Ehso - Capítulo 035

 

— E então amigão, furou comigo no final de semana, heim?!

Nogueira parou e pensou um pouco no ocorrido…

Ao chegar em casa estava exausto, só se banhou e deitou, apagando em seguida. Passava das 5 da manhã de domingo. Às 11 horas acordou com o telefone tocando:

— Oi, mãe! Bom dia! Ah tá! Tudo bem! Estarei aí às 13 horas. Beijo!

Desligou o telefone e foi à cozinha. Estava faminto e resolveu comer um apanhado de frutas: 2 laranjas, meio mamão, 1 manga e 1 copo com água.

“Deve segurar um tempo.” — Pensou indo para a sala e ligando o notebook.

Sentou na poltrona e ligou a televisão. Algumas notícias esportivas eram comentadas em uma emissora. Assim que o sistema operacional iniciou, foi ao navegador pesquisar entradas de cinema.

“Acho que aquele filme já está em cartaz.”

Compraria a entrada para a sessão que mais gostava: a de meia-noite. Era a mais vazia, e não havia, sequer, gente na fila, mal os funcionários que, naquele horário, já estavam loucos para irem embora.

Comprado o bilhete, o domingo seguiu tranquilo. Almoçou com a mãe, conversou com parentes, lanchou por lá e retornou para casa às 18 horas. Colocou as roupas na máquina de lavar, limpou sapatos e tênis, conferiu cuecas e meias nas gavetas. Morando sozinho ele precisava gerenciar tais coisas.

Comeu mais algumas frutas e pão, por volta de 20 horas.

“A marmita deixo para jantar amanhã”.

A comida que trouxera da casa da mãe, era pouco pesada para aquele horário. Então a guardou na geladeira. Em seguida observou alguns projetos, e mudanças que foram apontadas. Nada demais, apenas sugestões, mas…

“Inúteis.” — Constatou. — “Não acrescentam nada.”

Às 22 horas foi se arrumar. Às 23 horas estava pronto e saindo de sua residência. O percurso era muito tranquilo naquele horário, logo, o comodoro não corria, mas lentamente desfilava pela avenida w3 sul. Tanto a frente do shopping quanto os prédios do Setor Comercial Sul estavam desertos.

Nogueira estacionou na garagem subterrânea do shopping às 23h20.

“Acho que cheguei cedo demais.” — Olhava o relógio no pulso.

Ao redor, eram poucos os carros estacionados, evidenciando o estabelecimento quase vazio. Calmamente desembarcou, e caminhou rumo às escadas rolantes. Chegando ao segundo andar teve uma vontade estranha: tomar picolé.

“Tem uma máquina lá no térreo.” — Mais uma olhada no relógio que marcava 23h35. — “Acho que dá tempo”.

Naquele horário, o térreo era a rota de saída de todas as pessoas que usaram ou estiveram no shopping até o seu fechamento. Poucos transitavam ali quando ele chegou ao equipamento. Colocou a nota de U$1,00 e escolheu o sabor. Antes de apertar o botão, a voz lhe disse:

— Você gosta de picolé de limão?

Ao virar-se, a surpresa: Rafaela. Mas foi surpresa mesmo. Ele levou uns instantes para que o cérebro processasse o reconhecimento e depois respondesse:

— Rafaela? — Tá! Não foi uma resposta, foi uma pergunta, mas tinha um porque: — Sem o uniforme você fica tão… linda.

Nem percebeu o que tinha falado.

— Acho que foi um elogio, não foi? — E lhe sorriu. — Obrigada!

O cabelo cumprido, tinha duas finas tranças laterais que se prendiam perto da nuca. Os brincos e pingente de ouro, formavam um discreto conjunto. Ela vestia um tubinho preto de botões brancos, com suave decote. Na cintura um fino cinto branco. As belas pernas terminavam em um par de sapatos pretos e brilhosos com adereços prateados em suas pontas. A maquiagem leve, realçava a beleza da garota.

— Foi sim! Desculpe meus modos. É que você está… surpreendente. — Ele apertou o botão e pegou o picolé, só então perguntou: — O que faz aqui a essa hora?

Ela ficou séria para responder:

— Eu… — Fez uma pausa, como se tivesse dificuldade: — …vim para um encontro.

Nogueira olhou a garota, interpretando a informação.

— É melhor que eu a deixe antes que seu encontro apareça e isso crie um desconforto. Com licença. — E saiu caminhando.

Nem ela sabe porque o fez, mas:

— Nogueira! — Ela deu alguns passos na direção do rapaz. — Ele… não vem. Bem, ele não veio. Eu estava aqui passando o tempo para depois falar mentir sobre o sucesso do encontro.

Ele voltou até ela, pouco curioso:

— Mas o que aconteceu?

— Não sei responder. Nem nos meus últimos encontros. Neste, ao menos, nem nos vimos. Nos outros, a frustração do encontro acontecer e não dar em nada, foi bem pior. Confesso que ser policial e ter que tomar muito cuidado com o que falo e faço, gera uma dificuldade extra.

O rapaz chupava o picolé, quando Rafaela sentou em um dos banquinhos que fica ao logo dos corredores. Ele a acompanhou. Foi aquela proximidade que possibilitou que a garota o observasse com um pouco mais de detalhe: cabelo bem cortado; grandes olhos negros; lábios grossos e carnudos; ombros largos sob uma camisa estampada com as mangas dobradas; cintura pouco estreita sob uma calça vinho, segura por um cinto de couro; sapatos marrons avermelhados combinando com o cinto.

“Diferente” — Ela pensou, mas havia certa resistência. — “Ele é negro”.

Só que, naquele negro, algo aguçava a curiosidade da garota.

— Nem sei o que lhe dizer, não sou muito bom com essas coisas, Rafaela.

— Por isso o seu amigo te dá “dicas”?

— Sim.

— E conseguiu falar com ele?

— Ainda não. Ontem, talvez eu o acompanhasse em uma festa. Me disse que era certeza que pegaríamos muitas garotas. Mas aí aconteceu tudo aquilo. — Se referia à briga e à delegacia.

— Lamento, Nogueira!

— Não por isso. São coisas da vida. Foi bom porque, agora, te conheço um pouco mais. — Sorriu cordial.

— Obrigada!

— Por nada! — Nogueira olhou para o relógio se levantando. — Bem, eu preciso ir.

— Oh! Certo! — ela fez uma pausa também se levantando — E o que veio fazer aqui? Não vai me dizer que saiu da sua casa para comprar um picolé de limão.

Ambos riram.

— Não. Vim para o cinema. Adoro assistir nesse último horário e, se não for agora, não consigo comprar um baldão de pipocas e o suco. — Ele jogou o palito de picolé na lixeira próxima.

— Ah! Entendi.

Pegando o dinheiro na carteira ia se despedindo:

— Bom, vou ness… — E ao olha-la ali, tão sozinha, teve uma ideia: — Não sei se é um programa que te agrada mas… você quer assistir ao filme comigo?

— Não vou incomodar?

— Acho que não. — e riu.

Mas pensou em comprar um segundo balde de pipocas, só por garantia.

— Então… eu vou. — Rafaela relutava com a ideia, mas não entendia porque consentia.

Subiram a escada rolante, compraram mais um ingresso, “dois” baldes de pipoca, os sucos e foram para a sala. Estava completamente vazia, apenas os dois.

— Onde prefere se sentar?

E ela caminhou à frente, subindo as escadas. Vindo atrás, Nogueira, discretamente, olhava o balançar dos quadris largos da garota. Então ela parou:

— Aqui! — Ela apontou para as duas cadeiras bem ao canto da última fileira.

Nogueira olhou para trás constantando:

— Mas a tela não fica muito boa daqui.

Rafaela ficou olhando para ele por um tempo. Talvez descrente do que ouvira.

— Eu prefiro. Só desta vez.

— Tudo bem!

Ela se acomodou na cadeira junto à parede e Nogueira ao seu lado. Logo o filme começou. Era um drama onde um rapaz com transtorno, tentava se curar, mas os médicos não conseguiam ajuda-lo, então uma religiosa o avisa de que algo o acompanha e sempre está ao seu lado.

Isso foi o que Nogueira entendeu do filme, pois Rafaela parecia nem estar ali. Assim que a película se iniciou ela sentiu um cheiro adocicado, muito agradável e, puxando pelo olfato, chegou ao braço do rapaz.

“Mas que fragrância é essa?”

Ali na poltrona, sendo iluminada pela claridade da tela, Rafaela passou a ter sensações não condizentes com sua postura normal.

Então ela pediu:

— Sinto um pouco de frio. Posso me encostar em seu braço?

Sem olhar para ela, ele respondeu:

— Ah… tudo bem.

E ele continuou assistindo e comendo sua pipoca, aguardando que ela se encostasse, mas o que sentiu foi uma pressão em torno de seu bíceps, pois a garota o agarrou com força. Aquilo o fez olhar para o teto, tentando descobrir se o condicionador de ar, ao menos, estava ligado.

“Nem está tão frio assim.” — Ponderou Nogueira

E seguiu novamente a linha do filme. Ao seu lado, Rafaela, levemente apalpava o músculo do rapaz, como se o medisse. Além disso, cheirava-o e sentia a textura da pele.

“O que que está acontecendo comigo? Meu Deus!”

Minuto após minuto, toque após toque, os seus preconceitos sucumbiam aos seus desejos. Arrepios a tomaram, seus mamilos enrijeceram e, na penumbra da sala de cinema, ela se tocou entre as pernas. Sentindo que aquilo era insuficiente, lentamente puxou a mão de Nogueira e a estacionou sobre sua parte íntima. Ela suava, e respirava ofegante, quando a grande mão negra segurou a parte interna de sua coxa. Rafaela sentiu seu tendão de sua coxa tremer diante do toque, o que a fez sacudir violentamente no assento. Quando o tremor cessou, ela olhou para o lado, e ele a olhava fixamente.

— Sobre esse seu encontro que falhou, tem algo a me dizer?

Pouco ôfega, ela respondeu:

— Eu o queria para sexo casual, só pegação mesmo.

Ele ficou olhando para ele durante uns instantes até dizer:

— Sexo casual. Só isso?

— Eu sou mulher, Nogueira. Também tenho minhas necessidades.

Ele pensou por mais alguns instantes:

— Tudo bem! Vem cá! — E Rafaela rodopiou sobre Nogueira, sentando com as pernas abertas sobre o seu colo. — Mas apenas sex…

O beijo, sedento por fogo e paixão, o calou. Ela suspendeu o vestido tubinho, pegou as mãos do rapaz e colocou sobre suas nádegas. Com um puxão na parte frontal, os botões romperam, e ela colocou as mãos do rapaz sobre seus seios expostos.

— Deixa eu te mostr…

Mas foi calada quando a língua de Nogueira invadiu a sua boca em um beijo, forte, quente, molhado. No mesmo instante em que ele já decia as mãos e apalpava suas coxas e nádegas. A garota sentia a pressão dos lábios carnudos lhe sugando, o calor do corpo, a fragrância suave, a possessão por um macho. Para uma garota, que estava a tanto tempo sem sexo, aquele momento era uma válvula, mesmo que tivesse indo contra regras internas familiares.

— Vamos parar! Vamos parar! — Ela pediu.

— Você está bem?

Ela o olhou pouco séria. Sentia o coração pulsar forte:

— Não! Eu não estou bem.

— Quer ir para algum lugar?

— Me leva pra algum lugar onde você possa acabar comigo.

— Mas você não está se sentindo mal, está? — Ele estava preocupado.

Rafaela meneou a cabeça negativamente e, ao se levantar, um fio de melado se conectava do meio de sua calcinha, até uma grande mancha na calça de Nogueira.

— Vamos? — Ela pediu mais uma vez.

Saíram caminhando, de volta para o estacionamento. Dentro do Comodoro, a garota se sentiu estranha, como se suas convicções novamente a dominassem, e metros à frente lhe pediu:

— Nogueira, pare o carro naquele ponto de taxi.

— Aquele ali?

— Sim! Aquele ali.

Ele estacionou o carro e lhe perguntava:

— Se estiver se sentindo mal, eu poss…

Mas nem terminou a frase. Ela desceu rápida e batendo a porta, sem sequer olhar para trás. Quase fugida.

Só então respondeu a Marcos:

— É… uns problemas familiares. — Mentiu.

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