MI Bahrteau - 003

 


Agora eram 4 as garrafas de whisky sobre a mesa: 3 vazias e a última pela metade. Sentada naquele canto mais escuro da boate, a garota não bebia, ela dragava o líquido em grandes goles como se fosse água. Agora virava o copo cheio que derramava e lhe escorria pelo pescoço, molhando a roupa, mas logo evaporava.

Do balcão a atendente, e dona do estabelecimento, observava aquela cliente desde que tinha chegado, e não só naquela madrugada, pois era a quarta vez nessa semana que a garota aparecia por ali. A moça sentada à mesa era loira com cabelos abaixo dos ombros, pouco alta, e com olhos azuis que focavam apenas na bebida. Geralmente vestia um sobretudo bege, sem adereços, acessórios ou maquiagem. Muito discreta e sempre sozinha. Chegava por volta 1 hora da manhã e chamava o garçom pedindo a primeira garrafa e assim se passavam horas entre uma garrafa e outra.

Naquele dia já se aproximava do fechamento, eram 4h30 da manhã e o movimento diminuía visivelmente. Os três seguranças se posicionavam do lado de fora e próximos à porta, observando e organizando a saída dos clientes. Algumas confusões ocorreram em outros dias, por isso a nova postura.

Do lado de dentro era o momento “fim de noite”. Hora de fechar contas, consumir uma última carreira ou dose, e até mesmo tentar uma última investida para quem não quisesse dormir sozinho:

— A garota está sozinha? — O rapaz se aproximou galanteador.

Pouco cambaleante ela ergueu a cabeça que estava apoiada sobre os antebraços e estes sobre a mesa, o olhou por algum tempo para respondeu:

— Vê mais alguém aqui? — Foi irônica.

Ele ignorou a acidez da resposta e prosseguiu com a tentativa:

— Talvez eu possa ajudá-la a chegar em cas...

Mas ela ficou de pé e interrompeu a frase:

— E ser levada para cama por um fracassado como você? Não preciso diss…

O soco no queixo a atingiu sem aviso, jogando-a no chão. Irritado o rapaz a chutou mais algumas vezes, antes que a gerente se aproximasse engatilhando o rifle calibre 12 e fazendo mira nele:

— Deixe ela em paz!

Ele cessou com as agressões e, quando a mulher olhou para a garota agredida para avaliar a situação, aproveitou para fugir por entre as mesas e a escuridão do local.

— Daniel, faça o fechamento! — Ordenou ajudando a cliente a se levantar. — Por hoje acho que é só.

— Precisa de ajuda com ela?

Se aproximou e a gerente passou a arma para ele.

— Não. Pode deixar. Obrigada!

O funcionário fez como o ordenado, e ela voltou-se para a garota:

— Venha! Deixe-me ajudá-la.

— Não precisa… estou… bem — disse a garota sem conseguir se pôr em pé.

— Mesmo assim. Permita-me.

A proprietária a sustentou por baixo do braço, já que a cliente era mais alta. Assim caminharam por um corredor para o depósito, subindo por uma escada mais ao fundo.

— Para onde vamos?

— Tenho um kit de primeiros socorros em casa.

— Casa? Onde? — perguntou ainda zonza.

— Aqui em cima. Quando aluguei o prédio, essa sala estava inclusa no contrato, então preferi utilizá-la já que fazia parte do aluguel. Não é grande, mas o suficiente para quem mora só.

Ela destrancou a porta e acendeu as luzes, revelando o ambiente aconchegante, sem divisões entre sala, quarto, cozinha e área de serviço. Entraram e ela trancou a fechadura.

— Bela casa — elogiou a recém-chegada.

— Obrigada! Agora vamos ver esses ferimentos. — A guiava para o banheiro.

— Não é necessário. Eu estou bem.

— Mas o seu nariz está sangrando — disse pegando a caixa de primeiros socorros num armário abaixo da pia. — Deixe-me dar uma olhada.

Sem mais resistência ela permitiu:

— Sempre ajuda estranhas? — perguntou enquanto tinha o nariz higienizado.

— Não por isso. O meu nome Jeny e o seu?

Não teve tempo de ouvir a resposta, pois a garota vomitou toda a bebida que havia ingerido, e em seguida escorregou no próprio vômito.

— Meu Deus!

— Por favor, me desculpe! — disse caída e sem equilíbrio para se levantar.

— Tudo bem! Não se preocupe! Não se preocupe!

Levou-a para dentro do box e abriu a ducha. Embaixo da água desabotoou o sobretudo expondo o uniforme militar. Na placa sobre o bolso ela leu:

Sargento de Pessoal, Ann. Bom, acho que agora não somos mais tão estranhas.

Mas a garota não respondeu, pois estava atônita. Então Jeny correu à cozinha e trouxe um banquinho para o banheiro. Lá terminou de despir Ann e sentou-a para que pudesse lhe dar banho.

— Os chutes lhe renderão manchas roxas por algumas semanas — constatou ao vê-la nua.

— Eu não… Eu…

— Calma. Está tudo bem. Você está segura agora.

Enxugou-a com uma toalha que estava próxima e correu ao quarto buscando um roupão. Em seguida levou a garota para a sala e sentou-a sobre o sofá.

— Aqui é bem confortável. Eu já volto.

Jeny limpou o banheiro e, ao terminar, também tomou banho. Quando retornou para a sala, Ann estava apagada sobre o sofá.

— Acho que confortável até demais.


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