O militarismo é uma oportunidade em vários aspectos. Pode ser o
paraíso para um esforçado visionário ou o inferno para um pasmo preguiçoso, vai
de cada alma que ali chega. É firme, como a vida exige, e forma como ela mesma
precisa.
Fato é que, naqueles dias,
havia certo preconceito com as Armas[1],
e entre elas tinha severa distinção, tanto que os pais preferiam que seus
filhos ganhassem asas em vez de caminharem ou que eles nadassem em vez de rastejarem, e só em caso de não aparecer algo mais interessante
para lhes dar status é que permitiam
a seus rebentos entrarem para o exército.
Porém nem todos pensavam assim, e quando chegou a sua época de
alistamento, ele sabia que não queria voar, tampouco navegar. Precisava de
motores, e, de preferência, que estes estivessem conectados a rodas, e estas
sobre o chão.
— Lamento! Não posso inscrevê-lo. Atravesse a rua e procure uma
das outras duas opções.
O lugar era pequeno, mas bem organizado: uma sala de 50 m², com
três grandes janelas, embora precisasse do ventilador de teto ligado para
refrescar o ambiente. Havia três armários, um bebedouro, um telefone, além de
dois computadores e uma balança que mensurava peso e altura. Três mesas
acomodavam alguns papéis, canetas e outros poucos materiais. O lugar estava
vazio, apenas com ele e o responsável pelo alistamento, o senhor Laurence.
— … Não posso! — enfatizou.
— Mas o que há de errado?
— São suas notas…
— Ruins demais? — questionou o garoto.
— Ao contrário, muito boas.
— Então?
O funcionário mantinha os olhos fixos nos papéis em suas mãos.
— Com essas notas, e em outra carreira, você seria melhor
utilizado.
Ele sabia que sim. A matemática e a álgebra lhe permitiriam isso,
mas argumentou:
— Senhor Laurence… entendo o que me fala, mas você me conhece,
sabe que minha ligação é com motores e tudo o que os cerca. Não tenho interesse
em voar ou navegar, a coisa comigo é em
terra.
Sim, Laurence o conhecia, pois o rapaz fez várias manutenções em
sua antiga caminhonete. Foi um problema crônico que se repetiu durante 5 anos,
mas o rapaz o identificou e resolveu.
— Não posso desconsiderar o seu potencial dentro dessa área de
conhecimento. Seria um pecado. Mas, se eu inscrevê-lo, as coisas podem ser mais
difíceis, tanto para você quanto para mim.
— Senhor Laurence, eu preciso ir para o exército. Para isso, corro
qualquer risco — enfatizou Rainen.
O homem ponderou por alguns instantes e, mesmo temeroso, preencheu
as requisições e entregou-lhe um canhoto:
— Agora é só aguardar. Boa sorte!
Com aquilo, o jovem sentiu esperança.
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