Marcos até gostaria mas,
para ajudar Nogueira, certamente perderia tempo e poder de fogo durante o jogo de suas conquistas.
— Daquele tamanhão e com
problema para cantar mulher? É demais mesmo.
Mas no fundo, ele pensava em
alguma forma de auxiliar o colega, desde que não saísse prejudicado. Até porque
era Nogueira quem cobria as suas faltas e atrasos, que não eram poucos. Em reuniões,
viagens, apresentações, quando Marcos faltava, Nogueira assumia. Havia muita
integração profissional entre os dois. Se conheceram em salas de cursos
virtuais e, com o tempo e afinidades, descobriram estar próximos e Marcos,
sabedor das suas necessidades e as da empresa, conversou com a proprietária e
fizeram a proposta ao rapaz.
Nogueira era um negro
parrudo e um pouco cafona em sua forma de se vestir. Tinha um jeito pouco
abrutalhado de início mas, após alguns minutos de conversa, era possível
perceber que era uma pessoa interessante e muito agradável. Ele também era mais
especializado que Marcos, porém mais introvertido, o que lhe atrapalhava a
ascensão.
Na tentativa de mantê-lo
mais fidelizado, Marcos teve a ideia:
“—
Vista a sua melhor roupa e me encontre às 23 horas na frente da Maguzelê. Pode
ser?”
“—
Claro! Tá marcado.”
Agora, faltando 30 minutos
para às 23 horas, Marcos dava os últimos retoques antes de sair de casa. Frente
ao espelho, conferiu os dentes; borrifou o perfume importado; uma passada de
gel facial; o cabelo jogado de lado. Abriu um botão da camisa e jogou o paletó
sobre o ombro direito.
“Hora da diversão!” — Pensou
desligando as luzes e saindo de casa.
Quando entrou no carro e
apertou o botão do portão eletrônico, percebeu um veículo na calçada da casa,
obstruindo sua passagem. De imediato reconheceu o carro. Mesmo assim ligou e
deu ré, parando o para-choques a pouco mais de 20 centímetros da traseira do
sedã branco. Acelerou e desceu do veículo. Aurélio e Amália permaneciam no
veículo e estavam assustados:
— Está louco? — Questionou o
rapaz.
Marcos se abaixou perto de
Amália, falando pouco baixo, quase para si:
— Demente? Retardado?
Mongolóide?...
— O que está dizendo? — Ela
quis saber.
— Estou tentando descobrir
qual o problema que o viado do seu
namorado tem.
Ela corou de imediato.
— Como é que é? — Aurélio
estava indignado.
— Isso mesmo, seu palerma!
Tira a porra do carro da frente da minha garagem! Imbecil!
Marcos estava completamente
impaciente. Entrou no carro batendo a porta, e se Aurélio não retirasse o veículo
imediatamente, seria atingido na lateral. Enquanto o portão fechava, Marcos
parou ao lado do casal:
— Ei! — Apontou para Amália —
Cuidado! As crianças podem nascer com a mesma deficiência do pai, hein!?
E saiu cantando pneus. Aquele
não foi um bom presságio para o início de noite.
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