Quando a 2ª viatura chegou, os policiais colocariam todos algemados na gaiola traseira, mas ela não deixou:
— Ele não! — Apontou para
Nogueira. — Está comigo!
Sentiu-se estranha com a
frase dita. Nunca pensou fazer essa vinculação com um negro, mas havia
constatações a serem feitas: ele sempre lhe fora cordial e respeitoso; aos
encontros lhe dava atenção; e, agora, a protegera.
“Mas porque? Ele não tinha
necessidade de fazer isso.”
Ela estava certa. O rapaz
não era policial, nem fazia parte de sua roda de conhecidos, porém era algo que
Rafaela ainda não conhecia: o lado cavalheiro de Nogueira.
A própria não queria, mas se
viu perguntando:
— Está tudo bem?
— Está sim…
Mas ela percebeu algumas
escoriações, além de rasgões nas roupas do rapaz.
— Vamos para o
pronto-socorro! — Deu o comando para o motorista da viatura.
— Entendido!
No local, os infratores
foram atendidos primeiro, pois eles têm prioridade sobre os que esperam. Nogueira
em seguira. Após o raio-x, e constatar que não havia ossos quebrados, ele foi
levado à sala de medicação. Tudo isso com a policial Rafaela ao seu lado.
Ao chegarem na delegacia,
Rafaela foi direcionada imediatamente para a sala do delegado Guilherme.
Sentado próximo à porta, Nogueira ouvia os berros do chefe de Rafaela:
“Você está louca? Está
louca? Envolver um civil nas ações da PM? Já imaginou se ele leva um tiro e vai
a óbito? Além de perder uma excelente policial, você ainda pegaria 30 anos de
xilindró! 30 anos! Tá entendendo? Tá entendendo?”
Quando pensava em dispensar
a policial ela soltou a bomba:
— Eu trouxe os três
meliantes. Nesse momento estão prestando depoimento.
Guilherme, que era branco,
ficou vermelho de tão nervoso. Foi com tremenda dificuldade que ele conseguiu
falar em voz baixa:
— Como é que é?
— Lamento!
Ele respirou fundo, pegou um
cigarro do maço, colocou-o na boca, acendeu e deu uma boa tragada, soltando uma
carreira de fumaça na direção de Rafaela:
— Você sabe qual é a nossa
política por aqui, certo?
— Sim, senhor!
— Ótimo! — ele discou o
ramal e informou — Tuco, suspende os depoimentos. A policial Rafaela vai tomar
conta de tudo referente a esses três vagabundos. Mas é tudo mesmo, cê tá me
entendendo?!
— Claro!
Se sentindo vingado, ele
olhou para ela:
— Não me apronte outra
dessas. Dispensada!
O que a acalantou um pouco
foi encontra-lo ainda sentado do lado de fora.
— Que dura, heim!? — Nogueira
não sabia bem o que dizer.
— Ele é assim mesmo: não
tolera erros. Mas é um dos melhores delegados que tivemos aqui nos últimos
anos. A criminalidade baixou muito nessa região.
— Ah! Não é de se duvidar.
Se ele é assim com vocês, imagina com os bandidos. — ele riu, mas a policial
ficou séria. — Desculpe.
— Tudo bem. Agora me dê
licença, preciso autuá-los e, por fim, colher o seu depoimento.
— Vai demorar? — Nogueira
olhou para o relógio que marcava 16h10.
— Farei o possível para que
não. — novamente ela se estranhou dizendo isso. — Até daqui a pouco.
— Até!
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