Ardes - Capítulo 174

 


A tristeza veio forte, deixando o coração de Elizabeth pesaroso. Enquanto o esposo tentava descansar um pouco, ela foi à cozinha preparar um chá. A água na chaleira acabara de ferver. No armário, ela pegou um pote que, ao destampar, lançou o adocicado aroma da erva.

“Camomila.”

Encheu a colher e colocou na xícara, despejando por cima a água escaldante. O vapor aromatizado subia, espalhando o cheiro característico pelo ambiente.

“Se houve erro, onde foi que aconteceu? Sempre fomos tão presentes.”

Passava o chá em uma peneirinha, retirando a erva e deixando o líquido pronto para ser bebido. Segurou a caneca e sorveu. Não era o seu sabor predileto, mas a acalmaria.

“Será que lhe faltou algo, e não percebemos? Sei que o problema financeiro foi um baque forte para ela, mas a chegada de Rainen também não foi de fácil assimilação para Bruna.”

Elizabeth pegou um pote e dele retirou dois biscoitos de maisena, mordendo um. Quando se sentaria, um pensamento mais grave lhe ocorreu:

“Será que foi influenciada por alguém?”

Ela não acreditava nisso, mas se preocupou e resolveu subir até o quarto da filha. Acendeu a luz e entrou. Um olhar rápido e superficial mostrou um quarto limpo e organizado.

“Ela sempre foi assim.”

Agora vasculhava prateleiras, escrivaninha e gaveteiro. Folheou papéis, livros, cadernos, olhou pastas. Elizabeth queria encontrar algo, só não sabia o que era nem onde estava. Até que, num canto mais escuro, visualizou o móvel de duas portas. Sua curiosidade aflorou e foi até lá. Abriu as portas e, assim que o fez, dois volumes, cobertos por um plástico preto chamaram a sua atenção. Ao abri-los, não reconheceu de imediato, então pegou o volume de tecido.

“Mas esse vestido é o tubinho azul que ela vestia no dia em que se engasgou”

Pegou o segundo volume, vendo a toalha rosa-choque.

Elizabeth permaneceu estática por instantes, enquanto tinha em mãos as duas peças. De repente, começou a tremer. As lágrimas vieram quando somou uma coisa com a outra, além de frases que ouviu ou situações que presenciou.

“Isso… isso não pode ser.”

Ela se sentou na cama no exato instante em que o seu esposo apareceu na porta.

— Amor, onde está a Renata?

— Ela saiu com o Rainen, disse que voltaria logo — respondeu quando se acalmou mais.

Diante da fragilidade da esposa, e sem saber a verdadeira causa das lágrimas, sentou-se ao seu lado e a acalantou:

— É um momento passageiro, meu bem.

Ela lhe mostrou a peça de banho.

— Nossa! A quanto tempo eu não vejo essa toalha.

Não quis falar nada naquele instante, mas sabia que tinha em mãos um problema que colocaria em risco a sua família. Foi quando o telefone tocou e Mario correu para atendê-lo.

— Elizabeth, foi o Rainen. Ele e Renata estão no hospital e pediram para que fôssemos para lá agora.

O seu terror aumentava gradualmente.

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