A mãe e o pai já dormiam fazia algum tempo. O irmão ainda estava trabalhando. Ele
chegava por volta de 2h da madrugada. Por isso não havia testemunhas das
lágrimas de Firela. Deitada em sua cama, vestida com seu pijama com estampa de
notas de dólar, ela chorava copiosamente, se esforçando para segurar os gemidos
e os soluços. Não era a primeira vez que acontecia e o motivo era o mesmo:
—
Pedro…
Ela
sussurrou com dificuldade por entre os dentes de um queixo trêmulo. No peito, a
dor era como a de uma punhalada.
— Por… por que?
Mas
Firela sabia bem a causa do pranto e do sofrimento. Foram momentos de paz, e certa
tranquilidade, que viveu nos braços do rapaz. A confiança, o apoio, a atenção.
Nunca conseguiu encontrar tantas virtudes em uma só pessoa. Claro que ele não
era perfeito, mas o ponto mais imperfeito de Pedro era nada mais que um gatilho
para disparar uma inquietude em Firela. Não era algo que propriamente o
denegrisse, mas a incomodava e a agitava de forma incontrolável. Foi numa
conversa com uma amiga, que ela se confidenciou, ouvindo algo que só agora lhe fazia
sentido:
“— Eu acho que começo a entender algumas
coisas sobre relacionamentos.”
“— E o que a levou a essa conclusão,
Soraia?”
“— Ora, estamos noivos, esqueceu?”
“— Não, claro que não me esqueci.”
“— Sabe, Firela. Como eu sou de opinião
forte e o Roberto também, alguém tinha que ceder.”
“— Mas isso é uma coisa pouco óbvia.”
“— Até aí sim. Mas, diante de algumas
situações, é necessário escolher entre, ter a razão ou ser feliz. As duas
coisas não dá.”
“— Você? Me dizendo isso? Logo você que
massacrou tantos homens em seus relacionamentos?”
“— Vou resumir para você: ou eu mantinha
a razão ou eu casava. — Soraia sorriu olhando para o anel de brilhante em seu
dedo. — Não dá pra ter tudo dentro de uma relação.”
Firela enxugava as lágrimas e voltava a si, tentando organizar os pensamentos e o seu coração.
“Se a Soraia conseguiu, eu também posso.”
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