As lágrimas lhe
desceram.
—
Bruna…
Parecia
mais real…
—
Bruna…
Ela
abriu os grandes olhos, se esquecendo de toda a conversa e encarando o rapaz
diante dela.
—
Bruna! — ele repetiu mais uma vez. — Seja bem-vinda!
—
Minha irmã… — Renata a abraçou, soluçando, em pranto. — Eu te amo! Eu te amo!
Mas
Bruna não conseguia para de olhar para Rainen e observou seu braço enfaixado.
Ele se endireitou sentado na beira da cama e olhando para a noiva.
—
Conseguimos… — Ele sorriu aliviado. — Conseguimos.
—
Por favor, Rainen, chame o médico.
Como
era noite, Ronie dormia em casa, mas deixou avisado que, na ocorrência de
qualquer mudança, lhe telefonassem imediatamente. Foi assim que 20 minutos
depois ele chegou ao hospital.
—
Inacreditável! Inacreditável! — Ronie observava os aparelhos, além de fazer as
medições básicas. — Não sei o que falar.
Os
pais chegaram naquele exato momento.
—
Como ela está? — perguntou Mario.
—
Aparenta perfeitas condições, mas é cedo para atestar isso.
—
Então ela ainda ficará em observação? — Elizabeth segurava a mão de Bruna.
—
Não é necessário. Até entendo que em casa a recuperação dela se daria de forma
mais rápida e eficiente, mas a grande questão é que ela não pode ficar sozinha
de forma alguma.
—
Estamos em três, acho que podemos nos revezar — pontuou Renata. — O que acham?
—
Bem, isso ainda depende de outros fatores. — E Mario questionou Ronie: — Quanto
tempo de recuperação?
O
médico ponderou um pouco.
—
Inicialmente 15 dias. Daí faremos uma reavaliação.
— Não é um longo período — observou Elizabeth. — Acredito que a Letícia esteja apta a nos cobrir durante esse período.
— Concordo — apoiou Renata.
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