Ehso - Capítulo 045

 

Era uma noite de sábado, véspera do dia dos namorados, com céu limpo e clima agradável. Para ela um momento especial em que tentaria a restauração de seu casamento.

“— Gostaria de conversar com você amanhã, depois do culto.”

Dentro do carro que retornava para casa, ele recebeu uma ligação:

— Mais tarde nos reunimos. — E desligou.

Ela não gostou muito do que ouviu, mas aguardou. Ao chegar em casa, ele pediu com uma voz mansa e serena:

— Pode me aguardar no quarto? Subo em um minuto para termos uma conversinha rápida.

Sorridente, Amália correu para o segundo andar, pegou a camisola no guarda-roupas e, após vestí-la, sentou-se na cama. Havia uma euforia em seus pensamentos:

“As orações! Elas surtiram efeito.” — Mentalmente dava glórias à Deus.

Dirceu chegou à porta e parou. Amália tinha o olhar fixo nele já que, presa à sua cintura estava uma pistola. Na outra mão, um chicote. Por instantes marido e mulher se olharam, estagnados, mas as sensações rapidamente os tomaram.

— Dirceu, por favor!

— Sim! Eu te farei esse favor! Depois disso você vai aprender quem manda aqui.

E deixou que o chicote se desenrolasse, com a ponta tocando o chão.

O pavor tomou a garota que, numa atitude desesperada, correu pra cima dele. O murro que a atingiu a deixou tonta e, ao rodopiar, caiu de bruços sobre a cama.

— Ótimo!

E partiu para cima dela, que estava desacordada. A primeira chicotada atingiu as costas de Amália na diagonal, da direita para a esquerda, e a dor infernal a fez rogar:

— Pai!

As açoitadas seguintes, a lançaram em aflição e devaneio, fazendo os minutos durarem uma eternidade. Mas a garota não gritava. Apenas gemia. O que fazia Dirceu golpear cada vez com mais violência. Cansado, ele parou, sentenciando:

— Na minha casa, eu mando e você obedece! — E enrolou o chicote sujo de sangue.

 

Foram palmas batidas no portão que a desconectaram da dolorosa lembrança. Amália passou pela lateral da casa e encontrou a moça.

— Boa tarde!

— Boa tarde!

— O Marcos está?

— Quem gostaria?

— Vera. — Mentiu o nome Eliane. — Eu sou conhecida dele.

Amália olhou a moça, de cima em baixo: o cabelo avermelhado muito bem cuidado e vistoso; óculos de sol com armação estampada; brincos discretos em ouro e com uma pedra cada; o vestido justo, com botões na frente, revelava um corpo curvilíneo; as batatas das pernas expostas, demonstravam a incidência de exercícios físicos, além de cuidados com a pele.

“Uau! Não duvido que seja conhecida.” — Pensou Amália antes de responder. — Ele não está. Saiu para o trabalho. Quer deixar recado?

— Não precisa. Eu volto uma outra hora.

— Olha, é melhor ligar antes porque ele sai cedo e chega tarde.

— É que eu estava passando e resolvi aproveitar a oportunidade. — Mentiu novamente. — Qual horário é mais fácil para encontrá-lo?

— Após às 20 horas. Mas não é certeza mesmo.

— Tudo bem! Obrigada!

A garota entrou no carro e saiu. Ainda manobrando nas ruas para chegar à via principal, teve o pensamento:

“Se eu ligar ele me pega na mentira.”

Ainda trancando o portão lateral, Amália também tecia a sua opinião:

“Esse não para.”


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