Rainen seguia com
suas batalhas diárias. Quando conseguia tempo, ia rapidamente ao refeitório e
retornava para a sala, pois precisava fazer as tarefas do curso técnico e ler
algum material relacionado ao trabalho.
Naquele dia, sentado
em sua carteira, concentrado em cálculos e apontamentos, sentiu uma fragrância
envolvê-lo. Teve a percepção de que não estava mais só e, erguendo a cabeça,
seus olhos a contemplaram:
— Então é aqui que
você se esconde… — Ela sorriu, sentando-se na carteira da frente.
O fato de ela estar
ali, e falar com ele, já significava muito. Maravilhado, não conseguiu
responder, não de imediato.
— Matemática? — ela
continuou a falar, diante do silêncio do rapaz.
Então ele voltou a
si.
— É, aparece bastante
dentro desses materiais. — Tentou ser agradável.
— Gosto de cálculos,
mas prefiro os textos — prosseguiu a garota.
Ele pensou rápido:
— Também entendo sobre literatura, quer ver? — Forçou um pigarro e lançou uma voz pouco mais grave, recitando: — Batatinha, quando nasce, se esparrama pelo chão…
E olhou para ela, que
segurava o riso.
— Não quero ser
chata, mas talvez você se saia melhor com números.
Ele coçou a cabeça:
— Sério? Eu estava
tão animado com esse meu novo talento. — Também riu.
Ela gargalhou e,
quando conseguiu parar, falou:
— Quem sabe se
começar assim: Batatinha, quando nasce, espalha a rama pelo chão…
— É sério? Espalha a
rama?
— Seríssimo!
— Então… — Ele fez o
rosto triste e desolado. — … toda a minha infância se baseou em uma mentira?
Ela deu uma risada tão
alta, que chamou a atenção de três alunos no fundo da sala.
— Lamento ser eu a
trazer essa triste notícia — ela fingiu seriedade, mas riu de novo. — Meu Deus,
você é hilário!
Quando ele sorriu, o
sinal tocou.
— Que pena, a
conversa estava tão interessante… — A voz do rapaz era pesarosa.
— É bom que sobra
mais para conversarmos da próxima vez. — E ela novamente sorriu, saindo da
sala.
As palavras ficaram
em sua mente; uma sensação, em seu coração.
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