No
hospital, era dia de visita. Familiares, cônjuges, amigos… todos tentando dar
atenção àqueles que passaram por algum acidente ou situação traumática. O
horário permitido era das 15h até as 17h, sempre às terças, quintas e sábados.
Ali, o turbilhão de emoções agia de forma diferente em cada um, mas a maioria
tentava exprimir otimismo, mesmo diante do quadro mais desesperador. A família
de Bruna se angustiava de uma forma mais dolorida. As irmãs, extremamente
parecidas, sempre juntas, passavam a impressão de que, num futuro distante,
chegariam ao fim no mesmo instante, por causa de um mesmo problema. Então
aquela separação em vida partia ao meio o coração de Mario, Elizabeth, Renata
e, por tabela, Rainen.
—
Mas, Ronie, nos diga o que está acontecendo — implorava Mario.
— É
difícil dizer. — Ronie fora indicado por Sandro para acompanhar e tratar da
garota.
—
Nos diga algo, por favor! — pediu Elizabeth.
—
Olha, ela está inconsciente, não abre os olhos e não responde aos estímulos.
— Está dizendo que ela está em coma? É isso? — Renata se angustiava.
—
Não é o que estou dizendo, mas as características são parecidas, exceto pelo
fato de que vez ou outra o metabolismo cerebral dela acelera durante um tempo,
depois desacelera.
—
Pode ao menos…
—
Não posso! — o médico interrompeu Elizabeth. — Entendo o que estão passando,
mas vejam a minha situação diante do acontecido com a sua filha. Ela não teve
um arranhão, não teve um osso quebrado. Ela está ali, deitada e viva. É quase
um milagre. Então, convenhamos, foge um pouco da minha alçada. Peço apenas que
sejam pacientes e tenham fé. Com licença.
Ronie
saiu para fumar um cigarro e deixou os familiares com a paciente. O quarto em
que Bruna permanecia internada era quase uma UTI[1].
Ali Ronie acompanhava os dois equipamentos, um que media o ritmo cardíaco e a
respiração e outro que media os impulsos cerebrais. Mas sem alterações, se não
as já citadas.
Aquele
foi o terceiro dia após o acidente, e ficava evidente que a cada visita a
família voltava pior para casa.
—
Não há uma mudança favorável — apontava Mario.
— Ao
menos não houve nada desfavorável — foi mais otimista Elizabeth.
Ouvir
e ver os pais naquela condição machucava o coração de Renata, mas pior era
saber que a irmã estava presa a uma cama.
—
Filha, nós vamos tomar banho. Sugiro que faça o mesmo.
—
Tudo bem, mãe. Eu já vou…
Nem
terminou de falar e lá fora um carro estacionou, em seguida, o toque na
campainha. Diante dela, o rapaz, com o braço enfaixado em dois pontos:
antebraço e tríceps. Mas na outra mão trazia um caixa de bombons.
— É
sério que você veio assim me ver? — Renata o abraçou, desabando em choro. — Eu
te amo, eu te amo!
—
Também te amo, gatinha. — E beijou sua testa.
—
Entre, eu ia tomar banho. — Enxugava as lágrimas.
E a
acompanhou subindo as escadas. Perto da porta do quarto ela falou alto:
—
Mãe! Pai! O Rainen está aqui.
—
Tudo bem, depois falamos com ele.
Renata
entrou no quarto e pegou sua toalha e roupas íntimas. Em seguida, entraram no
banheiro.
—
Como está sua irmã?
—
Ela permanece estável — respondeu à pergunta feita na porta —, e isso nos
desgasta, pois fica apenas nisso.
Renata
tirou a roupa e entrou no box, ligando o chuveiro.
— O
médico não disse mais nada de relevante?
— O
doutor Ronie disse achar estranho o fato de ela ter sintomas bem parecidos com
os de um coma, mas que o metabolismo cerebral dela acelera e depois desacelera.
Desligou
o chuveiro e agora se ensaboava.
—
Como se tentasse funcionar?
— Eu
acho! E disse que ela não tem respondido bem aos estímulos.
A
mente de Rainen trabalhava as informações.
—
Ela não deve estar em coma. A condição dela com certeza é outra.
—
Tomara.
Renata
abriu o registro, derramando água para se enxaguar.
— O
médico mesmo teve o cuidado de não rotular. Acontece que, em situações como
essas, os parentes querem respostas objetivas, coisa que nem sempre é fácil de
dar nos primeiros momentos.
—
Onde aprendeu sobre isso?
—
Sou mecânico, também passo por situações parecidas, como quando um carro não
tem a chave e precisamos fazer uma ligação
direta para ligá-lo.
Ela
agora se enxugava.
— E
funciona?
—
Geralmente, sim.
—
Espere, deixe eu me vestir logo, antes que meus pais terminem o banho.
Ela
vestiu calcinha e sutiã e, enrolada na toalha, voltou ao quarto.
— O
médico está estimulando ela? — questionou Rainen.
— Sim.
— Acho que tenho uma ideia.
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